Ironia suprema: o 25 de Abril já chegou à Coreia do Norte. Chegou e instalou-se com toda a força, aliás. Num país marcado por todas as restrições e proibições, no futebol manda o 25 de Abril. Mas atenção: não era este 25 de Abril que Dias da Cunha pedia para o futebol português há uns anos, seguramente.

Coreia do Norte: o maior estádio do mundo, com vista curta para o futebol

O 25 de Abril norte-coreano é oposto ao português. Em Portugal é sinal de liberdade, na Coreia é sinal de ditadura. Representa a data da fundação do exército, a força implacável que defende Kim Jong-il. É também o nome do clube mais vencedor do futebol coreano e o principal fornecedor da selecção.

Aliás, praticamente todos os jogadores são internacionais. Mas apenas se sabe isso: os nomes e as internacionalizações. Para além, claro, de se saber que representam a maior força norte-coreana: o exército, liderado por Kim Jong-il e que emprega 20 por cento da população masculina entre os 17 e o 52 anos.

Coreia do Norte: «Um pesadelo bem pior que a União Soviética»

Já ganhou dez vezes a liga norte-coreana e fornece seis jogadores à equipa nacional. Como quase todos os clubes, representa uma força do poder. Neste caso o exército. Outros representam o ministério da segurança, o ministério da energia, enfim. Vivem dos subsídios estatais e disputam uma liga semi-profissional.

A Coreia do Norte divide a temporada em dois campeonatos, o primeiro entre Fevereiro e Junho, o segundo de Setembro a Outubro. Como o país não respeita as regras de transferências internacionais, nem deixa os seus atletas jogarem no estrangeiro de livre vontade, os clubes não disputam as competições asiáticas.

Os jogadores no estrangeiro e a história de Jong Tae-Se

Ora também por isso, a experiência internacional dos jogadores norte-coreanos limita-se quase apenas aos jogos da selecção. Deste lote exclui-se, porém, os internacionais que nasceram fora do país e que o regime recrutou para ajudar a selecção: Ahn Young-Hak (Coreia do Sul) e Ryang Yong-Gi (Japão).

Nesta altura convém incluir um parágrafo à parte para falar de Jong Tae-Se. Trata-se de um avançado que joga no Japão e é o maior destaque da selecção. Não tem ligações ao país, para além de ter sido educado num colégio norte-coreano, no Japão. Identifica-se com o regime e escolheu representar o país.

Jong Tae-Se: norte-coreano por convicção

Voltando à selecção, convém dizer que regime de Kim Jong-il está decidido a fazer evoluir o futebol: enviou dois atletas para a Rússia, dois para a Suíça e um para a China. Mas os cinco não viajaram sozinhos. Para saber mais sobre a história deles, continue a seguir a Viagem ao Império do Silêncio.

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