José Mourinho voltou a manifestar a intenção de a longo prazo regressar a Portugal para treinar a Selecção Nacional fixando, para já, o prazo em quinze anos. Mas trata-se apenas de uma ambição longínqua, uma vez que se assumisse o lugar de Carlos Queiroz de imediato, garante, seria um «homem infeliz». O treinador do Inter Milão falou perante uma plateia de alunos da Faculdade de Motricidade Humana onde, esta tarde, vai ser distinguido com o Grau Doutor de «Honoris Causa».
«Não sou um saudosista, não digo que não estou bem lá fora. Para mim, Portugal espera-me a velhice e treinar a selecção. Se treinasse uma selecção agora iria ser um homem infeliz, porque não tem a pressão do dia a dia, porque não implica treinos diários e os jogos todas as semanas. Se tiver tanta sorte na projecção da minha carreira como até hoje, prevejo mais quinze anos lá fora e depois regressar para treinar a selecção.»
A faculdade foi determinante na sua carreira de treinador?
«A faculdade transformou o Zé Mário [como Mourinho era tratado nos tempos de estudante], mas mesmo sem faculdade seria sempre um treinador de futebol, quase de certeza um treinador bastante bom. Mas o treinador que está aqui hoje, com títulos, com currículo, deve-o em parte à faculdade. Para chegar onde cheguei, sem a faculdade não o conseguiria. Ajudou-me a pensar, a analisar, a pesquisar».
Acredita que será possível ver uma mulher a treinar ao mais alto nível
«O mundo está em permanente transformação. Podia ser simpático, mas nunca foi essa a minha postura perante o mundo. É muito difícil. O mundo está em transformação, a mulher está posicionada no mundo de forma diferente, mas no futebol continua a haver determinado tipo de barreiras.
Ainda ontem tive uma juíza auxiliar num jogo importante do campeonato italiano. A senhora fez um trabalho fantástico, mas os comentários existem. Se quisermos comparar um bocadinho, dou-te um exemplo. Não fui um grande jogador de futebol. Como treinador ganhei mais do que quase todos os treinadores que foram grandes jogadores. Nos momentos bons a boca está calada. Nos momentos menos bons é o único modo de conseguirem espetar o alfinete é dizerem: não foi um grande jogador de futebol. Com as mulheres acontecerá sempre isso. Se a senhora falha, falha porque é senhora, porque fisicamente não tem a mesma aptidão, porque não tem a mesma capacidade de decisão.»
«Uma mulher treinador: eu acredito na capacidade de estudar, de atingir determinados níveis em todos essa factores, não vejo por que não. Agora penso que, se no meio de vós existe alguma que tem esse sonho, deve ir atrás dele como eu fui. Mas é como eu, por não ter sido jogador. Tens que ser melhor treinador ainda.»