Lembra-se, de certeza, do momento em que Sir Alex Ferguson pôs um ponto final na carreira, após mais de 25 anos à frente do Manchester United. Talvez seja o exemplo mais aproximado (do futebol que os americanos apelidam de “soccer”) do que significa o ponto final que Tom Coughlin colocou à ligação de 12 anos com os New York Giants, equipa da NFL (a liga do futebol que os americanos apelidam… de seu) que o técnico levou a dois títulos no Super Bowl.

OK… O legado de Ferguson em Manchester e no futebol é largamente mais esmagador do que o de Coughlin nos Giants e na NFL, mas não é todos os dias que um treinador consagrado decide, à beira dos 70 anos de idade, sair de cena por vontade própria (Fergie tinha feito 71 anos poucos meses antes de anunciar a sua retirada). E a forma como o “Coronel Coughlin”, já admirado por muitos, disse adeus aos Giants, deixou mesmo toda uma modalidade rendida ao “velho gigante”.

No entanto, Tom Coughlin não disse propriamente adeus - e esse foi um dos “pormaiores” da conferência de imprensa de despedida. Por um lado, não colocou de lado continuar a carreira, por outro, referindo-se à forma como ele e a mulher, Judy, se despedem sempre que Coughlin sai para os treinos ou para os jogos, o técnico disse que «há já muito tempo que a Judy e eu não dizemos adeus (um ao outro) mas sim apenas até à próxima e é isso que aqui quero dizer hoje também.»

De facto, esta partida de Coughlin dando a própria família como exemplo nas palavras finais como treinador dos Giants assenta que nem uma luva a uma realidade do futebol americano que é rara de ver no “soccer”. Nas equipas da NFL são criadas ligações quase “umbilicais” entre jogadores e entre um jogador em particular - o quarterback (o líder da equipa) - e o treinador. Uma relação que, quando resulta, se mantém durante anos a fio. Assim aconteceu entre Tom Coughlin e Eli Manning, quarterback que desde o draft em 2004 (ano em que Coughlin também chegou aos Giants) até há poucos dias apenas conheceu um treinador: Tom Coughlin. Juntos foram campeões da NFL em 2008 e 2012, mas desta vez não conseguiram sequer a passagem aos Play-Off.

No final do derradeiro jogo feito pela equipa de Nova Iorque esta temporada, Eli Manning falou aos jornalistas para dizer que a responsabilidade pelo falhanço da época tinha sido apenas dos jogadores, que tinham defraudado as expectativas do treinador. Na verdade, soube-se depois, Eli culpabilizou-se mesmo pela subsequente saída do técnico.

A última palavra de Tom Coughlin na conferência de imprensa de despedida foi, precisamente por isso, para Eli Manning. E esse foi mesmo o ponto mais emocionante do evento. Mais uma vez recorrendo à analogia familiar, o técnico disse que Eli, de 35 anos (12 deles passados a trabalhar com Coughlin), «é feito daquilo que queremos num filho» e quis deixar claro que o quarterback não tinha razões para carregar a “cruz” da sua saída dos Giants. «O Eli acha que ele é a razão para eu… Ele não é a razão. Eli… não és tu! Sempre fomos nós! Nós vencemos e perdemos juntos! Lembras-te? Quando perdíamos, era eu que perdia. Quando ganhávamos, eram vocês que ganhavam. É assim. Este desporto é assim e eu entendo este desporto. Ele vai lidar bem com isto e vai estar preparado para a próxima temporada como sempre fez. Um bem haja para ele por isso!»

Eli Manning mal conteve as lágrimas enquanto Coughlin proferia as últimas palavras como treinador dos Giants, numa rara imagem vista a um jogador de futebol americano. O “velho gigante” dizia adeus e o “filho” lutava para não chorar.




Agora, Eli e os Giants terão um novo treinador, que ainda não se sabe quem é. Há muitos candidatos, até porque a vaga deixada em aberto pela saída do “Coronel” é uma das mais desejadas da NFL. Mas até lá - e provavelmente por muito tempo depois disso - será lembrada esta conferência de imprensa riquíssima e memorável, que - se realmente gosta de desporto (independentemente de gostar ou não de futebol americano) - deve ver na íntegra, neste link.