Detesta perder, lida mal com o insucesso. É capaz de ficar até duas noites sem dormir. Nada que se compare, porém, ao drama do início de carreira. Nessa fase, com pouco mais de 30 anos, o treinador Miguel Leal podia perfeitamente passar um dia inteiro a chorar, depois de perder um jogo.

É contra o período de transferências de janeiro e não se considera o técnico-revelação da Liga. Doutorado em Psicologia, transporta para o balneário a paixão e conhecimentos sobre essa área tão específica.

Tudo para ler na entrevista do treinador do Moreirense ao Maisfutebol.

Perdeu vários atletas no mês de janeiro. De que forma olha para a possibilidade de contratar/perder jogadores a meio da época ?
«A existência dessa janela de transferências não faz qualquer sentido. No final do mês de outubro os plantéis têm de estar fechados. Da forma atual, as equipas não lutam com as mesmas armas, pois os mais fortes podem mexer à vontade. Sei que é apetecível essa abertura do mercado, mas isso interessa a todos menos aos treinadores. É mau, interrompe processos e prejudica o nosso trabalho».

O Miguel é candidato a treinador-revelação da Liga ?
«Nunca pensei nisso. Há algum prémio para isso (risos)? Não faço ideia. Procuro dar o máximo em tudo o que faço. E procuro obrigar as pessoas pessoas que me acompanham a fazer o mesmo. Tento envolver todos numa ideia coletiva e na tomada de decisões. Por exemplo, chamo os capitães e pergunto: ‘o que é que vocês acham disto?’ Eu já sei a resposta, claro, mas procuro trazê-los para o meu lado. Procuro superar-me e exijo o mesmo aos meus atletas. Quando isso não acontece posso dizer-vos que fico mesmo muito triste».

Lida mal com a derrota ?
«Sim, com a derrota e a falta de vontade. Detesto a incompetência. Nos primeiros anos da minha carreira era terrível. Quando perdia, era capaz de ficar um dia inteiro a chorar. Na altura ainda namorava com a minha mulher… ela nem se aproximava. Ficava um dia inteiro em casa. Agora fico só uma ou duas noites sem dormir (risos). Mas quando ganho é a mesma coisa. É um sentimento muito forte. Mas, enfim, provoco muita dor em mim quando as coisas não correm como quero».


«90 por cento do que nos acontece depende de nós. Por isso não vale a pena procurar desculpas. Faço sentir isso aos meus jogadores. A maior parte das minhas palestras incide neste tipo de lógica. Falo mais do estilo de vida ganhador do que de táticas».

Considera a componente emocional tão importante como a tática?
«Tem um lugar muito importante. Na nossa equipa tem. Dou grande atenção a isso. Muita. Todas as semanas dou uma palestra sobre questões desse género: controlo das emoções, formação de objetivos, atitudes de sucesso, funcionamento do cérebro, inconsciente, dor…»

É doutorado em Psicologia. Esse interesse surge depois de já estar no futebol ou já era uma paixão anterior ?
«Já vem muito de trás. Foi sempre uma área que me interessou muito. Fiz a minh tese de doutoramento quase toda na Turquia. Estava sozinho e aproveitei assim os tempos livres. Até tive um grande contratempo. Assaltaram-me a casa e roubaram-me tudo, o trabalho todo. Tinha o material no computador e num disco externo, mas nessa noite deixei as coisas pousadas no mesmo sítio. Mas lá falei com o meu orientador e tudo se resolveu. Quando voltei da Turquia estive meio ano sem fazer nada e agarrei nisso».

Em várias entrevistas os seus jogadores referem-se a si da mesma forma: organizado e exigente. Concorda com esse perfil?
«Quem não me conhece, olha para mim e acha que eu não sou exigente. Mas sou, sou muito. Não sou é de andar de pistola na mão e aos gritos. Sei que a forma como abordo o dia a dia obriga os atletas a dar sempre o máximo. Se eles dizem isso de mim… ótimo».

O que é, então, um bom treinador de futebol?
«O treinador deve ser um ideólogo com capacidade para se adaptar às características do plantel. Os princípios gerais devem prevalecer. Eu tenho a minha ideia de jogo, clara, só que todos os anos eu tenho um grupo diferente à minha disposição e por isso devo adaptar-me. Como é que posso aproveitar as características destes jogadores para aquilo que eu pretendo? No fundo, junto o meu ponto de vista ao tipo de plantel que tenho. Uma equipa bem treinada é uma equipa que ganha».

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