A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Daniel Blumrosen Juárez 
Parceiro oficial no México: El Universal 
Revisão: Filipe Caetano


Profundamente marcado pela influência do treinador argentino Ricardo La Volte, o selecionador Miguel Herrera usa o 5x3x2, no qual os médios ofensivos e os laterais são elementos essenciais. Não é comum fazer grandes alterações, mas se necessário o técnico mexicano pode apostar no 4x4x2 ou mudar o meio-campo.

A necessidade de vencer o play-off de apuramento à Nova Zelândia (o que conseguiu com um resultado agregado de 9-3) forçou «El Piojo» a usar jogadores que atuam em clubes mexicanos e essa aposta vai continuar no Brasil. Alguns deles poderão aproveitar a oportunidade para mudar de emprego, transferindo-se para outros países no final do Mundial.

Apesar de nos últimos anos ter ficado mais equilibrado, Herrera é um treinador com mentalidade ofensiva. Gosta que a sua equipa tenha controlo da bola e ataque constantemente. A postura em campo dos seus médios é crucial, através da conquista da bola para depois envolverem os jogadores mais ofensivos e os extremos.

O único jogo da primeira fase em que Herrera pode mudar o seu esquema tático, mas não o onze, é contra o Brasil. Sabendo que o adversário vai atacar deste o primeiro minuto é provável que inverta o triângulo no meio-campo. Carlos Peña será essencial e o seu trabalho será mais defensivo, ao lado do médio centro, que poderá ser o portista Hector Herrera ou Juan Carlos Medina. Luis Montes ficará com as tarefas mais ofensivas.

Frente aos Camarões, logo no primeiro jogo a 13 de junho, e frente à Croácia a 23 de junho, Herrera vai manter o natural 5x3x2, onde Rafael Márquez é outra peça insubstituível. Rafa prepara-se para jogar o quarto Campeonato do Mundo e embora seja menos rápido do que no passado (tem 35 anos), o ex-jogador do Barcelona assumirá a última linha defensiva. Diego Reyes e Héctor Moreno terão a tarefa de marcar diretamente os avançados adversários.

José de Jesús Corona deverá ser o guarda-redes titular, depois de ter ajudado o México a conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, mas Guillermo Ochoa joga em França e muitos consideram-no o melhor jogador do Ajaccio. Herrera ainda tem de tomar essa decisão.

Os três defesa-centrais serão Márquez, Moreno e Reyes. Francisco Javier Rodriguez só terá alguma hipótese de entrar no onze se algum destes se lesionar ou for castigado. Paul Aguilar é o lateral-direito e a surpresa poderá surgir na outra ala, mas o veterano Carlos Salcido tem vantagem sobre Miguel Layún e Andrés  Guardado devido à sua experiência. Será o terceiro Mundial do ex-jogador do PSV Eindhoven e do Fulham.

Hector Herrera, que foi aposta regular no FC Porto na última temporada, parte com vantagem para ocupar o centro do meio-campo. Peña e Montes (ambos do Club León) ocuparão o meio-campo, enquanto o primeiro tem a obrigação de ajudar no miolo e o segundo ficará mais liberto.

O ataque é a zona do terreno onde o treinador tem mais dúvidas. Oribe Peralta é o único com lugar assegurado, enquanto Javier Hernández e Giovanni dos Santos vão lutar pela outra vaga. Chicharito garante maior presença na zona de grande penalidade, mas se Dos Santos for o escolhido Peralta passa a ser a referência e o jogador do Villarreal terá de criar jogo com a sua inteligência, habilidade e poder de remate.

Atualmente, poucas equipas no mundo jogam com cinco defesas, mas Herrera está completamente identificado com o esquema e dificilmente mudará. A única forma de usar quatro jogadores nessa zona é perante a necessidade desesperada de marcar golos.

Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?
Carlos Peña começou a jogar com regularidade no León há menos de dois anos e tornou-se num dos jogadores mexicanos mais valorizados. Chamam-lhe «El Gullit» devido ao estilo de cabelo similar a Ruud Gullit. Mede 1,73m, mas é muito dotado e possui grandes atributos físicos, jogando normalmente no meio-campo, tanto ao centro como nas alas. Tem bom remate fora da área, bom jogo aéreo e é muito criativo no último terço, onde aparece de surpresa com alguma frequência. Aos 24 anos é um jogador muito cobiçado por vários clubes locais, especialmente pelo Guadalajara, um dos mais populares no México, mas o León prefere tentar negociar com um clube europeu depois do Mundial.

E que jogador pode desiludir as pessoas no torneio?
Javier Hernández é o terceiro na lista de melhores marcadores de todos os tempos na seleção do México, com 34 golos, mas não teve uma boa época no Manchester United. Muito provavelmente deverá ser relegado para o banco de suplentes no início do campeonato pois tem pouco tempo para convencer nos amigáveis que falta disputar. Se não se destacar no Brasil é provável que a sua presença no Manchester United seja questionada. O último golo pela «El Tri», aliás, foi em junho de 2013, frente ao Japão na Taça das Confederações.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Após uma qualificação desastrosa – possivelmente a pior de sempre e só salva nos play-off – ultrapassar a fase de grupos já será um bom resultado para Miguel Herrera. Foi isso que o México fez em cinco campeonatos mundiais consecutivos, mas desta vez será uma grande conquista disputar um quarto jogo. O desafio com o Brasil é obviamente o mais complicado, pelo que derrotar os Camarões na primeira jornada surge como essencial para o México defrontar a Croácia com alguma esperança de apuramento. Penso que, no final das contas, vão conseguir seguir em frente. A seleção não perde o jogo de abertura num Mundial desde os Estados Unidos 1994 (três vitórias e um empate) e desta vez têm mesmo de ganhar. Defrontar a Holanda ou a Espanha na segunda fase será muito complicado e o Chile também não será adversário fácil, pelo que estar nos últimos 16 será o limite normal para o México.



