Moussa Marega vai reforçar o FC Porto a par de José Sá. A dupla transferência foi oficializada nesta segunda-feira, após a derrota do Marítimo no Estádio do Dragão (1-0). O guarda-redes ficou no banco, enquanto o avançado jogou de início e pediu para sair devido queixas físicas.

Nelo Vingada lamentou a saída de Marega na primeira metade do jogo com o FC Porto. O capítulo final de uma história com episódios distintos ao serviço da formação insular.

O avançado de 24 anos marcou 15 golos em 34 jogos, demonstrando um potencial tremendo. Balançou as redes frente aos dragões na época passada, nas meias finais da Taça da Liga (2-1) e voltou a fazê-lo na presente temporada, igualmente para a Taça da Liga, em pleno Dragão (1-3).

Nascido em Les Ulis, arredores de Paris, o jogador representa a seleção do Mali. Este é o resumo de um percurso marcado por dificuldades que ajudam a explicar um feitio complexo, a necessitar de maturação.

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Ivo Vieira treinou Marega nos últimos meses e confirma esse cenário. «Ele pode não ter tido a formação necessária, veio de clubes mais pequenos em França e chegou como um diamante por lapidar. Teve e tem de evoluir em vários capítulos, inclusive a formação humana.»

O técnico madeirense acredita que tudo será diferente no FC Porto: «Quando se ganha algum estatuto numa equipa como o Marítimo, isso pode influenciar. Porém, agora estará num plano de igualdade. Mas não vou esconder que houve comportamentos individuais de Marega e outros jogadores enquanto eu era treinador.»

«Penso que no caso do Marega isso se explica pelo desejo de outra vida. Lutou muito para chegar ali e queria sair. Nos últimos dois ou três meses já esteve melhor, foi completamente diferente, e acredito que manterá essa postura no FC Porto. Agora vai comer o que lhe dão, não é ele e mais dez. É diferente ser um Casillas e chegar ao FC Porto ou ser um jogador que vem do Marítimo eque  tem de provar o que vale», remata Ivo Vieira, em entrevista ao Maisfutebol.



José Peseiro terá de lidar com a personalidade forte de Moussa Marega e passará a contar com uma alternativa interessante para o seu processo ofensivo. O internacional maliano chegou ao Marítimo como ponta-de-lança mas não tem tendência natural para essa posição.

«Ele vinha como ponta-de-lança mas procurava outros espaços e acabava por fugir da baliza. Ou seja, era o movimento contrário ao que fazia sentido. Trabalhámos isso e começou a jogar a partir de um flanco, onde é muito forte, sobretudo em contra-ataque», analisa Ivo Vieira.

O antigo treinador do Marítimo considera que Marega pode render mais num 4x2x3x1 (curiosamente, o esquema utilizado por Peseiro no domingo) ou até no 4x4x2 que o novo técnico do FC Porto privilegiou em vários momentos da carreira.

«Marega rendia na posição que ocupava no Marítimo e pode render igualmente num 4x2x3x1 ou num 4x4x2 como homem mais móvel. É muito forte, tem enorme capacidade nas penetrações e nas diagonais mas precisa de espaço. Ou seja, agora terá se adaptar a um ataque continuado, com menos espaços, e terá de fazer um jogo mais cerebral», avisa Ivo Vieira.

Tudo começou na escola de Henry, Evra ou Martial

Moussa Marega tem 24 anos e chegou ao profissionalismo em 2013/14, quando assinou pelo Amiens. Curiosamente, a equipa disputava por essa altura o CFA, o terceiro escalão do futebol de França. Em duas épocas, o avançado chega a um grande de Portugal.

Filho de uma família numerosa de Les Ulis, com raízes malianas, o reforço portista começou a jogar num clube local com forte tradição na formação de jogadores.

Na sede do Club Omnisports des Ulis estão as camisolas de craques como Thierry Henry, Patrice Evra ou Anthony Martial. A próxima será de Marega com as cores do FC Porto.

Aziz Benaaddane, que trabalha na formação do clube francês, recorda o início da história do avançado. «Conheço bem a sua família, boas pessoas, mas uma família grande, com muitos irmãos e algumas dificuldades. Isso, naturalmente, fez com que o Moussa tivesse de lutar muito para ser feliz. Começou tarde e esteve aqui três anos antes de ir para o Evry FC», explica, em conversa com o Maisfutebol.

Anthony Martial, protagonista de uma transferência milionária do AS Mónaco para o Manchester United, é mais novo que Moussa Marega e não se cruzou com o jogador que atua em Portugal. Porém, o franco-maliano cresceu a par de outro Martial.

«O Moussa é da equipa de 1991, onde estava igualmente o Johan Martial, irmão do Anthony. O Johan é defesa e está agora no Troyes. Mas quem se destacava mais dessa equipa era mesmo o Moussa, que já demonstrava um grande poder físico e marcava muitos golos. Arrancou tarde, fez um percurso difícil, foi subindo no futebol francês, passou pela Tunísia e não me surpreende o sucesso que está a ter em Portugal», diz Aziz Benaaddane.



Aziz sabe que o FC Porto tem reputação de clube com grandes transferências para outros emblemas da Europa e admite que o Club Omnisports des Ulis encara essa possibilidade com grandes expectativas. «Isso veremos mais à frente. Para já, o próximo passo é ter uma camisola do Moussa Marega no FC Porto para colocar na nossa sede, até porque há muitos portugueses por aqui.»

«Estamos muito felizes por ele e pela sua família. Penso que o pai faleceu há um par de anos mas deu a ele e aos irmãos uma boa educação. Um dos irmãos mais velhos, o Houssein, também joga futebol, no Sainte-Geneviève, mas a estrela é claramente o Moussa. Vai ter sucesso no FC Porto», remata Aziz Benaaddane.

Moussa Marega saiu do Club Omnisports des Ulis para jogar no Evry FC. Seguiram-se Le Poiré-sur-Vie e Amiens, sempre nos escalões inferiores de França. Por lá cruzou-se com um luso-francês que joga atualmente no Santa Clara.

«Já era nessa altura um jogador que trabalhava muito, quer a defender, quer a atacar. Poderoso, atlético, rápido e com boa técnica. Não me surpreende chegar ao FC Porto, mesmo que tenha subido demasiado rápido. Tem qualidade para isso. É verdade que tem personalidade forte, quer dentro de campo, quer fora dele, mas não teve quaisquer problemas disciplinares no Amiens», garante Cédric Sanches ao Maisfutebol.

O avançado rumou em 2014 ao Esperánce de Tunis mas não foi feliz na Tunísia. Aliás, nem chegou a jogar devido a questões administrativas. Em outubro de 2015, a FIFA condenou o clube tunisino a pagar 488 mil euros a Moussa Marega pela quebra unilateral do contrato. Por esta altura o jogador já brilhava com intensidade em Portugal. Depois do Marítimo, segue-se o FC Porto.