Agora foi a seleção da Argentina a cerrar fileiras num momento desportivo delicado, quando fecha o ano fora do apuramento direto para o Mundial 2018, com voto de silêncio para fora. O regresso aos «black outs» que se tornaram famosos há uns anos também entre os clubes portugueses, mas que na verdade para o futebol já dão que falar há mais de 30 anos. Tudo começou também com uma outra seleção.

A expressão original é «Silenzio stampa». Celebrizou-a a Itália em 1982 e tudo começou em Braga. A «Squadra Azzurra» estava sedeada em Vigo na preparação para o Mundial de Espanha e agendou para 8 de junho um particular com o Sp. Braga, então orientado por Quinito. Venceu por 1-0 com um golo de Graziani, mas a exibição pouco convincente foi mais um argumento para alimentar as críticas em torno da seleção. Não foi só a imprensa. Ficou famoso o comentário do presidente da Federação italiana, Federico Sordillo: «A jogar assim vamos rapidamente para casa.»

A tensão vinha de trás, das exibições e resultados irregulares e das escolhas do selecionador Enzo Bearzot. Sobretudo a opção por Paolo Rossi, o avançado que tinha terminado apenas dois meses antes do Mundial de cumprir um castigo de quase dois anos por envolvimento no primeiro grande escândalo de resultados combinados do «calcio».

A resposta de Bearzot às críticas foi fechar o grupo, apenas o capitão Dino Zoff falava à imprensa. O início do Mundial não aliviou a tensão, a Itália empatou três vezes na fase de grupos mas apurou-se (só Portugal em 2016 repetiria a proeza). E depois a Itália e Rossi transfiguraram-se na segunda fase de grupos, com as vitórias sobre Argentina (2-1) e Brasil (3-2, nesse duelo mítico da memória dos Mundiais no Sarriá), e foi até ao fim. Campeã do mundo com Paolo Rossi como melhor marcador, depois do «hat trick» ao Brasil, dos dois golos na meia-final com a Polónia e mais um na final com a Alemanha.

Foi o «black out» mais famoso da história, mas longe de ser singular. O futebol português, sobretudo nos anos 90 mas também já neste século, perdeu a conta às vezes em que os clubes o usaram em momentos mais ou menos delicados. Caiu em desuso nos últimos anos, num tempo em que também a forma de os clubes e organizações desportivas comunicarem mudou, reduzindo ao mínimo os contactos com a comunicação social e substituindo-os pelos seus próprios canais.

A Argentina recuperou-o agora. A seguir à vitória frente à Colômbia, cinco dias depois do vexame frente ao Brasil, Messi liderou o grupo na sala de imprensa, todos os 25 jogadores, pegou no microfone e anunciou «a decisão de não falar à imprensa». Disse que a equipa aguentou «muitas faltas de respeito», mas que foi passada a fronteira da vida pessoal com as insinuações, numa rádio, de que Lavezzi teria fumado marijuana depois de um treino. O selecionador Edgardo Bauza diz que a decisão foi dos jogadores, mas tem o seu apoio.

Não é novidade, nem sequer na Argentina. Em 1998, lembrava nesta quarta-feira o jornal «Olé», já tinha acontecido algo muito semelhante. Na altura, durante o Mundial de França e também numa altura em que a Argentina estava debaixo de fogo, o porta-voz do grupo foi Diego Simeone, o agora treinador do Atlético Madrid.

Agora, esta tomada de posição da Argentina surge num cenário difícil para a «albiceleste». Mesmo depois da magia de Messi na vitória sobre a Colômbia nesta madrugada, a Argentina fecha o ano, a cinco jornadas de terminar a qualificação sul-americana para o Mundial 2018, em quinto lugar. Apuram-se diretamente para o Mundial os quatro primeiros classificados. O quinto terá de jogar um play-off com a seleção que terminar em primeiro na Oceânia.

Depressão argentina, euforia de um Brasil de recorde

A depressão argentina a fechar 2016 é proporcional ao entusiasmo do Brasil. Desde a chegada de Tite, o escrete conseguiu seis vitórias consecutivas na qualificação. Apenas por uma vez o Brasil tinha conseguido ganhar seis jogos seguidos num apuramento para o Campeonato do Mundo e foi na campanha para o «tri» de 1970, com a equipa de Pelé, Carlos Alberto, Tostão e companhia.

O Brasil, líder com 27 pontos e quatro pontos de vantagem sobre o Uruguai, já faz contas ao apuramento e estima que precisa de apenas um ponto no próximo jogo, em março frente ao Paraguai, para poder já festejar o apuramento. As contas são de Tite e baseiam-se no histórico de que 28 pontos chegaram sempre para a qualificação na zona sul-americana.

Classificação da zona sul-americana de qualificação para o Mundial

 

J

V

E

D

GM

GS

P

Brasil

12

8

3

1

28

9

27

Uruguai

12

7

2

3

24

11

23

Equador

12

6

2

4

22

16

20

Chile

12

6

2

4

21

17

20

Argentina

12

5

4

3

14

12

19

Colômbia

12

5

3

4

12

15

18

Paraguai

12

4

3

5

11

17

15

Peru

12

4

2

6

18

20

14

Bolívia

12

2

1

9

10

31

7

Venezuela

12

1

2

9

14

29

5