Portugal inaugura esta sexta-feira uma nova fase da sua existência.
Pela primeira vez em muitos anos, não somos aquele país que podia ter sido. Não. Nós de facto somos aquele país que é: entramos em campo com a autoridade de sermos campeões europeus.
Chega de amargura e de pena, de vergonha e de medo, de piedade e de comiseração.
Portugal é um país vencedor e é nessa qualidade que entra em campo esta noite, pelas 19 horas, na tórrida cidade de Sochi, entre as montanhas do Cáucaso e o mar Negro.
Ser português deixou de ser, definitivamente, uma coisa difícil.
Ora por isso, pela soberania de um título conquistado com todo o mérito, Portugal ganhou o direito de gritar aqui d’el rei: de gritar que quer, pode e manda.
Para lá do discurso calculista de Fernando Santos ou dos jogadores, todos nós merecemos o direito de sonhar. Porque Portugal, de facto, pode. Pode, por exemplo, olhar a Espanha nos olhos e ambicionar ser melhor. Pode aspirar a grandes vitórias, pode desejar ser o melhor.
É a Espanha? Faça favor de entrar...
O caminho não é fácil, mas nunca o caminho que leva à glória é fácil.
Para estreia neste Mundial, nada menos nada mais do que a favorita Espanha. Uma equipa, como disse Fernando Santos e bem, que tem ideias trabalhadas há mais de dez anos, conceitos repetidos centenas de vezes, jogadores do mais fino talento: Iniesta, David Silva, Isco, Busquets, enfim.
O desafio é difícil, mas foi para isso que se fizeram as grandes vitórias: para serem constantemente colocadas à prova em exames que sentimos poder ultrapassar.
Nacho ou Carvajal à direita?
Dizem que a Espanha chega a este jogo insegura e hesitante, depois de uma troca inesperada no comando técnico. Mas convém não acreditar muito nisso. Fernando Santos não acredita, de resto.
O selecionador repetiu várias vezes que a Espanha tem um modelo de jogo consolidado há uma década e que não muda em dois dias, tal como de resto admitiu Fernando Hierro: vai aproveitar tudo o que foi feito ao longo dos últimos dois anos.
Por isso só terá mudado o rosto. O resto continua igual.
O onze espanhol, aliás, só terá uma dúvida: joga Carvajal, que só há dois dias começou a treinar sem limitações, após três semanas de paragem, ou joga Nacho, numa opção mais conservadora? Tudo indica que a opção de Hierro será a segunda, até porque Carvajal estará sem ritmo.
E tu, Portugal, atreves-te a ser tu mesmo?
Já o onze de Portugal mantém mais dúvidas. A começar no sistema tático: dois avançados (Guedes e Ronaldo) e quatro médios, ou apenas um avançado (Ronaldo) e mais um médio de transição (Adrien Silva), sacrificando-se provavelmente João Mário? E já agora, na esquerda joga mesmo João Mário ou aposta-se em Bruno Fernandes, que tão boa temporada fez em Alvalade?
Sabendo-se que Fernando Santos é um treinador conservador e avesso à mudança, podemos acreditar que vai jogar com dois avançados na frente e provavelmente João Mário na esquerda.
Mas isto são apenas suspeitas. Nada disto é seguro.
Seguro, sim, é que Portugal não é um poema em jeito de epopeia, mas também não é o azar que sempre amargurámos. Portugal tornou-se enfim a sorte com que sonhámos.
Por isso, e porque o mundo parece não estar convencido, façam o favor de ser épicos.
ONZES PROVÁVEIS
Portugal:
Outros convocados: Anthony Lopes, Beto, Ricardo Pereira, Bruno Alves, Rúben Dias, Mário Rui, Adrien Silva, Manuel Fernandes, Bruno Fernandes, Quaresma, Gelson Martins e André Silva.
Espanha:
Outros convocados: Pepe Reina, Kepa, Azpilicueta, Carvajal, Odriozola, Nacho Monreal, Saul Ñiguez, Thiago Alcântara, Lucas Vasquez, Asensio, Rodrigo e Iago Aspas.