Cem mil almas em suspenso no Estádio Azteca. A eternidade num vislumbre mágico, fascinante. Mundial do México, 1986, o derradeiro apogeu da ingenuidade. Manuel Negrete no papel de executor. Um pontapé etéreo, ágil e mordaz, algoz do guarda-redes búlgaro, Borislav Mihaylov. Foi há precisamente 25 anos que o ex-jogador do Sporting se condenou ao reconhecimento sem fim.

Avançado pertinaz, baixinho, pé esquerdo atrevido. Negrete faz parte das memórias dos nostálgicos, dos que se colavam à televisão e aplaudiam Pique, a inesquecível mascote desse Campeonato do Mundo. A palavra a quem a merece.

«Essa tijera [nome do remate] não me dá descanso. Ninguém se esquece de mim», conta Manuel Negrete, 52 anos, ao Maisfutebol. «Se me lembro? Chico, faço o relato da jogada: Féliz Cruz alivia a bola na área do México, Rafael Amador recebe e passa a Tomás Boy. Boy dá para mim e eu abro na esquerda para Raúl Servín. Ele sai rapidíssimo e vai para a linha de fundo», narra, num só fôlego.

«Um defesa búlgaro corta e a bola vai para a cabeça de Carlos Muñoz. Mete na área da Bulgária, Hugo Sánchez faz a recepção de costas, vira-se, mas um búlgaro opõe-se. E agora começa a melhor parte», conta, com a excitação que dele se apoderou há um quarto de século. Cansa só de ouvir.

Memórias: um golo ao Barça, os 7-1 ao Benfica, vinho a dobrar na mesa do capitão

«Mais um passe longo, faço a tabela com o Javier Aguirre e remato acrobaticamente! Deixei de ouvir, deixei de ver. O Azteca caiu sobre mim, eu acho que caí em cima do mundo.» Negrete, há 25 anos.

O Mundial de 1986 é o Mundial de Diego Maradona. A mano de Dios, a perícia, oito ingleses de língua de fora e a bola na baliza de Inglaterra. Feitos lendários, usurpadores dos limites do realismo. Manuel Negrete faz, porém, uma ressalva. Meio a sério, meio a brincar.

«O Maradona era único, mas o meu golo contra a Bulgária também é o golo de Dios. Pode confirmar isso com todo o povo mexicano», diz Negrete. «E não nos esqueçamos que, depois do Inglaterra-Argentina, ninguém fez o controlo anti-doping ao Diego. Houve dois golos de Dios no Mundial do México. O meu e o do Maradona, essa é que é a verdade.»

O México chegou aos quartos-de-final e foi eliminado pela RFA nas grandes penalidades. O tempo poupou o mito de Negrete e a melhor participação de sempre dos aztecas.

Recorde o golo mítico de Manuel Negrete: