No início da semana de preparação para o jogo Benfica, a preocupação é com o aspecto emocional. Motivar os jogadores é fácil, observa José Peseiro. Mas é preciso evitar a tentação dos jogadores de se mostrarem. Dizer-lhes que devem «queimar-se» em termos individuais e que as diferenças entre as duas equipas são pequenas. «Lemos os mesmos livros, vimos as mesmas cassetes.»

José Peseiro, em discurso directo:

«Há vários factores que contribuem para o sucesso. Na parte emocional, a vida é facilitada nestas alturas, porque todos os jogadores estão mais do que motivados e entusiasmados para fazer um jogo com o Benfica. Infelizmente, não podemos colocar os 28 em campo, pois todos gostariam de a jogar.

Com a vitória em Aveiro (2-0) a equipa aumentou os seus níveis de confiança, a sua auto-estima e saiu valorizada, não só porque venceu, mas também porque fez uma grande prestação. O que é necessário durante a semana é reflectir um pouco, em relação a duas questões essenciais, embora falemos de tudo.

Primeiro, explicar-lhes que o equilíbrio psico-emocional é individualizado, e que o entusiasmo e motivação que podemos ter por jogar contra o Benfica também pode alterar este estado. Pode acontecer, e espero que tal não aconteça, estarmos extremamente activos e não controlarmos essa ansiedade. Isto é importante, pois temos de sentir que é bom jogar e não ter receios, nem medos, pois em termos de trabalho não há grandes diferenças entre o Nacional e o Benfica. Há diferenças sim em termos de recursos. Não em relação àquilo que os treinadores do Benfica e do Nacional procuram, pois estamos actualizados e lemos os mesmos livros, vimos as mesmas cassetes.

Dizemos aos nossos jogadores que têm de estar motivados para vencer, mas não com o pensamento de se mostrar nestes jogos. Isso é perigoso. Se o jogador se mostrar ao Benfica, a sua carreira poderá dar um salto. Isto é muito perigoso, pois se o Nacional não for forte colectivamente, não vai ser individualmente que vamos resolver, pois o adversário tem mais valores individuais que nós.

Assim, as indicações que nós damos têm de ser cumpridas e a partir dai é que é possível cada um realçar-se e sentir-se feliz no dia seguinte ao ler os jornais.

Costumo dizer que o jogador deve «queimar-se» em termos individuais, de forma a que a equipa consiga ser forte. Só assim podemos vencer o Benfica.»

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