O dia 18 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Um jogo só termina depois dos descontos após os 90 ou, em caso de eliminatória no prolongamento, nos 120. Até aos 80 e muitos, a ideia dominante do duelo de Fortaleza parecia ser o êxito da estratégia mexicana e o falhanço da Holanda. Mas, em poucos minutos, tudo mudou. Snejder, em dia de recorde (passou a ser o holandês com mais jogos em Mundiais, 15), fez o 1-1, Robben «inventou» o 2-1, com aquela arrancada travada por Marquez. Proença viu bem, era penálti, e Huntelaar não perdoou. A tese do «falhanço europeu» lá tinha mais uma prova em contrário: a Holanda virava e deixava o México para trás. Miguel Herrera voltou a ter os seus méritos, montou um México difícil, coeso, com coração enorme e, ao mesmo tempo, a jogar com cabecinha. Herrra, o portista, fez enorme primeira parte, esteve perto de marcar. O México ameaçava, impedia a Holanda de fazer aquele jogo apoiado nas saídas rápidas de Robben e Snejder. Giovani dos Santos, já na segunda parte, assinou belo momento, fez o 1-0, consolidou o sonho mexicano. As coisas estavam bem complicadas para a Holanda, mas no banco estava um selecionador astuto, que sabe mesmo muito de futebol. Van Gaal soube mudar, tirou Van Persie e lançou Huntelaar, a Holanda terminou o jogo em cima, o empate estava à vista. Quando Snejder o assinou, aos 88, os holandeses estavam tão por cima que se mantiveram, nos minutos finais, em atitude que parecia de quem estava a evitar uma derrota. 2-1, golo de Huntelaar, Holanda nos quartos. Perante o adversário que o espera, é forte candidata a estar, também, nas meias.

2. Depois de dois excelentes trabalhos no Camarões-Croácia e no Japão-Colômbia, Pedro Proença tinha no Holanda-México uma forte hipótese de se candidatar à final (agora que Portugal já não se encontra no torneio). Mas o jogo não lhe foi nada fácil. Houve dois lances de muito relevo na primeira parte, ambos com Robben a cair na área mexicana. No primeiro, o árbitro português terá feito bem em deixar seguir; no segundo, em lance que termina com a lesão de Hector Moreno, Robben cai na área e devia ter sido assinalada grande penalidade. Quanto ao penálti que dá o triunfo à Holanda nos descontos, Rafa Marquez parece mesmo derrubar Robben, pelo que dessa vez Proença decidiu bem. Em jogo muito marcado pelo calor (30 graus, com perto de 70% de humidade), o árbitro português fez bem em decretar duas «cooling breaks» para os jogadores beberem água, algo a que, claramente, não estamos habituados a ver em partidas de futebol a este nível. Não terá sido o adeus de Pedro Proença a este Mundial. Mas o sonho da final pode ter ficado mais distante. 

3. Equilíbrio levado ao extremo no Costa Rica-Grécia. Decisão nos penalties. Grécia de novo com coração enorme, a empatar nos descontos, mas depois sem conseguir aproveitar superioridade numérica, no prolongamento. Costa Rica com estrelinha, mas também o mérito de não falhar um único penálti. A primeira parte foi, como se esperava, equilibrada. Rapidamente se perceberam as características das equipas: Costa Rica mais criadora, a procurar o perigo; a Grécia na expetativa, a arriscar menos. Mas perante a incapacidade costa-riquenha de criar situações, os gregos foram crescendo no jogo. O último quarto de hora da primeira parte teve domínio helénico, com Karagounis quase, quase a fazer o primeiro. A Grécia até entrou melhor no segundo tempo, mas foi a Costa Rica a fazer o golo, com Ruiz a aproveitar a primeira falha do setor defensivo helénico. Os gregos tremeram, podiam ter levado o segundo, mas Fernando Santos soube mexer, lançou Mitroglou, o ataque dava sinais de vida. E deu ainda mais depois da expulsão, por acumulação, de Duarte. A Grécia tinha meia hora para evitar a eliminação. Entrou Gekas, saiu Salpingidis, os gregos passaram a ter dois homens de área para tentar tudo. E deu mesmo para o 1-1, já nos descontos, em mais uma prova do coração enorme desta equipa de Fernando Santos. No prolongamento quase só deu Grécia. Os helénicos queriam evitar os penálties, os costa-riquenhos queriam arrastar a decisão para esse momento dramático. E percebeu-se porquê...

4. O emocionante (e mesmo «impróprio para cardíacos») Brasil-Chile de ontem merece análise um pouco mais distanciada. A pergunta é: pode este Brasil chegar ao título a jogar tão pouco? O futebol do escrete não convence, Fred não se assume como o goleador que um dos principais candidatos ao título precisaria, Neymar não pode resolver sempre. E depois Oscar, supostamente o segundo brasileiro mais dotado tecnicamente, muito desaparecido, a passar ao lado do jogo brasileiro. Hulk a cometer falhas, a querer fazer a diferença, mas com a pontaria desafinada, até no penálti. Este Brasil tem qualidade, claro que tem, mas precisava de mais soluções, de planos B e C ao «esquema obrigatório» que levou Felipão ao êxito na Confederações. E há alguns «cisnes negros» a enfrentar para o escaldante duelo com a Colômbia: Neymar, com problema na coxa, deve poder jogar, mas poderá não estar a 100%... como encontrar alternativas que façam a diferença? É nestes momentos que faz sentido questionar a opção de Scolari de ter deixado de fora Lucas Moura, que poderia oferecer novas vias para a criatividade do jogo brasileiro. Mais tempo de utilização para Bernard? É possível. No meio-campo, o castigo a Luiz Gustavo deverá abrir espaço à titularidade de Ramires. Falta saber se Felipão se «reconcilia» com Paulinho ou mantém Fernandinho, que não esteve tão bem com o Chile como se apresentou com os Camarões. Há alguma coisa a mexer no escrete: mas ainda não é claro o que poderá ser, em concreto. Que jogaço em perspetiva, o Brasil-Colômbia!

5. A narrativa segundo a qual o Brasil-14 está destinado a ser «uma Copa América em versão alargada» está longe de ser verdadeira. De resto, os jogos desta segunda-feira podem bem confirmar que as seleções europeias têm ainda muito a dizer nesta fantástica prova. A Alemanha, para muitos a principal candidata ao título, parte com enorme favoritismo sobre a Argélia, embora dentro do campo o duelo talvez não venha a ser tão desequilibrado como nas casas de apostas. Slimani e amigos têm oportunidade única de entrar para a história e vão, no mínimo, forçar os germânicos a chegarem a nível mais próximo da goleada a Portugal no primeiro jogo (4-0) e não às dificuldades que a equipa de Low, de forma um pouco inesperada, experimentou frente ao Gana (2-2) e aos EUA (1-0, com os americanos perto de empatar o jogo no final). No outro jogo do dia, mais um caso de claro favoritismo europeu sobre uma das duas exceções africanas nos oitavos: a Nigéria. Talvez ainda maior supremacia francesa sobre os nigerianos, se comparada com o Alemanha-Argélia, a avaliar pelos dois primeiros jogos da turma gaulesa. França-Alemanha, duelo mais do que provável nos quartos, com meia-final escaldante em perspetiva: Brasil ou Colômbia a defrontar franceses ou alemães (caso ambos confirmem credenciais esta segunda). Isto promete, promete…

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MFTotal. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.