André Villas-Boas foi afastado do comando técnico do Tottenham após 531 dias no cargo. O técnico português garantiu o melhor rendimento desde que os spurs chegaram ao principal escalão de Inglaterra e o melhor registo nas competições europeias. Mas não chegou.

Uma vez mais, ficou provado que não há paciência para treinadores portugueses nas principais Ligas europeias: Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França. Artur Jorge, na década de 90, e José Mourinho são as exceções.

Após duas oportunidades na Premier League de Inglaterra, Villas-Boas procurará um novo rumo para a carreira. De qualquer forma, a sua passagem pelo Tottenham até superou o prazo habitual de permanência dos técnicos lusos: mais de um ano, No Chelsea, não chegou aos nove meses.

 O campeonato espanhol tem sido um espaço de oportunidades para treinadores portugueses. A proximidade geográfica e linguística contribui para o fenómeno. Ainda assim, as estadias são invariavelmente curtas.

As experiências falhadas do outro lado da fronteira

José Augusto sentiu isso mesmo na passagem pelo Logroñes. Na temporada 1994/95, o antigo jogador do Benfica atravessou a fronteira para tentar salvar o clube da região de La Rioja. Aguentou menos de quatro meses.

O sérvio Blagoje Paunovic iniciou a temporada e deixou o Logroñes no último lugar da tabela classificativa. Seguiu-se Fabri González, por meros três jogos. O presidente do clube apostou em José Augusto, com idêntico sucesso. Antonio Ruiz e Rubén Galilea também passaram pelo banco nessa época. Cinco treinadores para um registo horrível: 13 pontos apenas em 38 jornadas. Último lugar, naturalmente.

Toni chega pouco depois, vindo de Bordéus. Apresenta um currículo interessante, sagrando-se campeão nacional pelo Benfica, mas assina pelo Sevilha num dos piores momentos da sua história.

O português tenta manter o registo de Luis Aragonés mas tudo fica comprometido com uma notícia bombástica no início de Agosto. A Liga quer despromover o Sevilha e o Celta para o terceiro escalão devido a dívidas. Gera-se um período de incerteza, afetando a preparação da época. Ninguém quer assinar por um clube que pode ser relegado para a II Divisão B.

A Liga recua na sua intenção e alarga o campeonato para 22 clubes, silenciando assim as críticas. Para Toni, contudo, era demasiado tarde. O Sevilha arranca mal no campeonato e chega à 8ª jornada sem uma única vitória. O português é afastado após uma derrota caseira frente ao Espanhol (0-3), a 15 de outubro de 1995. Emílio Peixe foi expulso nesse encontro.

Os espanhóis não esquecem outro António Oliveira que passou por Sevilha, neste caso pelo Bétis. O antigo selecionador português chegava como tetracampeão pelo FC Porto. Curiosamente, saíra do emblema portista alegando questões pessoais. Contudo, aceitou ao convite do país vizinho.

Algo correu mal no Bétis. António Oliveira sucedeu a Luis Aragonés e durou menos de um mês. Após uma discussão com o presidente Manuel Ruiz de Lopera, abandonou o cargo. Foi substituído por Vicente Cantatore.

Carlos Queiroz durou mais que Jaime Pacheco

Carlos Queiroz e Jaime Pacheco foram as importações seguintes, já no século XXI. Adjunto de Alex Ferguson no Manchester United, o atual selecionador do Irão despertou a cobiça do Real Madrid e orientou os merengues ao longo de uma temporada.

O Real Madrid começou bem a época e conquistou a Supertaça de Espanha frente ao Maiorca de Jaime Pacheco, curiosamente. A segunda metade da temporada, porém, não foi feliz. A equipa da capital espanhola foi afastada da Liga dos Campeões pelo Mónaco, perdeu na final da Taça do Rei e terminou o campeonato na quarta posição, a sete pontos do campeão Valência.

«Tenho de admitir que cometemos um erro ao contratar Queiroz», disse Florentino Pérez a 24 de maio de 2004.

Jaime Pacheco, por outro lado, saiu em setembro de 2003. Após cinco jornadas na Liga espanhola, o Maiorca tinha apenas quatro pontos. O português, que tinha sido campeão pelo Boavista, saiu pela porta pequena.

Jesualdo Ferreira, que conquistara o tricampeonato pelo FC Porto, rumou ao Málaga no arranque da temporada 2009/10. Porém, foi despedido a 2 de novembro, com sete pontos em nove jogos disputados na Liga espanhola.

O exemplo mais recente gira em torno de Domingos Paciência e o Deportivo da Corunha. Contratado a 30 de dezembro de 2012, o técnico português abandonou o cargo a 2 de fevereiro de 2013. A equipa galega andava pela zona de despromoção e por lá ficou até final da temporada.

Um campeão português em França

Artur Jorge foi o único português a ter sucesso considerável nos principais campeonatos europeus, para além do incontornável José Mourinho. Curiosamente, o campeão europeu pelo FC Porto também falhou em Espanha, ficando apenas três meses no comando técnico do Tenerife (1997/98). Porém, conquistou o título nacional e a taça em França.

O antigo selecionador de Portugal orientou o Matra Racing entre 1987 e 1988. Porém, o sucesso estava reservado para a passagem pelo Paris Saint-Germain. No total, foram 167 jogos no comando técnico da formação parisiense. Artur Jorge venceu a Taça de França e foi campeão em 1994, no final do terceiro ano no cargo. Voltaria ainda na época 1998/99.

Anos antes, na temporada 1994/95, Toni passou pelo Bordéus com Jesualdo Ferreira como adjunto. A equipa terminou a Liga francesa na 7ª posição, mas os técnicos portugueses ficaram ligados ao crescimento de uma estrela chamada Zinedine Zidane.

Paulo Duarte foi o último treinador luso a passar pela Ligue 1 de França. Entre junho e dezembro de 2009, acumulou os cargos de selecionador do Burkina Faso e técnico do Le Mans. No final do ano civil e face aos resultados modestos, o presidente do clube pediu a Paulo Duarte para não marcar presença na CAN. Porém, o português tinha dado a sua palavra aos responsáveis do Burkina Faso. O divórcio foi a única alternativa.

Não há registo de passagem de treinadores portugueses pela Bundesliga. Na Serie A de Itália, José Mourinho foi caro raro e com sucesso reconhecido. Aliás, o Special One garantiu um capital de confiança pouco habitual. Compreende-se. Depois de ter sido campeão pelo FC Porto, repetiu o feito pelo Chelsea em Inglaterra, pelo Inter em Itália e pelo Real Madrid em Espanha.

Em jeito de balanço, repete-se a ideia: não tem havido paciência para técnicos lusos nos principais campeonatos europeus. Restam outras vias. Fernando Santos assumiu-se como referência no futebol da Grécia, ocupando o cargo de selecionador após um bom trabalho a nível de clubes, numa Liga exigente. Portugal terá, aliás, três selecionadores no Mundial de 2014: Fernando Santos, Paulo Bento (Portugal) e Carlos Queiroz (Irão). A qualidade não está em causa. Falta o capital de confiança.