O dia mais difícil da vida de um jogador é aquele em que já não se joga futebol.

A «reforma» chega cedo, o que deve ter vantagens e desvantagens.

Vantagens porque aparece em plena idade adulta, quando existe força e disponibilidade para agarrar outras actividades. Aliás, hoje em dia é raro que alguém antes dos 30 e alguma coisa possa dizer que tem um emprego estável, o que começa a colocar os futebolistas próximo dos restantes trabalhadores.

Desvantagens porque caso essa actividade nova não surja, admito que a frustração seja maior do que depois de anos e anos de trabalho intenso.

Não existe, pois, uma solução simples para este problema.

Quando os jogadores são de pouco nome, o tema nem sequer merece que nós, os jornalistas, escrevamos sobre ele. O que é pena, confesso, porque continua por resolver a questão da segurança social dos futebolistas, um tema grave para já largas dezenas de ex-trabalhadores desta área. Alguns com final trágico, como de vez em quando vamos sabendo.

Quando os jogadores são de nome, o tema ocupa páginas.

É o caso de Nuno Gomes.

Estamos em Junho, o campeonato terminou há um mês e continuamos sem saber se Nuno Gomes permanecerá no Benfica. Ou sequer se continuará a jogar futebol.

Do ponto de vista do treinador do Benfica, Nuno Gomes não deve ser tema que preocupe. Na última época Jesus deu-lhe poucas oportunidades, sinal de que não vê no avançado solução para o plantel.

Por outro lado, Nuno Gomes até fez uns golos e se calhar, feitas as médias, a época do avançado acabou por ser mais produtiva do que a do próprio clube, derrotado em toda a linha pelo F.C. Porto.

Mas como até ver são os treinadores que escolhem os plantéis, resta uma decisão superior para tomar: Nuno Gomes interessa ao Benfica?

O clube da Luz tem tido, e não é de hoje, extrema dificuldade em gerir bem os futebolistas de grande dimensão que passaram pelo clube. O F.C. Porto, por exemplo, tem obtido muito maior sucesso (até montou uma linha de treinadores de razoável sucesso, muito apreciada em Coimbra). Apesar do evidente fracasso que foi Vítor Baía.

Neste caso, como noutros, acho que a análise deve ser fria e partir de duas perguntas: Nuno Gomes é uma pessoa que o clube gostaria de ter? Se sim, qual a função que pode exercer?

A primeira resposta tem sobretudo a ver com qualidades humanas. A segunda relaciona-se com competências.

Para decidir sobre a primeira não deveria ser necessário mais do que um minuto. Afinal, Nuno Gomes está no clube há anos. Luís Filipe Vieira tem obrigação de dizer sim ou não, sem piscar os olhos.

A segunda é mais complexa.

Por princípio, acho que os ex-jogadores são os mais capacitados para qualquer tarefa no futebol. Quanto mais experientes e internacionais melhor. Mas não necessariamente no dia a seguir a pendurarem as botas.

Aliás, acho que todos eles deveriam fazer um estágio. Estudar, conhecer as melhores práticas, viajar, conversar, descobrir exemplos em outros desportos. Dar um tempo. Ligados ao clube, mas sem funções executivas.

No Benfica, infelizmente para o clube, acho que os grandes jogadores são muitas vezes vistos mais como alguém capaz de fazer sombra do que como solução. Rui Costa, temo, é apenas o último e mais evidente exemplo.

Num clube que tem ganho tão pouco, custa-me a aceitar que seja desperdiçada a sabedoria da lista de nomes que passo a enumerar, sem grandes preocupações de rigor: Toni, Humberto Coelho, Preud'homme, Ricardo Gomes, Valdo. Talvez seja justo, no fundo, acrescentar Rui Costa. E um dia destes Nuno Gomes, parece.

Actualizado depois do adeus de Nuno Gomes: Não deveria ter sido assim. Ou se era para ser assim, o comunicado do Benfica não faz sentido.