*Enviado-especial ao Brasil

Suarez, claro

Ser estrela é isto: deixar o Mundial em suspenso com um joga-não-joga de vários dias, e depois resolver um jogo de tudo ou nada, perante os mesmos adeptos que, Liverpool excluído, adoram odiá-lo todos os dias do ano. Notável a frieza de matador profissional em duas das três situações de golo que teve: na primeira, a cabeçada teve precisão cirúrgica, na segunda, o remate de pé direito levava a certeza dos iluminados que têm uma missão a cumprir. Saiu, aparentemente com cãimbras, para ter o estádio a gritar o seu nome (no caso dos uruguaios) e a vaiá-lo de cima a baixo (os ingleses). E é disso mesmo que ele gosta.

Rooney
40 golos na seleção inglesa, mas apenas o primeiro em fases finais de Campeonato do Mundo. O enguiço já vem de trás, e manifestou-se em três grandes ocasiões desperdiçadas (10, 31 e 54 minutos). Teve o mérito de não desistir e conseguiu mesmo acabar com o feitiço, mas sem evitar que a equipa voltasse a morrer na praia. Enorme combatividade, mas uma noite amarga, que ficará sempre pontuada pela dúvida: como teria sido o jogo para a Inglaterra com um pouco mais de eficácia do seu lado?

Cavani e os outros
Se Suarez foi a estrela da companhia, é justo sublinhar o mérito de pelo menos três ajudantes de primeira linha. Cavani, que já tinha sido o melhor uruguaio frente à Costa Rica, teve uma primeira parte de altíssimo nível, pontuada com uma das grandes assistências deste Mundial e movimentações sempre venenosas. Lodeiro foi o médio de ligação com a dupla de avançados, e teve muito mérito na forma como o Uruguai ganhou o meio-campo durante os primeiros 60 minutos, bem auxiliados pela combatividade do veterano Arevalo Rios.

Gerrard
Perdeu a bola para Lodeiro no lance do 1-0, e tocou de cabeça para Suarez, no segundo golo. Dois azares marcantes, a juntar à escorregadela que, diante do Chelsea, desviou o Liverpool da rota de um título que parecia anunciado. A caminho da despedida dos grandes palcos internacionais, um dos grandes nomes do futebol internacional da última década merecia ter encontrado outra porta de saída.

Sangue fresco
É bem possível que a Inglaterra fique eliminada já amanhã, mas é justo sublinhar que a injeção de sangue fresco de nomes como Sterling, Welbeck e Barkley (além dos não utilizados Shaw e Oxlade-Chamberlain), bem como a boa forma de alguns consagrados, como Glen Johnson, tornaram esta seleção inglesa na mais interessante dos últimos anos. O futuro não é tão negro como sugere este desaire anunciado. E já que se fala em sangue novo, uma palavra para o central uruguaio Gimenez, que com 19 anos e somente 25 jogos profissionais como sénior (!) se bateu como um veterano diante de Sturridge e companhia.