Chama-se Jens Peters, é austríaco e durante toda uma vida foi um mero funcionário de uma empresa. Uma noite, sentado no sofá de casa em Villach, viu um filme que lhe mudou a vida. «Era uma curta de quatro minutos, não me lembro do nome nem do realizador», conta ao Maisfutebol no relvado do Soccer City

O filme era sobre um grupo de alunos de uma universidade que tinha de apresentar um projecto final de curso. Eram fãs de basebol e criaram um sistema que permitia acompanhar os jogadores a partir de cima. «É mesmo isto», pensou Jens. Despediu-se, fundou uma empresa própria e criou a Spidercam.

Durante três anos fechou-se num estúdio. Fez cálculos, mediu ângulos, experimentou planos. Três anos depois tinha o sistema pronto. Suspenso em cabos, caminha todos os espaços, levanta e desce, corre ao lado dos jogadores. «Permite ter um plano como se o espectador estivesse no relvado.»

Uma surpresa até para os jogadores

A primeira dúvida: nunca foi atingida por uma bola? «Esse é o meu grande pesadelo», conta Jens Peters, consciente de que um acidente desses pode ser o fim do sistema. «Até agora nunca aconteceu.» No Mundial, garante, é impossível: «A FIFA é muito rígida. Quando a bola está em jogo, a câmara tem de estar alta.»

Com a UEFA é muito diferente. «O primeiro teste foi em 2005, na inauguração do Arena de Munique. Já estivemos no Euro 2008 e nas duas últimas finais da Champions. Com a UEFA podemos seguir os jogadores a quatro metros do relvado.» Agora é a primeira vez que está no Mundial e surpreende até os jogadores.

Sobretudo durante o aquecimento, é frequente ver os atletas brincar com a câmara. «Não é a primeira vez que acontece. Na final da Champions de Roma, os jogadores do Barça fartaram-se de brincar com ela.» Já Ronaldo e companhia nem por isso. «Os do Manchester não gostaram. Tentaram atingi-la com a bola.»

Inspirada no Star Wars e com uma passagem por Portugal

Não conseguiram e Jens respirou de alívio. Um sistema é caro. Por isso só há oito no mundo. Quatro estão no Mundial: no Soccer City e no Ellis Park, ambos de Joanesburgo, na Cidade do Cabo e em Port Elizabeth. Já esteve uma vez em Portugal, na final da Taça de 2008: a final de Tiuí, que bisou com o F.C. Porto.

Cada um tem 3,5 quilómetros de cabos e desliza nove metros por segundo. Mas há mais: foi inspirado no Star Wars. «O desenho imita os capacetes dos Star Troopers», conta. «Os meus filhos são fãs e coleccionam capacetes. Inspiraram-me para fazer o desenho da câmara.» O resto é a vista do relvado. Veja como funciona: