A FIFA atribuiu nesta semana o contrato de instalação da tecnologia da linha de golo (GLT, do original em inglês «Goal-Line Technology») que vai ser utilizada no Campeonato do Mundo de Futebol de 2014, no Brasil. O recurso à tecnologia que elimina dúvidas se a bola passou ou não a linha de golo – tendo já sido experimentada pelo mais cotado árbitro português – irá ser feito pela quarta vez numa competição regida pelo organismo máximo do futebol mundial, chegando à prova mais importante de todas. A UEFA opõe-se, porém, ao recurso à tecnologia como assistente da arbitragem, não obstante o sucesso constatado por quem já beneficiou desta ferramenta.

O sistema GLT a utilizar no Mundial 2014 é o da empresa alemã GoalControl. Será também este o que, ainda antes do Campeonato do Mundo, será utilizado no próximo Mundial de Clubes – em dezembro deste ano – e que já foi utilizado pelo árbitro Pedro Proença na Taça das Confederações 2013 – em junho. «A experiência foi positiva», contou ao Maisfutebol o árbitro português.

O GoalControl-4D consiste num sistema de câmaras ligadas a computadores que captam a passagem total da bola pela linha de golo e que dão essa indicação de forma instantânea à equipa de arbitragem através de um relógio usado pelos seus elementos. O relógio é o criado pela GoalRef quando, em 2012, o Mundial de Clubes do Japão utilizou na cidade de Toyota o chip na bola que transmitia aos árbitros se aquela tinha passado a linha de golo, ou não – na cidade de Yokohama foi utilizado o sistema Hawkeye (que projeta em computador o percurso da bola); naquela que foi a estreia pela FIFA de recursos tecnológicos em competições.



O atual sistema é composto por 14 câmaras de televisão de alta velocidade colocadas no topo do estádio numa passadeira circundando o terreno de jogo: sete estão apontadas para uma baliza, sete estão apontadas para outra. As imagens – a uma velocidade de 500 frames por segundo – são enviadas para computadores que filtram todas as pessoas e objetos até a bola ser o único elemento presente no sistema; a três dimensões e enquadrada nas coordenadas do relvado. Quando a bola passa a linha de golo – com uma precisão que vai até aos 5 milímetros – o relógio que o árbitro usa recebe a indicação visual «GOAL» e vibra. Todas as imagens captadas ficam também armazenadas para posteriores repetições.

Pedro Proença aprovou GLT

Pedro Proença dirigiu dois jogos na Taça das Confederações (e foi quarto árbitro noutro) e afirmou ao Maisfutebol que este «passo na evolução tecnológica» consiste num «sistema muito confortável» para o trabalho das equipas de arbitragem, que deram um «feed-back muito positivo». O GoalControl «é muito fácil de utilizar enquanto árbitro» e «é mais uma ferramenta para organizar a arbitragem», assumiu Pedro Proença explicando que, «em situações de jogo concreto, não passa de mais um relógio que dá indicações».

O árbitro Howard Webb foi um dos porta-vozes daquele feed-back positivo após a competição referindo no site da FIFA que, apesar dos «muitos golos» que teve a Taça das Confederações, estes «foram todos claros» e o sistema não teve uma situação duvidosa para pô-lo à prova. Mas o inglês destacou que «o sistema proporciona aos árbitros um grande benefício», pois, «retira preocupações»: no desempate por penáltis entre a Espanha e a Itália «sabia-se que não haveria dúvidas se a bola teria ou não passado a linha de golo» porque «o sistema é totalmente fiável» e há «total confiança nele».

Pedro Proença, como todos os árbitros da Taça das Confederações, testou a tecnologia GLT «antes da própria competição e em situação de jogo normal». Mas, também ele, não teve golos duvidosos cuja indicação recebida no pulso fosse indispensável para decidir da sua validade. Em jogo não foi, assim, possível testar
até ao limite a infalibilidade tecnológica do GoalControl assumida «pela FIFA», mas «nos testes funcionou muito bem».

FIFA e UEFA divergem no «melhor caminho»

Se a FIFA aposta na tecnologia – a alargar ao vídeo – para as suas competições, da parte da UEFA a recusa em reforçar as equipas de arbitragem para além dos meios humanos é uma posição também assumida. O presidente da FIFA, Joseph Blatter, falava já no início do ano na «necessidade» da tecnologia vídeo para além da já utlizada GLT. O presidente da UEFA declarou em agosto que se «abriu a Caixa de Pandora». «Vamos passar a ter tecnlogia de fora de jogo, tecnologia de penálti, tecnologia de lançamento lateral, de tudo», afirmou Michel Platini dois meses depois da Taça das Confederações.

A UEFA não introduziu meios tecnológicos nas suas competições e colocou (mais dois) árbitros de baliza (um em cada lado do campo) na Liga dos Campeões e na Liga Europa. E assume que não é preciso um investimento tão «caro» como a GLT. Como recusa para o vídeo que já é utilizado em alguns desportos, Platini refere que os árbitros «já não estão a tomar decisões porque é preciso correr para um monitor e eles ficam à espera que a tecnologia decida».

Em junho, o secretário-geral da FIFA tinha assumido que «não se trata de substituir ninguém» quando se fala do GLT. «Não estamos a usar vídeo, estamos a usar tecnologia para saber se a bola entrou e isso é somente uma ajuda para o árbitro», garantiu Jérôme Valcke.

Pedro Proença analisa que «com esta alteração de paradigma», em que, atualmente, «o futebol é feito com escrutínio por parte da imagem» através das transmissões televisivas e inúmeras repetições, «o que se está a encontrar é o melhor caminho». O árbitro português analisa que «a UEFA vai mais pelo fator humano para poder aferir» e que «a FIFA não quer mais árbitros». Sem ceder «nem a uma tese nem a outra», o árbitro português prefere destacar que o debate agora existente consiga resultar na «convergência pela procura da verdade com um sistema único».