Teaneck, New Jersey, EUA. Giuseppe Rossi faz a primeira aparição a 1 de fevereiro de 1987. Americano por nascimento, italiano nas origens. No Garden State é um entre milhões. Para a Fiorentina, para a seleção norte-americana não o será, porém. Para a Juventus idem. 

A Vecchia Signora vencia 2-0 aos 66 minutos este fim de semana. Tevez e Pogba provocaram os adeptos rivais nas celebrações dos golos. Rossi veio ao resgate com um hat-trick e os viola venceram (4-2). Três golos em 15 minutos do número 49. Homem do momento em Florença, é também o América de Parma. E o  El Italiano de Villarreal. Para além de vilão no país em que nasceu.

«Fora do campo sempre me senti americano. Dentro de campo, italiano.»

Ninguém melhor que o próprio Giuseppe Rossi, em entrevista à Guerin Sportivo, para resumir a carreira.

Rossi nasceu em Teaneck, mas cresceu em Clifton, New Jersey. Ali tornou-se um stallion (garanhão), um italian stallion, alcunha de Rocky Balboa no cinema, vida real para o avançado da Fiorentina. Os Clifton Stallions eram treinados pelo pai, Fernando, o homem que lhe influenciou a vida.

Aos nove anos do miúdo, decidiu que as férias de verão de Giuseppe não iam ser a jogar beisebol com os amigos, mas sim num campo de treinos de futebol em Tabiano Terme, perto de Parma.

Um estrangeiro para o resto dos miúdos, Rossi passou a ser simplesmente o América.

Ao fim de três anos, pai e filho mudaram-se em definitivo para Itália. Giuseppe ia jogar nas camadas jovens do Parma.

«Rossi é um pequeno campeão. Joga com o pé esquerdo e o direito. Pode fazer qualquer posição do ataque, como Messi faz no Barcelona.»

O elogio de Marcelo Lippi chegou muitos anos depois de Giuseppe ter «aterrado» em Parma. Mas terão sido estas mesmas capacidades que levaram o Manchester United a recrutá-lo, numa altura em que o avançado já andava pelas seleções jovens da Squadra Azzurra.

Em 2005, os EUA acordaram. Rossi não era o primeiro norte-americano a jogar no Manchester Utd. Havia por lá Tim Howard. Mas, longe de ser uma superpotência, a seleção norte-americana não podia desperdiçar talento tão raro.

O convite chegou por Bruce Arena, selecionador da altura. A ideia era jogar um particular com a Escócia. Rossi declinou. Mais tarde, por esta e por outra razão, seria chamado de traidor. E sabe-se como os americanos têm sentido patriótico.

No United marcou um golo. Passou pelo Newcastle e voltou ao Parma, pelo qual se estreou na Serie A. Fez golos e evitou que a equipa caísse para a Serie B.

Seguiu-se Villarreal, Espanha, em 2007. O América não teve grandes problemas em adaptar-se. Ali passou a ser El Italiano, conforme indica a ESPN, em reportagem de 2010.

No Villarreal marcou muitos golos. Tornou-se até no melhor marcador de sempre do clube. Ao mesmo tempo ganhava espaço nas escolhas dos selecionadores italianos. Até aí, os americanos admiravam a história de um compatriota que conseguiu entrar numa das melhores seleções do mundo. Caso único.

Mas chegou 2009. E a Taça das Confederações.

A Itália defrontou os EUA na fase de grupos, no primeiro jogo das duas equipas na prova.

Rossi foi suplente. Havia 1-0 para os americanos quando pisou o relvado. Um minuto depois, Giuseppe empatou o jogo. Danielle De Rossi fez o 2-1 e Giuseppe marcou de novo para o 3-1 que fechou as contas.

Contas fechadas no jogo, polémica aberta. Os adeptos do soccer não lhe perdoaram, fizeram t-shirts, criaram canecas com Rossi, Judas para venda online. No facebook, um grupo novo: Giuseppe Rossi é um traidor. Os EUA acabaram por qualificar-se para a fase seguinte, a Itália não.

A vida continuou, Rossi falhou o Mundial 2010, mas chegou a capitão da Squadra Azzura, em novembro desse ano, num particular contra a Roménia.

No Villarreal tudo corria bem. Até outubro de 2001. Uma rotura de ligamentos num jogo com o Real Madrid atira-o para uma primeira cirurgia ao joelho direito. No total, foram três operações e um ano e quatro meses de paragem.

A Fiorentina já o queria em 2007. Conseguiu-o em 2013, em janeiro, a meio da recuperação. Escolheu a camisola 49, o ano de nascimento do pai, entretanto falecido.

Estreou-se pelos viola na última jornada de 2012/13. Marcou pela primeira vez já nesta temporada, na jornada inaugural com o Catania.

Entre o último golo com o Villarreal e o primeiro com a Fiorentina passaram 22 meses.

Rossi renasceu ali.

Nesta «segunda vida», fez um hat-trick à Juventus em poucos minutos. O primeiro da carreira.

Só dois futebolistas em toda a história da Vecchia Signora fizeram melhor na Serie A. Dois gigantes: Silvio Piola (pela Lazio) em 1942 e José Altafini (pelo Milan) em 1961 marcaram quatro aos de Turim.

Voltando às origens, de New Jersey, um argumentista escreveu para o protagonista da sequela de Eddie, o Rebelde: « Não há lugar no mundo como o Garden State. Tem-se milhas e milhas de pântanos e montanhas de lixeiras...há rios de todas as cores...cemitérios de automóveis, cervejarias, fábricas, campos de jogos, tudo misturado. É o melhor sítio para se viver» Outra personagem responde: «Deve ser por isso que a Estátua da Liberdade está a olhar para outro lado.»

Giuseppe Rossi fez o mesmo ao soccer. E olha o calcio de frente.