Para andar atrás da bola, ou melhor, na ânsia e segurar a bola entre as mãos, a vida de Nuno Hidalgo já deu várias voltas. De tal modo, que o jovem de 22 anos natural de Loures é atualmente guarda-redes do Benfica de Castelo Branco, guarda-redes do Sp. Braga de futebol de praia e internacional português da modalidade. Tantas voltas puseram-lhe duas balizas para defender ao mesmo tempo. Missão impossível, portanto. 

A prioridade passa pelo play-off de subida do Campeonato Nacional de Seniores, onde a sua equipa vai defrontar o V. Guimarães B. Mas a decisão não foi fácil, como o próprio reconhece.

O jovem, que fez a sua formação no Sporting, apresenta-se à Maisfutebol Total.

«Sou natural de Loures, mas atualmente estou a viver em Castelo Branco. Comecei a jogar futebol no Loures onde estive dois anos nas escolinhas, depois fui para o Sporting. Fiz a formação no Sporting até aos juvenis, depois fui para o Torreense onde subi a sénior. No segundo ano de sénior fui emprestado ao Malveira. Este ano comecei no Loures e depois, a meio da época, vim para o Benfica de Castelo Branco.»

A época desportiva ao serviço do futebol de praia do Sp. Braga correu de feição e Hidalgo é campeão da modalidade, assegurando por isso uma vaga na Liga dos Campeões. No mercado de transferências de inverno transferiu-se para o Benfica albicastrense e também não se pode dizer que se esteja a dar mal. A equipa classificou-se para o play-off de subida aos campeonatos profissionais, o que pode valer o maior passo da carreira do atleta.

No meio de tantas voltas, o destino havia de lhe pregar uma partida: duas balizas e dois momentos importante ao mesmo tempo. Nuno Hidalgo teve de escolher entre o play-off de subida do Campeonato Nacional de Seniores e a prova equiparada à Liga dos Campeões do futebol de praia. 




«Acreditava no primeiro lugar para poder ir à Liga dos Campeões»

O Benfica de Castelo Branco vai disputar a subida de divisão até ao último fôlego. Falhado o primeiro lugar da zona sul, segue-se a disputa de uma eliminatória a duas mãos com a equipa B do V.Guimarães. Os jogos estão agendados para 1 e 8 de junho. A participação do Sp. Braga na 'Euro Winners Cup', em Catânia, Itália, está agendada para o período entre 3 e 8 de junho. Um dos dois compromissos tinha de cair por terra.

Com o aproximar das decisões, e o evoluir do Campeonato Nacional de Seniores, Hidalgo começou a aperceber-se da possibilidade de não dar conta de ambos os recados: «
À medida que o campeonato foi decorrendo e depois da derrota em Leiria ficamos dependentes de terceiros para festejar a subida. Mas eu ainda acreditava que podíamos ficar em primeiro para poder ir à Liga dos Campeões. Ao ficarmos em segundo vi logo que tínhamos um play-off pela frente e as datas iam coincidir e não podia ir à Liga dos Campeões».

A decisão está tomada, como se percebe pelo discurso. Não houve grande escolha a fazer; a grande prioridade do guarda-redes é o futebol.

«Era complicado deixar o Benfica de Castelo Branco numa fase tão importante para o clube, para a cidade e para os próprios jogadores. Gosto muito do futebol de praia, gostaria muito de ir lá com oSp. Braga, mas tornava-se complicado. Apesar de ter acordos com as duas equipas, era visível que eu não poderia ir à Liga dos Campeões e deixar o play-off, ainda por cima os dois jogos», explica Nuno Hidalgo à nossa revista.

Ainda a edificar a sua carreira, o objetivo imediato passa por chegar com o Benfica de Castelo Branco à II Liga, mas o guarda-redes não consegue desligar a ficha do futebol de praia: «Sempre que puder e sempre que as pessoas me quiseram estou disponível para continuar a jogar futebol de praia, quer na seleção portuguesa quer no meu clube, que neste momento é o Braga». 




