Com estas palavras, Naide Gomes anunciou aos 35 anos o fim dessa longa carreira. Uma carreira com 11 medalhas entre campeonatos da Europa e do Mundo de atletismo, de pista coberta e ao ar livre, com início no pentatlo e prolongado destaque no salto em comprimento. E com recordes nacionais a acompanhar.

Uma carreira parada desde 2013 devido a lesões nos joelhos e tornozelos. Com a desilusão olímpica de nunca ter ganho uma medalha nos Jogos. Mas com um início há mais de uma década e quase logo com resultados do mais alto nível quando passou a representar a seleção de Portugal.

Naide Gomes ganhou o seu primeiro ouro nos Campeonatos do Mundo de atletismo de pista coberta em 2004, em Budapeste. Ainda no pentatlo, foi campeã do mundo. A portuguesa nascida em São Tomé confirmou as promessas de grande atleta deixadas dois anos antes. Em 2002, a primeira medalha de Naide Gomes para Portugal foi a de prata do pentatlo nos Europeus de Viena.

«A primeira medalha é a mais especial por ser o início de tudo», confessou nesta quinta-feira a atleta, que pode ser vista a saltar em altura numa das cinco especialidades da disciplina.



O pentatlo deu lugar à especialização no salto em comprimento. E ao ouro ganho em 2004 seguiu-se novo título logo um ano depois. Dessa vez, Naide Gomes ganhou a medalha de ouro no salto em comprimento nos Europeus de pista coberta, em Madrid, em 2005.



A então campeã em título revalidou o estatuto de melhor da Europa dois anos mais tarde, em Birmingham, tendo pelo meio conseguido o seu primeiro grande resultado (e melhor de sempre) ao ar livre: em 2006, Naide Gomes foi vice-campeã europeia – repetindo a posição em 2010.

O ano de 2007 foi alternado entre as grandes marcas e o melhor resultado em mundiais ao ar livre. Em julho daquele ano, em Madrid, Naide Gomes tornou-se a primeira portuguesa a chegar aos 7 metros no salto em comprimento: colocou o recorde nacional em 7,01 metros. Até 2008, foi aumentando o recorde até aos 7,12 metros, marca que se mantém como a melhor em absoluto no comprimento feminino português.

Foi também em 2007 que conseguiu o seu melhor resultado em Mundiais ao ar livre com um 4º lugar, que repetiria em 2009. Como se pode ver abaixo. Naide Gomes ficou duas vezes à porta do pódio dos mundiais em estádio.



No atletismo indoor a história trouxe bem mais sorrisos e o maior deles, o dourado. Em 2008, Naide Gomes sagrou-se campeã do mundo de pista coberta



Foi também na pista coberta que chegou a última medalha da carreira. Quando já esteve «para não ir» aos Europeus de Paris em 2011. «Houve momentos em que disse não aguento mais». Esse foi um deles. Esse foi também um dos em que acabou por não desistir. A qualificação para o concurso final foi sofrível, com dores num pé. E foi via repescagem, com 6,58 metros.

Naide Gomes lutou pelo título europeu com o pé de chamada do salto anestesiado. «Eu não sentia o pé», contou nesta quinta-feira. A saltadora portuguesa chegou à medalha de prata. Ficou a um centímetro do ouro. Saltou 6.79 metros.

Aos problemas físicos que a obrigaram a três operações seguidas nos «últimos tempos» em que já tinha parado e que vão levar a agora ex-atleta de 35 anos ainda a mais uma intervenção cirúrgica (depois de ser mãe) junta-se também a desilusão de não ter ganho uma medalha nos Jogos Olímpicos.

Participante em três olimpíadas (a primeira ainda por São Tomé), Naide Gomes não conseguiu subir ao pódio nem em Sidney 2000, nem em Atenas 2004, nem em Pequim 2008. A participação nos Jogos da China foram, inclusivamente, uma enorme deceção porque a saltadora portuguesa não conseguiu sequer passar à final do concurso.

Naide Gomes fez os dois primeiros saltos nulos. No terceiro, a pressão do momento travou-lhe o salto e os 6,29 metros atingidos significaram a eliminação. E a incredulidade perante o que nem ela nem ninguém podia esperar que acontecesse à atleta que tinha feito a melhor marca do ano: o tal recorde absoluto de Portugal de 7,12 metros.




P.S. Prometemos sete, mas fazemos aqui o momento «7+1», para coincidir com o recorde nacional de 7,01 metros conseguido em 2007 pela primeira portuguesa a chegar aos sete metros no salto em comprimento. Porque são estes sorrisos que ficam, mesmo que com algumas lágrimas.