Depois de quatro épocas no futebol cipriota, Nuno Assis colocou aos 38 anos um ponto final na carreira. Numa grande entrevista ao Maisfutebol, o antigo futebolista passou em revista mais de duas décadas de vida. Desde os tempos em que foi recusado no Benfica por ser baixinho e umas semanas depois foi levado por Aurélio Pereira para o Sporting.

Nuno Assis, que estava deixar de jogar desde há uns anos, esticou a carreira e garante que ainda tinha condições para continuar a jogar. À medida que o tempo ia passando sentia-me cada fez melhor, as épocas correram cada vez melhor. «É muito fácil parar de jogar quando sentimos que estamos ali a mais, que já jogamos pouco. Esta foi a melhor época que eu fiz e também foi por isso que foi um pouco difícil parar de jogar agora.»

Penduradas as chuteiras com pompa e circunstância (teve direito a um jogo de homenagem no Omonia), Nuno Assis dedica-se agora à MNM, empresa de agenciamento desportivo que criou com os ex-futebolistas Pedro Mendes e Fernando Meira. «É muito mais fácil ser jogador», reconhece.

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Treinar muito, estágios, jogos… E agora que acabou tudo isso? Como tem sido a sua vida?

Para já não tem sido muito difícil esta mudança. Já estava com um projeto com mais dois sócios e foi entrar nesse projeto que já estava em andamento, que é a empresa de agenciamento. Tem sido uma correria de um lado para o outro. Continuo ligado ao futebol e ainda não senti muito essa falta dos treinos. Provavelmente isso vai acontecer mais lá para a frente, mas por enquanto está tudo ótimo.

E como foi este mercado de transferências? Positivo?

Foi bom mas, como estive muito tempo fora, eles os dois [Pedro Mendes e Fernando Meira] estiveram mais envolvidos.

Conseguiram colocar muitos jogadores, concretizar transferências?

Sim, algumas. Mais do que anteriormente. A empresa também tem vindo a crescer nos últimos tempos e o projeto começa a dar os seus frutos. Começámos há cerca de quatro anos.

E é mais fácil ser futebolista ou empresário?

Aaaahh, é muito mais fácil ser jogador, claro [risos]. Só temos de ir lá para dentro e jogar, não temos de ter qualquer outro tipo de preocupação: só jogar e dar o nosso melhor.

Estes anos todos a viver o futebol por dentro enquanto jogador são uma mais-valia?

Claro que sim. Ao ver um jogo, eu consigo perceber facilmente quem tem qualidade ou não. Há pessoas que precisam de mais do que uma vez para o perceberem. Eu e os meus sócios conseguimos perceber mais rápido do que qualquer outra pessoa que não tenha jogado. Haverá outros agentes que terão esse tipo de sensibilidade, mas para nós, que fomos jogadores, penso que é muito mais fácil perceber isso.

Numa entrevista de Fernando Meira à Renascença em 2012, ele dizia que o Nuno ia deixar de jogar no final dessa época. Ainda durou mais quatro anos. Porquê?

Na altura fui para Chipre [Omonia] com a intenção de fazer mais um ano. Nestas idades, os clubes fazem contratos de ano a ano e têm algumas reticências, questionam se temos capacidade para aguentar a época toda… A minha ideia era jogar mais um ano, dois no máximo. Mas foi o contrário. À medida que o tempo ia passando sentia-me cada fez melhor, as épocas correram cada vez melhor e fui ficando, ficando…

(…)

Sabe que é muito fácil parar de jogar quando sentimos que estamos ali a mais, que já jogamos pouco. Se fosse o meu caso, reconhecia logo que não valia a pena. «Estou aqui a fazer número…» Fui-me sentido cada vez melhor até aos 38 anos. Esta foi a melhor época que eu fiz e também foi por isso que foi um pouco difícil parar de jogar agora. Fui ficando no Omonia, renovando de ano a ano, e fui sempre considerado o melhor jogador.

Como é o futebol cipriota?

Quando lá cheguei, havia diferenças muito grandes entre as equipas chamadas grandes e as outras, mas agora já nem tanto assim. Os impostos lá são mais baixos do que na maioria dos países da Europa e isso é uma grande vantagem para eles. Claro que não têm um campeonato muito atrativo mas, como hoje há tantos jogadores disponíveis no mercado, acabam por conseguir jogadores com bastante qualidade. Há várias equipas que têm jogado a Liga Europa e a Liga dos Campeões e só por aí já se percebe que têm de ter alguma capacidade.

Nuno Assis no jogo de despedida após quatro épocas no Omonia

Pelo que foi possível acompanhar, os adeptos do Omonia gostavam muito de si. Voltaram a pedir-lhe para continuar mais um ano?

Sim. Foi-me apresentada uma proposta, mas senti que era altura de parar. Não podia jogar a vida toda. Há pelo menos dois anos que estava a adiar. Foram quatro anos fantásticos e deixei as portas abertas. As pessoas têm uma grande admiração por mim, principalmente no Vitória e no Omonia. Mas esse respeito não se ganha por se ter olhos lindos. Fui ganhando-o ao longo dos anos e por isso é que tive um jogo de despedida, o que não é normal, ainda por cima sendo estrangeiro.

Foi o final de carreira que idealizou?

Ainda por cima jogando fora, num país que não é o meu. Chegar ao fim, fazerem-me um jogo e ainda pedirem para ficar… Claro que qualquer jogador gostaria de acabar desta forma e não a ir caindo aos poucos, como acontece com muitos. Está bem que acabei a carreira em Chipre, mas terminei com 38 anos, a fazer 40 jogos e 13 golos por época.

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