Apenas quatro meses depois da saída do técnico português, já serão muitos os que, no Bernabéu, suspiram por Mou.
O arranque do Real de Ancelotti está longe de ser convincente. Vitórias à queima, e nos últimos minutos, com equipas muito inferiores no nome.
E uma clara sensação de que, se não fosse um CR7 em grande forma (onde estaria Blatter com a cabeça? valham-nos as reações do presidente da FPF e do próprio Ronaldo, que levaram o líder da FIFA a pedir desculpa), a desvantagem dos «merengues» para Barça e Atlético de Madrid poderia ser ainda maior.
Talvez ainda seja cedo para traçar a verdadeira história da saída de Mourinho no Real. O ambiente de conflito que marcou os últimos meses manchou a autoridade de Mou e é certo que a última impressão pode ser a que fica.
Mesmo com os elogios de Florentino em todo o percurso de Mourinho como treinador do Real («temos o melhor treinador do Mundo», «Mourinho está a fazer um grande trabalho», «a imagem do Real melhorou com Mourinho nestes três anos»), a verdade é que a «guerra» com Casillas e declarações posteriores de jogadores como Benzema, Pepe ou até Cristiano Ronaldo sinalizam um problema grave na ligação do treinador com o balneário dos «blancos», sobretudo na terceira época.
A forma como os adeptos do Real se despediram de Mou, no encontro com o Osasuna (vitória por 4-2, final da época passada, em junho) é a melhor prova desta balanço um pouco esquizofrénico: muitos aplaudiram e agradeceram; outros (menos) cantaram um provocador e agressivo «até nunca mais».
Recorde a despedida agridoce de Mourinho aos adeptos do Real:
Mas a comparação rapidamente começa a ajudar a pôr as coisas em perspetiva. E fica fácil perceber que o técnico português foi, de longe, quem colocou o Real Madrid mais perto do Barça e de um regresso ao topo europeu, entre os treinadores que o Real Madrid teve, pelo menos, na última década. Talvez pudéssemos ir mais longe. E para recuar aos anos em que o Real somava títulos europeus, então é mesmo preciso chegar aos idos de 60 do século passado.
«Sou o treinador do melhor Real da história»
(José Mourinho, quem havia de ter dito isto?)
Mourinho venceu uma Liga (perante um Barcelona de Guardiola que, para muitos, terá sido a melhor equipa de clube de todos os tempos) e fê-lo somando 100 pontos e marcando 121 golos. Ganhou ainda uma Taça do Rei (isso, também ao Barça) e uma Supertaça espanhola.
«Sou o treinador do melhor Real da história», considerou, sem rodeios, o treinador nascido há 50 anos em Setúbal, filho de um antigo guarda-redes de Belenenses e V. Setúbal, nas décadas de 60 e 70.
Em três anos, levou o Real por três vezes às meias-finais da Champions: talvez seja pouco para a história de títulos europeus do Real, mas certamente muito, se olharmos para os registos na década anterior dos merengues na Champions.
O Real Madrid é sempre candidato ao título europeu? Certo. Mas a verdade, nua e crua, é que os «blancos», nove vezes campeões europeus, buscam «La décima» há 11 anos, desde que bateram o Bayer Leverkusen, por 2-1, na final da Champions de 2002.
«Isto com Mourinho não acontecia»
(Adeptos do Real, após a derrota em casa com o Atlético Madrid)
O tal «julgamento da história» já absolveu Mourinho no «tribunal do Bernabéu»? Não completamente. Mas que os sinais estão lá, isso estão.
Há um mês, após a derrota em casa frente ao Atlético Madrid, vários adeptos «blancos» cantaram por José Mourinho. E a frase «isto com Mourinho não acontecia» foi muito repetida.
As dúvidas sobre se Ancelotti é mesmo o treinador certo para recolocar o Real Madrid na rota dos grandes títulos aumentaram depois de uma exibição decepcionante na primeira parte do superclássico (com o técnico italiano a «inventar», com CR7 a ponta-de-lança, Sergio Ramos a médio e um Gareth Bale ainda em claro subrendimento).
Mou, 1-Ancelotti, 0
O problema de Mourinho em Madrid não foi, propriamente, com os adeptos.
Os mais fiéis, os que têm lugar anual, continuam a achar que José não devia ter ido embora e que foi mesmo o melhor treinador do Real desde os tempos dos títulos europeus seguidos, da década de 60.
O « problema Real» de Mou foi com a «inteligentsia» (às vezes muito pouco inteligente…) de Madrid.
O seu sucessor, Carlo Ancelotti, é visto em setores madridistas como um «protegido de Florentino». A milionária contratação de Gareth Bale foi menos consensual do que a de CR7 ao Manchester (ou como a de Figo, há 13 anos) e muitos, no Bernabéu, consideram que Mourinho nunca se bateria por aquela opção tão cara.
A forma dececionante como o galês se mostrou no seu primeiro superclássico foi uma derrota pessoal para Ancelotti.
A derrota em Barcelona mostrou outro ponto preocupante para o técnico italiano: enquanto no Barça o dia menos bom de Messi foi compensado com um super Neymar, do lado do Real não há uma alternativa convincente a CR7.
Pois é: afinal, «Mou» até podia ter razão em quase tudo.
