Chama-se Jason Collins, tem 34 anos e tornou-se, nesta segunda-feira, o primeiro jogador em atividade da NBA a assumir-se como homossexual. Collins, que na época passada jogava pelos Washington Wizards, já representou seis equipas da NBA, desde 2001, entre elas os Boston Celtics. O jogador escolheu uma entrevista à Sport Illustrated como forma de anúncio público: «Não tinha a intenção de ser o primeiro gay assumido na NBA mas, agora que sou, fico feliz em começar as conversas», afirmou.

O anúncio de Collins, que atualmente é um jogador livre, marca uma página no desporto profissional norte-americano, por representar o primeiro profissional não retirado a dar este passo. A declaração merceu manifestações de apoio de várias personalidades, entre elas o ex-presidente dos EUA; Bill Clinton, cuja filha, Chelsea, foi colega de universidade de Collins: «É um momento importante para o desporto profissional e histórico para a comunidade LGBT. Espero que todos, em especial os seus colegas, a imprensa e os adeptos lhe dêem o apoio e o respeito que merece. Tenho orgulho em chamar-lhe amigo», afirmou Clinton, no que foi secundado pela filha, que através do twitter se manifestou «orgulhosa do meu amigo Jason Collins».

No universo do desporto, a entrevista de Collins à Sports Illustrated também teve acolhimento positivo, com figuras como o ex-lutador de wrestling Dwayne Johnson, a futebolista Abby Wambach ou o tenista Mardy Fish a encorajarem o basquetebolista. Também a ex-basquetebolista portuguesa Ticha Penicheiro usou o twitter para valorizar a atitude de Collins, escrevendo: «É preciso ser um homem forte, com forte personalidade para fazer o que Jason Collins fez. BRAVO!».

Mas mais significativa talvez tenha sido a reação no interior da NBA, com o comissário David Stern a dar o primeiro passo, classificando os irmãos Collins (Jason tem um irmão gémeo, Jarron, também jogador) como «membros exemplares da nossa família». Baron Davis, antigo base dos New York Knicks, alinhou pelo mesmo tom, chamando «mano (bro)» a Collins, e assumindo-se orgulhoso pela sua atitude. E Kobe Bryant, possivelmente a maior estrela da NBA após Michael Jordan, vincou também a sua mensagem de forma categórica: «Orgulho. Não sufoques quem és por causa da ignorância dos outros», escreveu na sua conta de twitter.

Bryant é um símbolo da mudança de mentalidades entre as estrelas do desporto profissional. A estrela dos Lakers foi multada em 100 mil dólares pela Liga, há dois anos, por usar a palavra «maricas» para insultar um árbitro. As ações de sensibilização em que participou, depois do incidente, fizeram-no mudar radicalmente de posições como o demonstrou no passado mês de fevereiro, ao criticar um seu fã, que insultou um utilizador de twitter chamando-lhe gay: «Usar gay para diminuir alguém não é cool. Por favor, apaga isso do teu vocabulário. O que eu fiz também não foi cool, e demonstrou ignorância. Assumo-o, aprendi com isso, e espero que os outros façam o mesmo», escreveu.

O eco favorável ao anúncio de Collins marca mais uma etapa na progressiva aceitação da homossexualidade na NBA, depois de, em 2007, o britânico John Amaechi, ter sido o primeiro ex-jogador a assumir-se como gay, na autobiografia «Man in the middle». O anúncio de Amaechi dividiu opiniões, provocando mesmo uma reação agressiva da antiga estrela Tim Hardaway, que assumiu que não seria capaz de partilhar o vestiário com um jogador gay: «Em primeiro lugar, ia querer que ele ficasse fora da minha equipa. Segundo, se estivesse na equipa, ia querer que ele se mantivesse à distância, porque não podes ter 12 jogadores numa equipa preocupados com quem está a equipar-se com eles». Criticado por estas declarações, Hardaway, que assumiu sentir ódio pelos homossexuais, acabou por retractar-se mais tarde, pedindo desculpas e anunciando uma série de iniciativas em colaboração com instituições que procuram educar jovens para o combate à discriminação sexual.