O DocLisboa recuou esta quinta-feira até 1990 com a exibição de «Droit au But», o documentário de Pillippe Costantini que pegou no lema do Marselha para também ele, um ano depois, exibir quão imensa parte o clube do sul de França representa ao mesmo tempo que constitui uma cidade com características muito próprias no território gaulês.

É um relato vivo - muito vivo mesmo - daquele que é adepto (não importa o estrato social ou a cor da pele) que resulta extremamente colorido - e não só apenas no branco e azul deste Olympique tal é a diversidade de marselheses cuja identidade é a mesma quando o que está em causa é o seu O.M..

O magistrado, o líder dos Ultras do topo Sul do Estádio Vélodrome, o pescador que segue o clube desde 1922, o professor reformado que não perde um jogo desde os tempos da II Divisão, os descendentes das ex-colónias francesas em África que dominam os subúrbios da cidade: todos eles são iguais na manifestação tão irracional como extática que é a celebração de um golo ¿ como o depositar da esperança num agora (então) O.M europeu liderado pelo fenómeno e herói Bernard Tapie.

A entrada nos anos 90 foi marcada pelo regresso de um clube francês aos lugares mais altos do pódio do futebol europeu. E pela substanciação desse seu recém-adquirido quinhão de grande da UEFA com o total domínio no campeonato gaulês. «Droit ou But» é passado nas vésperas e durante um O.M.-Bordéus que se jogou entre uma semi-final da Taça dos Campeões com o Benfica.

Quanto à eliminatória europeia que terminou no golo de Vata, poucos não se recordarão que adiou o título europeu para mais tarde. E desta vitória que contribuiu para mais um título no campeonato francês, também poucos para além dos marselheses serão aqueles que se lembram de ver o 2-0 ao Bordéus. E permanecemos sem vê-lo. «Droit au But» é um interessante e múltiplo relato que não nos dá uma imagem de futebol.

O que nos Costantini nos dá são os relatos de todos os actores descritos; é o relato das manifestações de vários deles no Vélodrome, de cujo relvado não vemos uma jogada; mas no qual se é conduzido pelo relato do repórter na bancada de imprensa que explica o pulsar dos corações marselheses, desta vez a baterem no Cinema São Jorge, em mais uma sessão da Doc Foot do festival.