Como se junta o futebol ao futebol de praia?

Voltando às voltas da vida de Nuno Alexandre Hidalgo Costa Pereira: estando a jogar em Castelo Branco, como é possível manter-se em atividade no futebol de praia, ao serviço do Sp. Braga? 

O futebol sempre foi objetivo de vida para Nuno Hidalgo. «Fui sempre guarda-redes, quando era miúdo na rua às vezes ainda jogava à frente, mas como tinha jeito para a baliza e havia poucos miúdos interessados em ir à baliza eu decidi ir para a baliza; jogar à bola sempre foi uma ambição», explicou o guarda-redes.

A variante de praia chega depois de futebol, por lazer e na época de verão. «Quando estava de férias jogava futebol de praia com os meus amigos nos torneios de verão. Depois houve a hipótese de ir fazer uns treinos de observação à seleção nacional. Compareci nesses treinos e fui ficando até que joguei depois o campeonato nacional pelo Sporting. Fiquei em segundo no Sporting, depois na época a seguir fui campeão pelo Belenenses e no ano passado fui campeão no Braga. A partir do momento que fui campeão no Belenenses comecei a ser convocado para os jogos da seleção».

Ou seja, Nuno Hidalgo é bicampeão nacional de futebol de praia, participou pelo Belenenses na primeira edição da Euro Winners Cup, Liga dos Campeões de futebol de praia, e é internacional por Portugal.

Dá para escolher entre o relvado e o areal? «É diferente porque o futebol de praia é na altura do verão, em que os campeonatos estão parados. Não dá para jogar o ano inteiro como o caso do futebol, é um desporto sazonal e não tem uma estrutura que permita ser profissional de futebol de praia e jogar o ano todo». 



Campeonato Nacional de Seniores na reta final

A escolha está tomada e não há volta a dar. As atenções de Nuno Hidalgo estão centradas no Campeonato Nacional de Seniores, que está na reta final. Oriental e Freamunde venceram a Zona Sul e Zona Norte respetivamente, e por isso mesmo asseguraram um lugar no futebol profissional português, ascendendo à II Liga. Disputam entre si o título de Campeão Nacional em Viseu, a dia 10 de junho. 

Benfica de Castelo Branco e V.Guimarães B ficaram em segundo lugar e discutem entre si a terceira e última vaga de acesso à II Liga. O primeiro encontro entre ambos os conjuntos é já este domingo, no Estádio Municipal Vale do Romeiro. Hidalgo ironiza com o facto de o adversário ser o V.Guimarães, rival do clube que vai deixar de representar em futebol de praia.
«Vou jogar contra o rival do Braga, espero que ao menos a gente ganhe», atirou entre sorrisos.

Perspetivando o jogo de domingo, e ironias à parte, Hidalgo espera um jogo complicado perante a «equipa recheada de miúdos com qualidade» de Vitória de Guimarães B.

«Sabemos que o V.Guimarães é uma excelente equipa, não sabemos se vêm com alguns jogadores da equipa principal, mas mesmo só os jogadores da equipa B têm uma boa equipa e praticam bom futebol. É uma equipa recheada de miúdos, mas miúdos com qualidade. Mas nós também temos uma boa equipa, também somos jovens. Sabemos que vai ser difícil, mas também vai ser difícil para eles e estamos cá para lutar e para sair vencedores», refere Nuno Hidalgo sobre o primeiro embate com o Vitória.

Nuno Hidalgo não vai à «Champions» da areia, fica-se por outro desafio igualmente aliciante na sua carreira. Desde janeiro é profissional da bola no Castelo Branco, e está a dois jogos do passo mais importante enquanto futebolista. Por isso, não há que esconder: «Estes dois jogos são, até agora, os mais importantes da minha carreira».