No restaurante a empregada aproxima-se da nossa mesa com uma garrafa de vodka e dois pratos de fruta laminada.

«É uma oferta», diz.

De quem?, perguntamos, até algo desconfiados.

«Daquele senhor que saiu agora mesmo.»

Um casal que estava numa mesa ao lado, e com quem não tínhamos trocado mais do que dois olhares, fez questão de nos pagar uma garrafa de vodka e dois pratos de fruta sem esperar por um obrigado.

Mas não foi caso único. Outro dia, por exemplo, enquanto viajo no metro, peço uma informação a um rapaz com uma t-shirt do Mundial. Preciso de saber onde sair e que comboio apanhar para chegar a Kratovo. Ele diz-me para o acompanhar, que sai na mesma estação onde eu tenho que sair. Pelo caminho pesquisa no smartphone. Passado um pouco explica o que estava a fazer.

«Eu tenho carro na última estação de metro e estava a ver se dava para te levar ao hotel. Mas é uma hora de viagem da minha casa até Kratovo», lamenta.

Respondo que não, nem pensar. Mas valeu pelo gesto.

A Rússia que conheci neste Mundial 2018 é muito isto: uma Rússia de gestos largos e amizade óbvia. Uma Rússia que não tem nada a ver com a ideia que temos dela.

Seja no senhor que nos oferece vodka, no jovem que pensa em me dar boleia até ao hotel, na idosa que me conduz à linha certa do comboio porque fala um bocadinho de italiano ou no engenheiro de tecnologias da informação que me acompanha até à estação de metro.

Seja até na família da classe alta, um pai e dois filhos, que encontro junto ao Teatro Bolshoi. Preciso de saber onde vai parar o táxi que chamei e o taxista não fala inglês.

«Deixe estar, vou ligar-lhe», diz o pai. Quando o táxi chega, despedem-se de sorriso nos lábios. «Good luck. And welcome to Russia», grita, enquanto corro para o carro.

É por isso que nesta altura, quando a aventura terminou e me preparo para regressar a casa, me vejo obrigado a sublinhar que foi um prazer conhecer esta Rússia. Sobretudo em Moscovo, onde encontrei um povo ansioso por receber bem o mundo e mostrar que este país não é tão desagradável como as pessoas o pintam.

Foi um prazer. Muito obrigado.

Do svidaniya, Russia.

«Czar ao jogo» é um espaço de opinião do editor Sérgio Pereira, enviado-especial do Maisfutebol ao Mundial 2018, na Rússia