Agora faz mais sentido a frase que ouvi de um brasileiro sobre Saransk. «Vai para lá? Leve comida», atirou, enquanto falava com um grupo de portugueses.

Saransk pode ser uma cidade encantadora, pelo menos o centro tem ares disso, mas não deixa de parecer também uma cidade improvisada para este Mundial 2018.

A história já é conhecida. Vladimir Putin é muito amigo de Nikolai Merkushin, antigo governador da Mordovia e pai de Alexei Merkushin, o atual governador da região. Por isso Saransk passou à frente de escolhas óbvias como Krasnodar, por exemplo. O que revoltou boa parte do país.

Depois de se chegar a Saransk, percebe-se melhor a polémica.

É uma cidade construída de novo, à pressa e sem condições. Tem um terminal de aeroporto novinho em folha, que vai funcionar apenas durante o Mundial 2018 e que... não está ainda totalmente acabado. Por isso os autocarros de turismo, os carros, os táxis, não chegam lá.

Mas o pior é a falta de serviços.

Restaurantes, cafés, transportes, mas sobretudo hotéis. Foram construídas três novas unidades hoteleiras para este Campeonato do Mundo, é verdade, mas é manifestamente pouco.

Por isso este que vos escreve com tanto carinho está a dormir num hotel improvisado. O que é curioso é que é um hotel FIFA, o que significa que foi inspecionado e aprovado.

Basicamente é um prédio de onze andares que foi transformado em hotel. O hall de entrada é a receção e cada apartamento foi transformado numa espécie de quarto.

O meu, por exemplo, tem porta de alta segurança e intercomunicador para abrir a porta do prédio. Conforme entro tem um longo corredor, com quatro portas fechadas à chave, e ao fundo desse corredor tenho um quarto e uma casa de banho, essas sim, abertas.

Portanto o meu quarto é um T3 que vai fazer feliz a família que o comprar quando eu sair.

O pequeno almoço é servido num espaço ligeiramente depois do fim da rua, contornando o quarteirão, e tem vistas para o novo Arena Mordovia, onde Portugal vai jogar na segunda-feira.

Também tenho uma marquise, com vistas para outros bonitos prédios como este, que dentro de poucas horas ficarão tão apinhados de turistas como o Porto em noite de São João.

Quem quiser vir para Saransk, aliás, já sabe que não há quartos de hotel (nem sequer do género do meu) disponíveis. Por isso a solução é arrendar apartamentos. E há muita oferta, refira-se, gritada por russos gordos e magros, altos e baixos, homens e mulheres, logo que se sai do aeroporto.

Podia ser melhor? Podia, sim senhor. Mas um Mundial vale a pena de qualquer forma.

Até quando é improvisado.

«Czar ao jogo» é um espaço de opinião do editor Sérgio Pereira, enviado-especial do Maisfutebol ao Mundial 2018, na Rússia