A revelação foi feita pelo próprio Marco Silva: o Sporting preparou um plano para Nani que consistia em colocar o extremo sob uma enorme intensidade durante praticamente os noventa minutos de todos os jogos.

 

Este plano seria contudo ineficaz, acresentou o treinador, se o próprio Nani não fosse um exemplo de como cuidar do corpo em casa. Descansando, por exemplo, muito bem.

 

Ora por isso o Maisfutebol foi saber o que é que Nani costuma fazer depois dos treinos para tratar do corpo e percebeu que o craque não dispensa o ioga e a meditação.

 

«Ele tem o próprio ginásio em casa e tem uma pessoa que trabalha com ele em exclusividade, para o manter relaxado e concentrado», revela José Almeida.

 

Ora José Almeida é o irmão mais velho, que chegou a trabalhar com Nani enquanto foi empresário de jogadores. Foi ele que guiou o Maisfutebol nesta reportagem.

 

«É um especialista português que já estava com ele em Manchester e agora acompanhou-o no regresso a Lisboa. Faz ioga com Nani, faz meditação, fazem várias coisas. Trabalham a concentração, o relaxamento, esticam os músculos e apuram o raciocínio rápido.»

 

O craque do Sporting sempre deu de resto muita atenção ao relaxamento intelectual. Toca piano, aliás tinha um em Manchester e continua a fazê-lo em Lisboa: tocar piano é um excelente exercício para repousar a mente e aumentar a concentração, sendo aconselhado por exemplo a pacientes que começam a apresentar sintomas de alzheimer.

 

«De resto descansa muito, alimenta-se bem, não toca em álcool, nem nas folgas, porque sabe que o álcool demora três ou quatro dias a desaparecer do corpo. Às vezes quando se sente mais fraco ou com menos potência muscular, faz trabalho de ginásio em casa.»

 

 

José Almeida, mesmo com toda a suspeição que encerra o grau de parentesco, garante que é difícil encontrar no futebol alguém com o profissionalismo de Nani.

 

«Sou irmão dele, posso parecer parcial, mas garanto-lhe: já trabalhei com muitos jogadores, até internacionais holandeses, e nunca encontrei ninguém tão profissional como ele. É uma pessoa ambiciosa e completamente orientada para o sucesso.»

 

Foi aliás essa ambição que o trouxe de volta a Portugal, e ao Sporting do coração. Em Alvalade estabeleceu-se como uma espécie de extraterrestre da liga portuguesa.

 

Um craque acima de todos os outros no futebol português.

 

«No Sporting sente-se em casa e sente que tem liberdade. Tem a atenção de toda a gente, é uma espécie de menino querido e isso liberta-lhe as asas. Já marca golos fantásticos e faz coisas muito boas», atira.

 

O apoio da família, aliás, tem sido fundamental para este renascimento de Nani.

 

«Em Lisboa ele tem o carinho da mãe todos os dias, que é uma coisa indispensável. O carinho da nossa mãe não é substituível por nada. Além disso a nossa família é muito alegre, temos muitos sobrinhos, somos uma família grande e alegre e esse contacto dele com toda a gente transmite-lhe uma energia muito positiva.»

 

Depois de dois anos pobres Nani recuperou a alegria: e o futebol veio por acréscimo. No início, quando soube da hipótese de ver o irmão voltar ao Sporting, José Almeida torceu o nariz. Achou que não era o passo mais correto nesta fase da vida de Nani.

 

Depois de falar com ele, de ouvir as expetativas e os anseios do irmão, apoiou-o na mudança para Alvalade. Hoje não tem dúvidas que foi o passo perfeito.

 

«As coisas não vão nada mal, pois não?», sorri. «Eu sou muito exigente, queria que as coisas fossem melhor, que tivesse marcado mais golos em Portugal. Quando tinha 19 anos fez 14 golos numa época, por isso agora, com mais experiência, tem de fazer mais.»

 

«Mas o Nani já passou por muitas coisas, tem uma grande bagagem, por isso hoje está mais homem, é pai e tem uma maneira diferente de ver as coisas. Não sabe quantos mais anos de carreira tem pela frente, por isso agarra-se ao presente. Agora está feliz e isso é o mais importante: desfrutar este momento. Ele sabe que tem de dar mais um passo e saltar para um grande clube europeu, mas também sabe que estando bem as coisas acontecem.»

 

 

José Almeida só não concorda com uma coisa.

 

«Tenho visto todos os jogos e sinto que ele próprio coloca muita pressão em cima dele. Acho que devia soltar-se e fazer as coisas sem essa pressão.»

 

É isso que José Almeida lhe tem transmitido nos vários contactos. Mas não é o único.

 

«Todos os irmãos falam com ele e dizem-lhe o mesmo. Mas ele tem um sonho muito grande de ser campeão. Seria fantástico, realmente. Voltar para o Sporting e o Sporting ser campeão era uma coisa de sonho...»

 

O irmão esclarece que Nani sente que tem de render a dobrar agora: por ele, para mostrar que está de volta, e pelo Sporting, para justificar a ilusão que o regresso dele provocou.

 

Por isso a influência dele não se esgota no relvado.

 

«O Nani é uma pessoa muito social, sempre na brincadeira, por isso é um jogador que fala muito, motiva os companheiros, apoia os mais novos. Ele sabe que no Sporting tem essa obrigação e assume-a.»

 

O objetivo, claro, é o sucesso coletivo: o sonho de ser campeão.

 

«Quando foi para Manchester tinha o Ronaldo como modelo e tentava imitá-lo em tudo. Hoje sabe que é ele que é um modelo para os outros: na forma como joga, como treina, como se veste, até como descansa. Por isso tenta ser um bom exemplo.»

 

A boa notícia é que os jovens do Sporting dificilmente podiam ter um melhor exemplo: o craque que nem sequer dispensa o ioga e a meditação.

 

Leia também:

José Almeida, o irmão de Nani que se tornou dirigente em Espanha