* com Maria Gomes de Andrade

Um dos 21 eleitos de Hélio Sousa para o Mundial sub-20, Janio Bikel é um perfeito desconhecido para a grande maioria dos portugueses. Nasceu na Guiné-Bissau e nunca passou pelo futebol português, mas agora é um dos jovens lusos que vai tentar conquistar o título mundial na Nova Zelândia.

Janio é um caso de ascensão rápida. E impressionante, também, se tivermos em conta as dificuldades que ultrapassou. Nascido na Guiné-Bissau, o médio começou a jogar na Academia Vitalaise. Aos 15 anos veio para a Europa, com a perspetiva de assinar por um clube espanhol, mas tal não se concretizou. Durante algum tempo limitou-se a jogar nas ruas de Massamá, onde passou alguns meses. Quatro anos depois está na equipa principal do Heerenveen e prepara-se para disputar o Mundial sub-20.

«É bom estar aqui. Se em 2011 me tivessem dito que hoje estaria nesta situação, não ia acreditar», assume o médio, agora com 19 anos, em conversa com o Maisfutebol. Janio Bikel é o único elemento do grupo que nunca jogou em Portugal. Ainda para mais não nasceu por cá, também, e por isso admite que «ainda é um pouco estranho» estar agora a representar a equipa das quinas, pela qual se estreou em 2013 (nos sub-19). «Mas a vida é mesmo assim. Um dia estamos aqui, e no outro estamos noutro lado», diz.

Jogar no futebol português é algo que o entusiasma, mas que não surge nos planos mais imediatos. «Claro que é um sonho. Não agora, mas gostava que isso acontecesse», assume o jogador, que tem o marfinense Yaya Touré como principal referência.

Até 2011 Janio Bikel nunca tinha visitado Portugal. Agora que joga na Holanda é que as visitas se tornaram regulares. «Venho cá nas férias. Tenho cá a minha tia», diz.

Adulto à força na Europa

A mudança para a Holanda obrigou Jaino a tornar-se adulto antecipadamente. Perdeu o pai quando era ainda criança, e a mãe faleceu em 2013, pouco antes da estreia por Portugal. Feridas profundas, mas que não o desviaram da profissão sonhada.

«No caminho aparecem essas situações, mas temos de trabalhar para deixar orgulhosos quem nos apoia. Às vezes é difícil manter o rumo certo, mas temos de pensar etapa a etapa, procurar bons conselhos. Quando sabes o que queres, e quando aproveitas as coisas boas da vida, vais longe», diz ao Maisfutebol.

A motivação de Janio Bikel está fortemente associada à família. Nomeadamente ao irmão e à irmã, que vivem na Guiné. «Quero ajudar a minha família. Se tiver sucesso aqui na Europa posso trazê-los, se eles quiserem. Vejo os meus colegas que têm os pais a ver os treinos e os jogos. Gostava que a minha família também estivesse perto de mim».

Janio Bikel tem apanhado muitas pedras no caminho, mas nenhuma o fez desistir. No passado mês de março chegou à equipa principal do Heerenveen, e uma semana depois já estava a jogar a titular, frente ao Ajax. Fechou a temporada na Holanda com seis jogos na «Eredivisie», o que o próprio classifica como um «bom passo» na carreira. Agora resta saber qual será o próximo. A ligação ao Heerenveen está a terminar, e ainda que o clube holandês tivesse uma opção para renovar contrato, o futuro do médio está em aberto. «Não sei. Vamos ver depois do Mundial. Agora não quero falar disso», limita-se a comentar.