«It’s coming home, it’s coming home… Football’s coming home.» A cada jogo que passa em Inglaterra entoa-se com mais vigor o sucesso musical da banda The Lighning Seeds, que fez sucesso aquando do Euro 96.

«That tackle by Moore; When Lineker scored; Bobby belting the ball; And Nobby dancing...», a letra é inspiradora e o ritmo é catchy, como um bom hit da Brit Pop, mas estes «Three Lions» são mais candidatos por terem garantido a metade fácil da chave no caminho para a final do que por estarem a fazer um Mundial de sonho.

Esta noite, em Moscovo, Harry Kane voltou a ser uma espécie de agente secreto em busca do golo. O ponta de lança fez o sexto golo do Mundial, é o melhor marcador da prova e conseguiu igualar um recorde com quase 80 anos: desde Tommy Lawton, em 1939, que ninguém marcava em seis jogos consecutivos pela seleção inglesa.

Desta vez foi de penálti, o terceiro neste Mundial convertido pelo capitão inglês, que conquistou o castigo máximo, aos 57’, num lance em que foi derrubado na área pelo imprevidente Carlos Sánchez – apesar do puxão inicial de Kane.

Orfã de James Rodríguez, que lesionado viu o jogo da tribuna, a Colômbia foi uma equipa com muita vontade mas pouco discernimento durante a maior parte do jogo.

Peckerman apostou num meio-campo sólido, soltando Cuadrado e Quintero para o apoio a Falcao. A ligação ao ataque, porém, fez-se raras vezes com critério e a iniciativa de jogo foi sobretudo de uma Inglaterra mais bem estruturada num 3-5-2, com Sterling no apoio a Kane na frente e Alli e Lingard no apoio.

O jogo foi quezilento, mal jogado durante boa parte do tempo. O golo de grande penalidade de Kane, a mais de meia-hora do final, demorou a espicaçar uma Colômbia que parecia demasiado curta lá na frente.

Colômbia-Inglaterra, 1-1 (3-4 gp): ficha e jogo ao minuto

Faltava James. O mesmo que dizer que faltava talento, visão de jogo, qualidade de passe, que desta vez não foi colmatada por Quintero, que esteve apagado e saiu quase em cima dos 90.

O clique sul-americano havia de dar-se momentos depois. Foi já sem o estratega em campo que esta seleção cheia de alma ganhou uma segunda vida neste Mundial. Já nos descontos, com um pontapé do meio da rua Muriel quase fez o golo do torneio. Valeu uma defesa do outro mundo de Pickford, que haveria de brilhar mais tarde. No lance seguinte, Mina voltou a voar e fez o empate de cabeça após um canto bem batido por Cuadrado – terceiro golo no torneio do central.

92 minutos e 34 segundos de jogo: hora do chá entornado e da festa cafetera. Mais meia-hora de futebol mostraria uma Colômbia mais fresca fisicamente e bem mais próxima da baliza adversária. Os ingleses reagiriam já nos momentos finais do prolongamento e estiveram perto do golo – tanto num remate cruzado de Rose, aos 113’, como num cabeceamento ao lado de Dier, aos 115’.

Tudo haveria de decidir-se nos penáltis, com Kane a abrir e Dier (ex-leão) a fechar, os três leões garantiram a sua fatia nos quartos do próximo sábado (15 horas), diante da Suécia. Menção para Pickford, que travou o penálti de Bacca, já depois de Uribe ter atirado à barra.

A maldição inglesa (que afetou até o próprio Southgate, culpado de falhar o penálti que eliminou a Inglaterra do Euro 96, em que foi anfitriã) terminaria esta noite, em Moscovo. Os penáltis, finalmente, deixaram de ser um castigo máximo para Inglaterra.

Depois de terem perdido em todas as decisões da marca dos 11 metros em Mundiais – 1990, 1998 e 2006, esta última com Portugal – os ingleses finalmente quebraram o enguiço diante da Colômbia.

Será um sinal de que «Football is coming home»?