Miguel Lopes, 27 anos e muitas histórias para contar. Um lateral polivalente, internacional português, com um currículo fora do normal. Nesta altura, representa o Ol. Lyon mas já passou pelos três grandes de Portugal. Ou quatro, como diz.

Em entrevista à Maisfutebol Total, Miguel Lopes fala de tudo um pouco. Da sua afirmação em França, do passado nos principais emblemas do futebol português, do futuro. A quatro meses no Campeonato do Mundo, o defesa alimenta a esperança de representar a seleção na prova.

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Entre várias questões no âmbito desportivo, o jogador não evita outros temas sensíveis e porventura polémicos. Pelo meio, deixa um desabafo sobre a imagem criada em torno de si e outros companheiros de profissão: «Não nos julguem pela roupa, o cabelo ou as tatuagens».

«Por acaso sinto isso, que algumas mentes fazem uma imagem errada de mim. O pensamento de alguns adeptos vai nesse sentido, de olhar para as tatuagens, para o que vestimos, etc. Acontece comigo, noto que acontece também muito com o Raul Meireles e haverá outros casos. No Raul, é a barba, as tatuagens, a forma como se veste. Enfim, não dá para perceber», começa por dizer.

Miguel Lopes lamenta essa abordagem superficial. «Nós gostamos de tatuagens, é uma forma de arte, e nada tem a ver com o nosso desempenho em campo. As pessoas deviam olhar mais para isso e não o resto. Se soubessem aquilo por que passei para chegar onde cheguei…»

O lateral sorri perante a recordação de um episódio curioso. Estava de casamento marcado quando foi chamado para o Campeonato da Europa de 2012. Pior: ele e Mónica, a companheira, tinham tatuado a data do enlace nas mãos. «Tive de alterar o dia do casamento mas foi por uma boa causa, ainda bem que fui chamado. Mas é verdade que ainda temos a tatuagem com a data inicial, vamos ver se a mudamos em breve»

Miguel Lopes casou-se a meio de julho, após o Europeu. Antes, porém, envolveu-se numa discussão mais acalorada durante um treino da seleção. «Sempre dei o máximo pela seleção, nunca arranjei problemas, o único incidente foi aquele com o Quaresma, num treino. Foi muito tempo dentro de um hotel», brincou, acrescentando: «Ficou tudo sanado. São coisas do futebol.»



A polémica mais estranha, por assim dizer, chegou em outubro desse ano. Miguel Lopes surgiu num estágio da seleção nacional com uma t-shirt original. «Fuck you you fucking fuck.», podia ler-se. Gerou-se um foco de tensão, obrigando o jogador a apresentar uma explicação.

«A t-shirt faz referência a uma frase de um filme (ndr Blue Velvet de David Linch) que ficou famosa. Não era mensagem nem frase dirigida a ninguém, mas admito que errei e por isso não me custa pedir desculpa», justificou, na altura.

Olhando para trás, Miguel Lopes recorda esse momento. «Até me senti mal com a polémica que se criou, nunca mais fui para seleções e clubes com essa camisola. Foi um momento mau mas fizeram logo de mim um rebelde, enfim. Mentes retrógradas. Acabei por oferecer a t-shirt a um amigo meu», revela.

Os pequenos episódios vão beliscando a imagem do lateral. «Como disse antes, se as pessoas vissem aquilo por que passei…estive seis meses sem jogar futebol, tive de trabalhar e lutar para voltar ao que era. Não temi desaparecer porque tenho muita força de vontade, mas tive de suar bastante.»

«Custa-me perceber que há pessoas que só vêm as minhas tatuagens, a minha maneira de vestir. Sempre fui uma pessoa humilde, foi esses valores que a minha família me passou e gosto de respeitar toda a gente, assim como gosto que me respeitem», salienta.



Miguel Lopes olha em frente. Neste defeso, foi emprestado pelo Sporting ao Ol. Lyon. Em França, assumiu-se como titular da equipa entre dois períodos de ausência forçada.

«Recuperei agora da lesão no ombro, estou a trabalhar sem limitações e pronto para regressar à equipa quando o treinador entender. É sempre mau e triste, gosto de sentir a relva e estar com a equipa, mas mesmo assim está a ser uma época muito bom, tenho 21 jogos como titular e sinto-me feliz no Ol. Lyon», garante.

O lateral espera ajudar a equipa francesa e definir o seu futuro no final da temporada: «Faltam vinte e tal jogos, estamos em quatro frentes e espero tem um final de época fantástico. Quanto ao futuro, sei que as pessoas aqui estão contentes com o meu trabalho e a minha personalidade.»

O Sporting cedeu o jogador mas a cláusula de opção é elevada: 10 milhões de euros. O Ol. Lyon não parece disposto a chegar a esse valor e quer baixar a fasquia. «Se tentarem negociar o meu passe, fico satisfeito.» 



A poucos meses do Campeonato do Mundo, Miguel Lopes sabe que tem possibilidades de entrar na lista final de Paulo Bento. «Seria mais um sonho. Estive no Europeu com muita alegria e satisfeito, sei que o mister Paulo Bento acompanha o meu trabalho e vou dar o máximo por isso.»

João Pereira tem sido dono e senhor do lado direito, Fábio Coentrão é incontornável à esquerda. O defesa do Ol. Lyon fica satisfeito com o estatuto de alternativa? «Quero sobretudo ajudar a seleção. Mas tenho 27 anos, ainda tenho muitos anos de futebol, quero participar e ganhar muitos jogos por Portugal. Sei que é difícil jogar, o João Pereira está há muito tempo na seleção mas resta-me trabalhar e esperar, posso estar em melhor forma física na altura, pode estar ele. Isso agora não é o mais importante. Tento de pensar somente no Lyon.»

Anthony Lopes, seu companheiro de equipa no Ol. Lyon, também pode ser chamado por Paulo Bento para o Mundial. Aos 23 anos, o guarda-redes é titular da formação gaulesa. «Em minha opinião é um excelente guarda-redes. Ainda é jovem e está a jogar numa equipa de top do futebol europeu. É um guarda-redes seguro, que fala muito e sai bem às bolas paradas. Se for chamado, vai merecer a confiança do selecionador», remata Miguel Lopes.