«Os jogadores ganham jogos, mas são os plantéis que ganham títulos»
(José Mourinho)
Mas Madrid é passado para o melhor treinador português de todos os tempos.
Em dia em que completou 200 jogos ao comando do Chelsea, no encontro com o Arsenal para a Taça da Liga, José Mourinho vive ainda uma espécie de «segunda lua-de-mel» com Stamford Bridge.
Recorde a receção de Mourinho no regresso a Stamford Bridge:
No regress o ao Chelsea, e ainda na ressaca de meses finais muito crispados no Bernabéu, José Mourinho disse ter voltado ao lugar onde se sente melhor e declarou uma mudança: tinha deixado de ser o «Special One» (aquele que, em 2004, chegava aos Blues como o jovem técnico que acabara de conquistar a Europa com o F.C. Porto), passou a ser o «Happy One».
(Adeptos do Real, após a derrota em casa com o Atlético Madrid)
O tal «julgamento da história» já absolveu Mourinho no «tribunal do Bernabéu»? Não completamente. Mas que os sinais estão lá, isso estão.
Há um mês, após a derrota em casa frente ao Atlético Madrid, vários adeptos «blancos» cantaram por José Mourinho. E a frase «isto com Mourinho não acontecia» foi muito repetida.
As dúvidas sobre se Ancelotti é mesmo o treinador certo para recolocar o Real Madrid na rota dos grandes títulos aumentaram depois de uma exibição decepcionante na primeira parte do superclássico (com o técnico italiano a «inventar», com CR7 a ponta-de-lança, Sergio Ramos a médio e um Gareth Bale ainda em claro subrendimento).
Mou, 1-Ancelotti, 0
O problema de Mourinho em Madrid não foi, propriamente, com os adeptos.
Os mais fiéis, os que têm lugar anual, continuam a achar que José não devia ter ido embora e que foi mesmo o melhor treinador do Real desde os tempos dos títulos europeus seguidos, da década de 60.
O « problema Real» de Mou foi com a «inteligentsia» (às vezes muito pouco inteligente…) de Madrid.
O seu sucessor, Carlo Ancelotti, é visto em setores madridistas como um «protegido de Florentino». A milionária contratação de Gareth Bale foi menos consensual do que a de CR7 ao Manchester (ou como a de Figo, há 13 anos) e muitos, no Bernabéu, consideram que Mourinho nunca se bateria por aquela opção tão cara.
A forma dececionante como o galês se mostrou no seu primeiro superclássico foi uma derrota pessoal para Ancelotti.
A derrota em Barcelona mostrou outro ponto preocupante para o técnico italiano: enquanto no Barça o dia menos bom de Messi foi compensado com um super Neymar, do lado do Real não há uma alternativa convincente a CR7.
Pois é: afinal, «Mou» até podia ter razão em quase tudo.
«Os jogadores ganham jogos, mas são os plantéis que ganham títulos»
(José Mourinho)
Mas Madrid é passado para o melhor treinador português de todos os tempos.
Em dia em que completou 200 jogos ao comando do Chelsea, no encontro com o Arsenal para a Taça da Liga, José Mourinho vive ainda uma espécie de «segunda lua-de-mel» com Stamford Bridge.
Recorde a receção de Mourinho no regresso a Stamford Bridge:
No regress o ao Chelsea, e ainda na ressaca de meses finais muito crispados no Bernabéu, José Mourinho disse ter voltado ao lugar onde se sente melhor e declarou uma mudança: tinha deixado de ser o «Special One» (aquele que, em 2004, chegava aos Blues como o jovem técnico que acabara de conquistar a Europa com o F.C. Porto), passou a ser o «Happy One».
Percebe-se o sentido da transformação, mas ela ainda está por confirmar: o Chelsea é claramente candidato ao título inglês (mostra futebol para isso), mas ainda procura atingir o ponto ideal.
E depois há um claro risco de «choque de expetativas» (nada de citações ao primeiro-ministro): há quase uma década, Mourinho tinha tudo para ganhar no Chelsea. Deu aos «blues» duas Premier League e criou com os adeptos do clube londrino uma relação duradoura, que agora se refez.
Mas, entretanto, o Chelsea foi campeão europeu, ganhou uma Liga Europa, atingiu outro patamar. O risco de não chegar onde os adeptos exigem é maior.
Mesmo assim, há coisas que ficam. Como o gesto de apoio a Azpilicueta, uma espécie de patinho feio do plantel do Chelsea, de quem ninguém gosta particularmente: «Espero que o respeitem e gostem dele tanto como eu. Os jogadores ganham jogos, os plantéis ganham títulos. Sou um treinador sortudo por ter o César».
Nem de propósito: o espanhol retribuiu o apoio do técnico com o
primeiro
golo do triunfo no
Emirates
, frente ao
Arsenal.
Por essas e por outras, Didier Drogba, hoje no Galatasaray, talvez o exemplo máximo do espírito «Chelsea de Mourinho I», disse do técnico português: «Será sempre o meu «boss». Por ele, vou até ao fim do Mundo».
Ainda está por confirmar que Mourinho seja sempre o «Happy One» nesta experiência Chelsea II. Mas em Stamford Bridge, José será sempre «special». Sempre.
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?