Sofrer até a fim. A sina de Portugal voltou a andar de mãos dadas com a equipa das quinas na jornada de encerramento do Grupo B. Os comandados de Fernando Santos conseguiram o apuramento para os oitavos de final do Mundial 2018 mas não conseguiram poupar, novamente, os corações dos portugueses a perigosas palpitações cardíacas.

A batalha de Saransk teve quase todos os condimentos presentes nos grandes jogos: sem futebol de primeira água, é certo, houve pelo menos drama e indecisão até ao fim e uma maravilha de Quaresma no golo de Portugal. Ao cair do pano, e mesmo depois de um penálti falhado por Cristiano Ronaldo, a equipa das quinas tinha não só o apuramento para a próxima fase da competição nas mãos, como até o primeiro lugar, até porque a Espanha perdia surpreendentemente com Marrocos à mesma hora.

Só que o tempo de compensação transformou-se, nos dois jogos, numa autêntica montanha-russa de emoções: a Espanha resgatou um ponto (2-2) depois de o VAR ter corrigido uma decisão tomada inicialmente pela equipa de arbitragem e o mesmo VAR descortinou um braço de Cédric na área portuguesa, que daria origem a uma grande penalidade convertida de forma exemplar por Karim Ansarifard.

Portugal acabou o jogo na corda-bamba, mas segurou-se lá em cima, agora com a espinhosa missão de defrontar o Uruguai (sábado às 19h00), que arrasou também nesta segunda-feira a anfitriã Rússia por expressivos 3-0 e fechou o Grupo A no primeiro lugar.

No outro jogo do grupo, os já condenados Egito e Arábia Saudita mediram forças pela redenção final. Venceu a Arábia (2-1), num jogo que, tal como os dois do grupo de Portugal, só foi decidido nos instantes finais.

O dia 12 do Rússia 2018 trouxe muito drama mas também recordes. O egípcio Essam El-Hadary tornou-se, aos 45 anos, no jogador mais velho a atuar num Mundial e bateu-se também o recorde de castigos máximos assinalados na prova. São já 20, mais dois do que o máximo atingido em qualquer outra prova. Desses, só quatro não terminaram no fundo das redes adversárias, dois deles nesta segunda-feira: Cristiano Ronaldo e Al Muwallad (Arábia Saudita) juntaram-se a Messi (Argentina), Christian Cueva (Peru).

Figura do dia - A obra de arte de Quaresma. O extremo português foi uma das surpresas reservadas por Fernando Santos para o onze inicial do jogo de Portugal com o Irão. Na estreia a titular neste Mundial, Quaresma forjou um dos momentos mais belos da competição ao cair do pano da primeira parte: tabelou com Adrien e já perto da área desferiu uma trivela que vajou a meia altura até entrar dentro da baliza junto ao poste mais distante. Sorte? Já provou que não: é marca de assinatura. Por poucos minutos, o golo do jogador de 34 anos não valeu a Portugal o primeiro lugar na fase de grupos. Mas, olhando para trás, acabou por valer a passagem aos oitavos de final. Ufa!

Frase do dia - «Estou habituado a ter o país contra mim.» O Irão de Carlos Queiroz esteve perto de protagonizar uma das maiores surpresas da fase de grupos do Mundial 2018. No jogo contra Portugal, a seleção asiática esteve a perder até à compensação, mas um penálti convertido deu-lhe fôlego para uns minutos finais de sofrimento elevadíssimo na Arena de Mordóvia. No final da dura batalha que acabou com Portugal apurado para os oitavos de final da competição, Queiroz, que teve duas passagem à frente da equipa das quinas, falou abertamente sobre as decisões da equipa de arbitragem no jogo: sem rodeios, defendeu que Cristiano Ronaldo deveria ter sido expulso e contestou a forma como o VAR foi utilizado. Um português contra Portugal, a estrada que a vida traçou para o experiente treinador, que não esqueceu a mágoa com que deixou a Seleção Nacional após o Mundial 2010 na África do Sul. «Já estou habituado a ser um homem contra a nação e não tenho problemas com isso. Depois da África do Sul, já estou habituado a ter o país contra mim e eu contra o país.»

Imagem do dia - A defesa de Essam El-Hadary. Quarenta e cinco anos, veterano das balizas e o mais veterano da história do mundiais a partir desta segunda-feira e sabe-se lá até quando. O adeus do Egito ao Mundial ficou escrito após as derrotas nos dois primeiros jogos do Grupo A e Essam El-Hadary entrou em cena para o último ato. Depois do Uruguai e da Rússia, a seleção africana tentava despedir-se de cabeça erguida diante da vizinha Arábia Saudita. Não conseguiu: depois de o inevitável Salah ter adiantado os faraós no marcador, a equipa de Pizzi consumou a cambalhota no marcador nos minutos finais da partida. No meio da mágoa ratificada pelos zero pontos que relegaram o Egito para o último lugar do Grupo A, a felicidade de Essam El-Hadary: por ter feito história quando entrou em campo e, depois, por ter mostrado que, apesar da provecta idade, ainda está para as curvas, ou não tivesse defendido uma grande penalidade nos minutos finais da primeira parte.