Quem já teve aulas de jornalismo deve ter ouvido falar várias vezes dos critérios que podem elevar um acontecimento à categoria de notícia. Há vários, mas um deles, é considerado básico: a inversão. É a velha estória do homem que morde o cão ou algo similar. Neste caso, foi um fisioterapeuta que se lesionou quando pretendia socorrer um jogador que acabara de se magoar.
O inusitado acontecimento deu-se na Naval, no treino de sexta-feira, quando António João, ao aperceber-se que Delfim acabara de levar uma bolada no nariz, pegou no saco e tentou correr em direcção ao atleta para lhe prestar auxilio. «O relvado tinha sido regado, estava muito escorregadio, e como estava de ténis, quando arranquei, fiz a espargata e rasguei o músculo. Resultado: tenho uma rotura do adutor esquerdo», conta o especialista ao Maisfutebol.
O cómico da situação é que -além de as atenções se terem voltado de repente para o fisioterapeuta, enquanto Delfim acabou por ser assistido pelo director-desportivo da Naval - , os jogadores pensaram tratar-se de uma brincadeira e quiseram logo levá-lo em braços: «Fiquei logo no chão, nem consegui levantar-me com tanta dor, mas eles pensavam que era teatro e quiseram levantar-me. O Delfim? Penso que foi o Nuno Cardozo que acabou por tratar dele. Mas não sei ao certo. Fiquei cego de tanta dor!»
Agora, António João vai ficar três semanas sem poder fazer jogos, a começar pelo deste domingo, com o Leixões, que, por sinal, até era especial. «É preciso ter azar. Sou de Matosinhos e queria muito estar neste encontro. Vou ter de ficar-me pela bancada. Baixa? Não posso. Ainda hoje fiz o treino. Nos jogos é que não dá. Posso movimentar-me, com calma, o pior é quando mudo de direcção», lamenta.
No meio do infortúnio, o fisioterapeuta ainda consegue encontrar algo de positivo. «Pelo menos agora, já sei o que os atletas sentem. Dá-me uma perspectiva mais realista do meu trabalho, porque já passei pelo mesmo», afiança.