Curiosidades e segredos da seleção

Paul Aguilar
Em criança a sua paixão era o basquetebol, devido à influência deste desporto em Sinaloa, a região da qual é natural. Começou tarde no futebol e considerou abandonar a carreira depois de elementos da sua família terem morrido num acidente de viação. Foi o seu pai, Nicolas, que lhe pediu para manter o sonho vivo, pelo que todos os seus sucessos, inclusivamente a conquista da Gold Cup da Concacaf em 2011, são dedicados à família.

Carlos Salcido
Até se tornar profissional de futebol aos 20 anos tentou por três vezes passar a fronteira para os Estados Unidos ilegalmente e foi sempre deportado. Carlos ficou sem mãe aos nove anos e teve uma adolescência conturbada. Antes de ser descoberto pelo Chivas trabalhou numa casa de ferragens, numa oficina e lavou carros. Um dia aceitou o desafio de um amigo para integrar uma equipa amadora (com nome falso) e teve a sorte de ter sido observado por um olheiro do Chivas, mudando o seu destino.

Rafael Márquez
A primeira vez que foi convocado para a seleção, em 1997, foi um mero acidente. O selecionador Bora Milutinovic tinha chamado César Márquez, do Atlas Club, mas um erro de impressão levou ao surgimento do nome de Rafael. Claro que o treinador queria mandar o jogador embora, mas acabou por deixá-lo treinar e isso foi suficiente para Rafa. 17 anos e 118 internacionalizações depois continua por lá e vai para o quarto Mundial.

Miguel Layún
Foi contratado pelo América em 2010 depois de ter sido o primeiro jogador mexicano a jogar em Itália (pela Atalanta). Cometeu vários erros que viriam a custar alguns dissabores à sua equipa, o que levou os adeptos a reagir nas redes sociais, onde criaram a hashtag #TodoesculpadeLayún. As críticas eram tão fortes e regulares que Layún teve de recorrer a um psicólogo para conseguir ultrapassar a situação, mas hoje é um dos jogadores favoritos em Las Aquilas, tendo mesmo lançado uma linha de roupa com o nome «Todo es culpa de Layún».

Isaac Brizuela
Pouco depois da sua estreia na primeira divisão, pelo Toluca, Brizuela foi convidado a representar a seleção dos Estados Unidos. Nascido em Sacramento, na Califórnia, depois dos seus pais terem emigrado em busca de uma vida melhor, Isaac regressou ao México quando tinha dois anos de idade. O seu sonho foi sempre representar o México, por isso declinou o três convites americanos e foi internacional pela primeira em 2013.

Perfil de uma figura da seleção: Oribe Peralta



Nascido em La Partida, perto da cidade de Torreon, o jogador do Santos Laguna cedo aprendeu a lidar com a adversidade. O objetivo foi sempre ser jogador profissional de futebol, embora só tenha começado a jogar numa equipa organizada na adolescência. O pai trabalhava numa fábrica de hastes de metal e ganhava apenas para sustentar a família. Oribe era o mais velho de quatro irmãos. 
 
As suas qualidades, descobertas tardiamente, levaram-no a entrar no Centro Sinergia de Futebol (CESIFUT) em Lerdo, Durango. O pai tinha a certeza que ele chegaria à primeira divisão, mas a mãe não queria que ele abandonasse os estudos. Terminou a ensino básico e quando estava no secundário deslumbrou a equipa técnica da seleção sub-17.

Nessa altura já tinha recuperado de uma fratura na tíbia e fíbula que o afastou dos relvados durante um ano. «Foi um período muito difícil, pensei que nunca mais ia jogar», confessou o rapaz que comia tortillas e batatas com chili para ganhar força. Foi o maior desafio da sua vida.

Adepto do Santos Laguna, tentou várias vezes entrar no clube, mas nunca foi bem sucedido nos testes. A sua chegada à primeira divisão aconteceu em 2002 no Morelia, onde foi treinado pelo argentino Rubén Omar Romano durante apenas dois meses, até que assinou pelo León. Um ano depois já estava no Monterrey e estreava-se pela seleção de Ricardo La Volpe contra a Argentina. Chamavam-lhe o Ronaldo mexicano, mas nos cinco anos seguintes não conseguiu convencer e foi perdendo oportunidades.

A melhor época acabaria por surgir em 2010, aos 26 anos, quando regressou ao Santos Laguna após um período de empréstimo ao Jaguares de Chiapas. Peralta conseguiu finalmente estabilizar o seu jogo e tornou-se numa grande estrela do clube e do país. Foi um dos três jogadores mais velhos a integrar a seleção sub-23 que marcou presença nos Jogos Olímpicos de 2012 e tornou-se na estrela da equipa apontando os dois golos da vitória sobre o Brasil (2-1) na final de Wembley.