*Enviado-especial ao Brasil

A nau portuguesa atascou à primeira. Em Salvador da Bahia, que durante largos anos foi a segunda cidade do império português, a seleção nacional não conseguiu começar a construir um belo castelo para este Mundial. Antes, viveu uma tarde de embaraço, com erros próprios e mérito alheio que deixam, agora, a margem de erro nula. Portugal vai em busca de seis pontos em seis possíveis. Não dá para falhar.

A tarde de Salvador é para esquecer, com coisas demais a correrem mal. Ficará o resultado para a vergonha histórica: 4-0. Nunca Portugal tinha sido goleado assim num Mundial.

Se, à partida, já se saberia que derrotar a Alemanha seria hercúleo (Portugal não vence desde 2000), a boa réplica dada no Euro 2012 alimentava a esperança de um enredo semelhante com final diferente.

O calor brasileiro, que se colocou do lado português contra a armada germânica, tentou, desde o início empurrar o onze de Paulo Bento. Mas não houve pernas para os alemães, que raramente falham nestas alturas. Afinal, só por uma vez, em 1982, perderam o jogo de abertura do Mundial.

Paulo Bento manteve-se fiel aos seus princípios e apostou no meio-campo que tem sido o seu, guardando William Carvalho para outras pelejas. No ataque lançou Hugo Almeida, mas a aposta saiu furada, com a lesão do avançado já com a equipa em desvantagem.

É que Portugal sofreu cedo e talvez tenha sido esse o principal problema. Ou, pelo menos, um deles. O pénalti de João Pereira sobre Gotze não será o mais nítido da história do futebol, mas parece, de facto, existir. A dúvida é se seria marcado na outra área já que, no segundo tempo, Éder também foi derrubado e aí Milorad Mazic mandou seguir.

Indiferente, Muller não falhou e Portugal tinha de ir atrás do prejuízo antes do primeiro quarto-de-hora. Um rombo na estratégia de contra-ataque, claro.

Pepe perde a cabeça e aumenta a depressão

Mas o desastre português só começou a ganhar, verdadeiramente, contornos preocupantes a partir da meia hora. Antes, o melhor lance de ataque de Portugal tinha sido um remate forte de Nani, por cima. Pouco, claro.

Paulo Bento pedia à equipa para subir, mas o meio-campo não tinha forças para o tridente Lahm-Kroos-Khedira. A lesão de Hugo Almeida acabava por ser apenas um pormenor. Havia preocupações bem maiores.

Desde logo o 2-0, por Hummels, após canto, no primeiro erro de Pepe no jogo. Este de abordagem. Estaria pior, pouco depois.

Com Portugal mais perto do golo do que nunca, primeiro num lance em que Coentrão tentou oferecer o golo a Ronaldo, depois num cabeceamento de Éder por cima, o central português cometeu o maior dos pecados.

Merece, por isso, um parágrafo só para si. O que Pepe fez, depois de um toque involuntário na face de Muller, é de amador. É imperdoável em qualquer altura, mas ainda mais na fase final de um Mundial e com um resultado que já era delicado. Terá de repensar a atitude certamente.

Lesão de Coentrão preocupa tanto como o resultado

A partir daqui a vitória alemã, que já se vinha a desenhar desde o pénalti, ficou a parecer certa. Haveria força para minimizar o estrago, pelo menos?

Não houve. Muller fez o 3-0 em cima do intervalo, ganhando um ressalto a Bruno Alves na área. Na segunda parte, Fábio Coentrão lesionou-se com aparente gravidade e Portugal, nem por Ronaldo, nem por Nani criava lances para dar algum ânimo aos portugueses das bancadas.

Com Portugal descompensado, a Alemanha teve várias oportunidades para chegar ao quarto e chegou mesmo, com Muller a completar o hat-trick, num lance em que Rui Patrício, por duas vezes, poderia ter feito melhor. O guarda-redes português não sai incólume de Salvador.

O remédio agora é lamber as feridas, recuperar a nau e levá-la, com as condições mínimas, até Manaus. Será na Amazónia, frente aos EUA, que Portugal jogará o futuro neste Mundial. A margem de erro, essa, já voou. 

Para a Alemanha fica uma certidão de qualidade: temos candidato.