Foi ciclista, esteve 10 anos parado e decidiu voltar, já depois dos 30. Treinou nos intervalos do trabalho e conseguiu integrar o pelotão profissional, numa equipa internacional. Agora, aos 35 anos, João Correia despede-se de vez.

Emigrante nos Estados Unidos desde os 11 anos, João Correia definiu objectivos desde cedo. «Aos 16 anos, escrevi num caderno que queria estar em dois Mundiais como júnior, correr três anos como amador e, no primeiro ano de profissional, chegar a uma equipa grande. Caso contrário abandonava e dedicava-me aos estudos», conta o português à Lusa.

Na Holanda, foi 14º nos Mundiais de estrada de junior, depois tornou-se profissional em Portugal, passou «quatro ou cinco meses» na Tróiamarisco». A carreira não avançou muito mais e decidiu cumprir o que tinha prometido a si mesmo: dedicar-se aos estudos.

Licenciou-se em Negócios Internacionais e Ciências Políticas pela Fordham University de Nova Iorque e chegou a director comercial da revista norte-americana «Bycicling». Mas o apelo continuava lá e, em 2006, recomeçou a pedalar.

«Voltei a andar de bicicleta, ia para as reuniões com os clientes e ainda tentava treinar», recorda. Treinou muito, participou em várias corridas para amadores. Em 2010 surgiu, finalmente, a tal «equipa grande». Era a suíça Cervelo, que o levou a fazer as malas até ao Mónaco.

«A equipa não me contratou para ganhar corridas, contratou-me porque gostaram da minha história e queriam desenvolvê-la. Acho que, nesse aspecto, dei mais publicidade à equipa do que todos os outros ciclistas, à excepção do Thor (Hushov) e do Carlos (Sastre)», analisa João Correia, que foi motivo para vários artigos na imprensa da especialidade e até no «New York Times».

«Nunca ninguém fez o que eu fiz, nunca ninguém esteve afastado dez anos, voltou a correr e chegou ao nível que eu cheguei. Não aconteceu de um dia para o outro, levou quatro anos de trabalho. É preciso ter objectivos, sonhos e trabalhar para os realizar», sublinha João Correia: «A maioria dos meus fãs eram os ciclistas que estavam nos escritórios, que gostavam de fazer o que eu estava a fazer e não podiam. Era das coisas que mais força me dava, porque eu fazia isso por eles também, porque me seguiam por ter deixado tudo, uma carreira muito boa, e ter arriscado muito para concretizar um sonho.»

Agora vai-se embora, depois de ter ficado fora das escolhas da selecção nacional para os Mundiais de ciclismo. Decidiu, junto com a mulher e os dois filhos, «não continuar a qualquer preço», agora procura voltar ao mundo profissional e «regressar ao mundo dos media em Nova Iorque».