«O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer», Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane.

Quando algo gigante está para cair, uma multidão junta-se para assistir. É um espetáculo grandioso. Pelo estrondo que faz, pelo pó que levanta do chão. Pela beleza da destruição, cruel. Sábado, 12h45, e o mundo do futebol em suspenso…Joga hoje o Manchester United, a «mais fantástica experiência de vida» de sir Alex Ferguson, pesadelo de David Moyes, que tem a equipa a 12 pontos da liderança. O bar está cheio!

«O último jogo do United foi penoso», diz-me um cliente red devil. «O golo deles foi aos 86 e não me lembro de haver tanta gente a deixar o estádio tão cedo, antes do apito final. Inimaginável nos tempos de sir Alex»

Há 21 anos que o Everton não vencia em Old Trafford. O Everton, ex-equipa de Moyes. Roberto Martínez fez numa partida aquilo que Moyes não conseguiu em 11 anos à frente dos toffees. O escocês herdeiro de Ferguson teve sempre essa crítica à perna, de não conseguir bater fora os grandes do país. É claro que vencer em Old Trafford é algo de gigantesco para qualquer equipa. Mas em 11 anos, o Chelsea não foi este Chelsea sempre, o Arsenal muito menos. O Liverpool nem se fala. Houve ocasiões, Moyes nunca as conseguiu aproveitar. O que pode dizer alguma coisa sobre o escocês.

«Este é um clube de futebol fantástico. Não há melhor clube do que este no mundo. Os Milans, as Juventus, os Reais Madrids, os Barcelonas e os Bayerns de Muniques são os emblemas estelares do mundo, mas o Manchester United está de pé ao lado deles.»

Enquanto debatemos o caso ao balcão, recordamos aquela frase de Ferguson à BBC no dia em que se despediu de Old Trafford, já quando recolhia ao balneário da casa pela última vez. Quando se foi embora, Ferguson sabia que o que tinha construído era colossal.



«Gostava de lembrar-vos que, quando passámos maus momentos aqui, o clube apoiou-me, todo o meu staff me apoiou, os jogadores apoiaram-me. A vossa tarefa agora é apoiar o novo treinador.»

Também nos lembrámos que Fergie disse isto, no discurso de despedida em pleno relvado. Um discurso que trazia o futuro nele. Moyes pode ter o apoio de todo o clube, mas primeiro tem de perceber que clube é esse.

«Porque o Manchester United não é o Everton. Não pode ser gerido como o Everton. O United não olha para Leighton Baines quer e…não compra; não vê Ozil mudar-se para o Arsenal e fica de braços cruzados. Pior, não responde com… Fellaini!!??? O Manchester United não vê o barulhento vizinho do lado com uma equipa jovem, bonita e saudável e acha que pode continuar com a vida», atira o meu companheiro de conversa ao balcão.

«Um gigante como o Manchester United gere-se com demonstrações de força sucessivas. No mercado, na academia e consequentemente no campo. Se o City é campeão, compra-se Van Persie ao Arsenal. Ponto!»

«É preciso agir rápido porque Moyes não tem o tempo que Ferguson teve em 1986. Simplesmente não se desabitua os adeptos do sucesso de um momento para o outro. A maneira mais fácil é ir ao mercado em janeiro. Comprar bem, com estrondo. Marco Reus?», interroga-se, enquanto eu próprio faço listas de possíveis reforços na cabeça.

Este sábado, o United recebe o Newcastle. Um jogo com simbolismo. Em 1996, o ManUtd chegou a janeiro com 12 pontos de atraso do líder. O Newcastle, precisamente. Em maio, acabou campeão. «Não coloquem já o Manchester United fora da corrida», avisou Mourinho depois de quarta-feira. Duvido que a história se repita.

Mas a Liga dos Campeões está a cinco pontos de distância. Seria um fracasso total se o United ficasse de fora. Por isso, para que Moyes não seja um Bruce Rioch (não sabe quem é? Ora aí está) do United, e enquanto o mercado está fechado, convém começar por aquilo que Moyes pode fazer já. Lembrar aos jogadores o que eles são. «Vocês sabem a qualidade que têm, sabem a camisola que vestem, o que significa para toda a gente aqui e nunca se desiludam. A expectativa existe sempre», atirou sir Alex na despedida.

Concluo: «Moyes é o treinador do Manchester United! E, no fundo, tem de começar a comportar-se como tal. Pode ser que assim, fique toda a gente para os descontos, pode ser que assim o United não falhe o quarto lugar, o último que o deixa entre os Milans, as Juventus, os Reais Madrids, os Barcelonas e os Bayerns de Muniques.»

«O meu pub em Hammersmith» é um espaço fictício e de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter