Duas vitórias. É este o sumo da prestação da selecção de Montserrat nas provas internacionais. Curiosamente, foram as duas na mesma semana, no glorioso ano de 1995. Pela primeira e única vez, esta selecção conseguiu ultrapassar uma eliminatória de uma prova oficial, a Taça das Caraíbas. No caso, a vítima foi Anguilla, derrotada em casa por 1-0 e fora por 3-2. A partir daí, o vazio, com 16 derrotas consecutivas, uma marca ainda em vigor e passível de ser aumentada.
Na conversa com o MaisFutebol, o seleccionador de Montserrat não deu muita importância às vitórias em campo. Houve outras mais importantes: «Tivemos vários momentos históricos. Quando nos tornamos membros da FIFA em 1996, quando jogámos o primeiro jogo de qualificação para um Mundial e quando o Wayne Dyer marcou em Trindade o nosso primeiro golo num apuramento para um Mundial». Cecil Lake fala do confronto frente à República Dominicana, no arranque da qualificação para o Mundial da Coreia do Sul e Japão, o primeiro em que Montserrat tentou participar.
Aquando do torneio alemão, em 2006, o país voltou a mobilizar-se para apoiar a equipa. O estádio Blakes, único na ilha, não estava ainda acabado e Montserrat jogou os dois jogos fora de portas, na Bermuda. 13-0 e 7-0 foram os números da eliminatória. A caminhada para África do Sul foi ainda mais curta. Um só jogo, perdido com o Suriname por 7-1, afastou Montserrat da prova.
«Nós não somos a pior selecção do mundo»
Não se podia falar de Montserrat sem abordar o mais mediático dos jogos que esta selecção disputou. Em 2002, o realizador holandês Johan Kramer resolveu criar os «Razzies» do futebol. No dia em que Alemanha e Brasil disputavam o ceptro mundial, Kramer conseguiu reunir em campo Butão e Montserrat, os dois últimos colocados do ranking da FIFA. O jogo ficou conhecido como «A outra final» e Montserrat perdeu 4-0.
Na baliza estava Cecil Lake, que desvaloriza de imediato o resultado: «Nós não somos a pior selecção do mundo. Jogar «A outra final» deu-nos visibilidade. De repente toda a gente falava de nós, ficámos quase famosos». Aliás, para o agora treinador o resultado é enganador. «Fomos prejudicados, porque como o Butão estava à nossa frente no ranking jogou em casa. Demorámos seis dias a chegar lá, com escalas em Antigua, Amesterdão, Banguecoque e Calcutá. Quando chegámos ao Butão ainda fizemos mais quilómetros até ao local do jogo. Depois alguns jogadores não se deram bem com a altitude [n.d.a. Timfu, local do jogo, fica a 2500 metros de altura] e convém não esquecer que o nosso treinador se tinha despedido dias antes da viagem. Mas todos gostámos da experiência, importante é participar», lembra Cecil Lake.
E para simbolizar o espírito que rodeou todo o jogo, no final a taça foi literalmente dividida a meio.
É à luz de lembranças gloriosas como esta que Montserrat quer reerguer o seu futebol. «O futuro só pode ser risonho. Temos de ter esperança e fixarmo-nos naquilo que acreditamos. Lembrar todas as coisas positivas e caminhar, passo a passo, para sermos capazes de ter uma equipa de topo que consiga passar a primeira fase de qualificação para o Mundial e, a partir daí, sonhar. Isto vai requerer muito dinheiro que, nesta altura, não temos. E depois, claro, requer tempo, interesse e dedicação», lembra Cecil Lake.
Veja o «trailer» de «A outra final»: