Quem espreita o bilhete de identidade de Nélson Oliveira vê que há aqui um caso de precocidade. Diz quem o conhece desde sempre que não é uma coisa de agora: o avançado habituou-se a andar um escalão acima da idade e o pai até se chateou quando o Sp. Braga fez da excepção uma regra.

Antes disso, porém, a vida deu muitas voltas. Em todas elas, o encarnado surgia como ponto de mira. «Quando tinha nove anos já dizia que ia jogar no Benfica. O tio colaborava na formação do Sp. Braga e brincava com ele, que estava maluco. Não vou? Tu vais ver», respondia-lhe Nélson.

Curiosamente não era o único a fazê-lo. Eusébio Fernandes foi o primeiro treinador do miúdo. «O avô trouxe-o cá e no primeiro treino percebemos que tinha potencial», conta. «Cheguei a dizer ao avô que ainda ia jogar no Benfica. Respondeu-me que o que queria era que o neto tirasse o curso de medicina.»

Eusébio Fernandes estava certo. Augusto Castro, o avô, estava errado. Curiosamente Augusto Castro que é essencial na história da carreira de Nélson Oliveira. «Ele era presidente da junta de freguesia, mas afastou-se da política e para se entreter levava o neto ao futebol», conta o pai Adélio Oliveira.

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Ele, por sua vez, não tinha tempo. É dono de um talho que lhe leva a maior parte das horas. Sempre foi assim, aliás. «Quando era miúdo cheguei a ter uma proposta de um clube regional, mas não podia ir aos treinos. Dizem que o Nélson herdou o meu jeito de bola e a minha velocidade», sorri.

Dizem também que foi dele que Nélson herdou a paixão pelo futebol. «Eu era maluco. Ia à Makro, pegava num carrinho e quando passava pelas bolas de futebol não conseguia não as comprar. Metia uma bola de seis contos dentro do carrinho e siga», conta o pai, benfiquista dos sete costados como o filho.



Um filho louco por bicicletas...

Dizem por fim que os dois têm a mesma compleição física: a mesma altura e o mesmo peso. «É uma fotocópia bem tirada.» A força e a resistência, no entanto, essas são todas de Nélson Oliveira: não nasceram do nada. «Acho que tem a ver com a loucura dele por bicicletas», conta o pai. «Desde miúdo.»

«Com dois anos entrou numa gincana de ciclismo organizada aqui pela igreja. Com cinco anos andava oito quilómetros. Até aos nove anos partiu-me nove bicicletas.» O pai acredita que foi este jeito para pedalar insistentemente que lhe deu a força e a capacidade de choque que fazem a diferença.

O primeiro treinador reitera as palavras do pai. «Quando ele chegou aqui ao Santa Maria tinha nove anos, mas nós não tínhamos escolinhas e ele começou a jogar com os infantis, que eram dois e três anos mais velhos do que ele. Não se notava diferença. Era um miúdo forte e muito desenvolvido.»

... e por trabalho de ginásio

Ora esta capacidade física foi sempre uma das preocupações de Nélson Oliveira. O pai conta até um episódio curioso. «Um dia, no último ano de juniores do Benfica, foi falar com o treinador Diamantino. Disse-lhe que se sentia cansado e que queria fazer ginásio para aumentar a massa muscular», diz.

Então por que não fazes?, perguntou-lhe Diamantino. Porque não me deixam entrar no ginásio, respondeu-lhe. «Rui Costa estava a ouvir a conversa e perguntou-lhe: Queres que te mostre a tua ficha de pré-época? Tu tens mais massa muscular que os jogadores seniores. Isso ainda te faz mal

Adélio não esconde um certo orgulho quando conta estas histórias. «Mas não sou vaidoso. Fui a Lisboa ver o Benfica-Marítimo e os meus amigos celebraram o golo do Nélson mais do que eu.» Um bocado como o filho, aliás. «Dei-lhe os parabéns, sabe o que me respondeu? Ainda vou fazer melhor