Cinco minutos pode parecer uma eternidade, como o tempo de descontos num jogo de futebol; ou então o instante que dura a produzir um cachecol: aquele pedaço mágico de tecido que dá suprema cor às bancadas, que adeptos agitam em festa nas vitórias ou com o qual enxugam as lágrimas nas derrotas.

Em Vizela, produzem-se em série, com o selo oficial da FIFA. Numa sinuosa estrada da Rua da Indústria, na pequena cidade minhota, fica a 4 Teams, a empresa que faz os cachecóis oficiais do Rússia 2018, tal como aconteceu nas últimas três edições dos Campeonatos do Mundo de futebol.

Nesta unidade fabril, que emprega 84 funcionários, foram nos últimos meses feitos nada menos do que 300 mil cachecóis oficiais da FIFA. Um número impressionante, que ganha ainda mais dimensão se se acrescentarem ainda os 200 mil produzidos a pedido das diferentes federações.

Mais de meio milhão de cachecóis por conta do Mundial; um orgulho para Pedro Santos [na foto principal], dono da empresa, como o próprio salienta ao Maisfutebol: «De uma cidade muito pequena, num cantinho de Portugal, para o mundo inteiro! É um orgulho muito grande para mim e para os meus funcionários produzirmos o cachecol oficial deste e dos anteriores Campeonatos do Mundo, mas também do Europeu, da Liga dos Campeões, da Liga Europa…»

A ligação surgiu há uma dúzia de anos, como explica Pedro Santos: «Temos um cliente inglês que compra à FIFA e à UEFA as licenças das grandes competições e faz a distribuição. São licenças extremamente caras, na ordem das centenas de milhares de euros. Trabalhamos com eles há 12 anos porque temos qualidade, capacidade de produção, um preço simpático… Somos auditados muitas vezes ao longo ano pela UEFA ou pela FIFA (consoante a competição), em termos de recursos humanos, qualidade do produto, etc...»

Já com a máquina bem oleada, para o Mundial da Rússia o processo decorreu de forma faseada, prossegue o proprietário e administrador da 4Teams: «Começámos a negociação em junho do ano passado, em setembro fizemos amostras, que o nosso cliente fez chegar à FIFA para o “OK” final, comprámos as matérias-primas, começámos a produzir no início de janeiro e enviámos grande parte da encomenda em finais de abril.»

O cachecol sai da fábrica pronto para ser vendido. Do lote dos 300 mil com o selo oficial da FIFA, há quatro tipos diferentes: além do da competição e dos das 32 seleções, há os dedicados a cada um dos oito grupos e a cada um dos 48 jogos desta primeira fase. O volume de produção de cada modelo depende, naturalmente, da popularidade das seleções. No que toca a este adereço, a Alemanha também é campeã do mundo.

«Produzimos cachecóis para as 32 seleções, mas em quantidades muito diferentes. Para o Irão não fizemos mais do que 200 cachecóis oficiais. Para a Alemanha, que é a seleção que mais vende, fizemos de certeza uns 50 mil… Os europeus têm a tradição do cachecol. Hoje em dia é raro ver quem vá a um estádio sem o seu», explica o dono da empresa, que trabalha também diretamente com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e com congéneres europeias, como a francesa e a espanhola.

«Se os alemães são os campeões dos cachecóis, em que lugar fica Portugal?», perguntamos. E Pedro Santos tem a resposta na ponta da língua: «Fizemos uns 10 mil cachecóis oficiais do Mundial para a Seleção Nacional. No entanto, há também as encomendas da FPF… Ainda ontem recebi uma de mais 8 mil cachecóis! Termos sido campeões europeus mexeu muito com Portugal. Fico muito contente porque acho que o nosso sentimento patriota está a vir ao de cima.»

Recorde? 100 mil vendidos para uma final da Champions entre alemães

Para além do Mundial, a 4 Teams faz os cachecóis oficiais do Euro, da Liga dos Campeões e Liga Europa. Satisfaz encomendas desde gigantes do futebol europeu aos mais modestos clubes do futebol nacional e expande a sua área de negócio até emblemas mais ou menos desconhecidos de outros desportos – quando visitámos a fábrica estavam em produção centenas de artigos para uma equipa sueca de hóquei sobre o gelo.

Há sete tipos de cachecol: de uma face só ou duas, de materiais como o poliéster, para tempo quente, aos duplos de algodão para países frios. «O cachecol pode sair daqui a 1,30 euros até um pouco mais de três euros, mas numa loja na Alemanha, por exemplo, compram-no a mais de 20», explica Pedro Santos, que, entre todos, tem um preferido. «Há um clube que faz cachecóis espetaculares todos os anos: o Olympique de Lyon. São muito, muito bonitos. Esses grandes clubes têm departamentos que fazem o design e mandam-nos os desenhos, no entanto, trabalhamos também com muitos clubes mais pequenos, portugueses também, que vêm aqui e até nos pedem para dar algumas ideias.»

Se os do Lyon são bonitos, na quantidade, porém, o Bayern de Munique é imbatível, seguido de perto por outros clubes da Bundesliga: «Ninguém bate os alemães. São fortíssimos!» Diz quem produz cachecóis para os três grandes de Portugal, mas também para Real Madrid, Barcelona, Paris Saint-Germain, Marselha, Roma... A lista é infindável. 

Não é de estranhar, portanto, que o recorde de produção da 4 Teams para um só jogo tenha acontecido na final da Liga dos Campeões de 2012/13.

«O Bayern-Borussia Dortmund foi maior final em termos de vendas. Vendemos uns 100 mil cachecóis só desse jogo. E estou a contar só com os da final, com os emblemas dos dois clubes. Ainda fizemos muitos mais só do Bayern e outros só com o do Dortmund», conta o responsável, salientando que o único modelo problemático são os cachecóis com o emblema do clube e as inscrições de campeão, que, naturalmente, são produzidos antecipadamente para estarem à venda na hora da festa.

Há um prejuízo certo a cada final: «Nas decisões da Liga dos Campeões ou da Liga Europa, por exemplo, fazemos cachecóis com a inscrição de campeão para ambos os finalistas para serem postos à venda logo após o fim do jogo. O problema é que há uma equipa que vai perder. Esses são para queimar…», revela Pedro Santos, que ainda assim não se importa de correr esse risco neste Mundial, desde que Portugal esteja a 15 de julho no relvado do Estádio Luzhniki, em Moscovo, a discutir o título de campeão do mundo.