*Enviado-especial ao Brasil

E ao 13º jogo o Mundial parou para bocejar. O empate de Curitiba, entre um Irão compacto e disciplinado e uma Nigéria atlética, mas com pouquíssima lucidez, foi, mais do que o primeiro 0-0, o primeiro jogo francamente aborrecido desde que a festa começou, na quinta-feira.

Com dois nomes ligados ao futebol português – Carlos Queiroz e o guarda-redes titular Haghighi, que nesta época fez 11 jogos pelo Sp. Covilhã, na II Liga – o Irão, com mais de meia equipa a jogar no seu campeonato, assumia com gosto o papel de «outsider». Tanto nas palavras de Queiroz, na véspera, como na organização em campo, o favoritismo foi todo entregue a uma Nigéria, cujo onze estava recheado de jogadores que atuam em campeonatos de topo. Por isso, Queiroz, o único português a não sair maltratado desta primeira jornada de Mundial, pode festejar este resultado como bem mais do que um meio sucesso.

Apesar de organizações táticas semelhantes, com 4x3x3 como base, o previsível confronto de estilos confirmou-se nuns primeiros 10 minutos em que as acelerações nigerianas ameaçaram engolir a organização defensiva do Irão. Um golo invalidado por carga de Obi Mikel sobre Haghighi e uma situação de duplo sufoco, em remates de Onazi e Emenike que passaram perto do golo deram a falsa sensação de que o jogo ia ficar rapidamente pintado de verde.

Uma paragem para ser prestada assistência ao enérgico Onazi quebrou o ritmo aos africanos e, um pouco à imagem das equipas portuguesas dos anos 80, o Irão começou a pôr o jogo em banho maria, com trocas de passes que, se não chegaram para entrar na área de Enyema, serviram pelo menos para pôr a Nigéria a duvidar de si mesma.

Com Reza Ghoochannejad – que a partir de agora fica só Reza, por questões de economia – muito inteligente no papel de pivot ofensivo, e com Nekounam e especialmente Andranik a roubarem um número impressionante de bolas a meio-campo, o Irão foi conseguindo aquilo que Queiroz pretendia: controlar o jogo, mesmo tendo muito menos a bola do que o seu adversário - 36/64 na primeira parte).

Como é frequente nestas situações, a Nigéria começou a irritar-se com um domínio estéril e a cometer erros. Um deles, aos 33 minutos, poderia ter sido fatal: no único canto conquistado pelo Irão na primeira parte, Dejagah cobrou ao primeiro poste e Reza (viram como deu jeito?) cabeceou para uma defesa notável de Enyeama. Foi o único remate iraniano em toda a primeira parte, e também a melhor ocasião até aí – na verdade, o único lance que poderia ter dado outro fôlego ao jogo e evitado a vaia com que os adeptos brasileiros despediram as duas equipas ao intervalo.

Os primeiros minutos da segunda parte confirmaram duas coisas: a primeira, que o Irão ganhava confiança. A segunda, que Obi Mikel estava muito longe de justificar o estatuto de patrão do meio-campo de uma Nigéria confusa. Impaciente, Stephen Keshi trocou preferiu mais músculo às acelerações e substituiu Moses por Ameobi, ficando com duas referências na área mas sem alimentadores que levassem a bola até lá com qualidade.

Do outro lado, seguindo o mantra enunciado por Queiroz, os iranianos usavam cada duelo ganho como fator de motivação – e com mais critério nas saídas rápidas, até poderiam ter tirado partido de dois ou três contra-ataques que ficaram pelo esboço. Com o público brasileiro a entreter os tempos mortos, com cânticos a puxar pela rivalidade local, entre o Atlético Paranaense e o Coritiba, o momento mais espectacular aconteceu aos 82 minutos, quando Odemwingie esteve a centímetros de marcar um golo soberbo – tão soberbo que o equatoriano Carlos Vera achou que o lance não pertencia àquele filme e decidiu anulá-lo por uma mão inexistente.

Foi uma das últimas oportunidades para resgatar o jogo ao esquecimento imediato. O nulo, lógico e previsível desde o meio da primeira parte, foi amplamente festejado pelos iranianos, lamentado pela Nigéria, e certamente apreciado por Argentina e Bósnia Herzegovina que, a avaliar por este jogo, vêem confirmado o estatuto de favoritos para os lugares de apuramento.