Sei que o Benfica não cai sempre de pé, até porque já o vi estender-se ao comprido ainda este ano, mas acho que cada vez mais se parece com um gato.

Sobre eles, diz-se que têm sete vidas. Uma ideia mitológica provocada por um excelente sistema imunitário aliado à agilidade que evita qualquer tombo. O Benfica deste ano, se não tem sete, anda lá perto.

Depois da vergonha suprema na Europa, do adeus precoce às Taças internas, do casting de guarda-redes em competição, de Douglas, da mudança de esquema, de Gabigol, das várias polémicas vindas a público envolvendo dirigentes e notáveis do seu universo, da lesão de Luisão, do sumiço de Seferovic, da lesão de Krovinovic e do empate no Restelo quando tudo parecia corrigido, o Benfica está a dois pontos da liderança. Podem ser cinco, mas já lá vamos.

A verdade é que, com tanto tropeção e embaraço, o mais normal seria uma espiral negativa que atirasse a equipa para longe do penta. Que o sonho esteja de boa saúde por esta altura já é, de si, meritório.

Mas as culpas também têm de ser apontadas aos rivais. Tiveram o Benfica no tapete em vários momentos e não conseguiram.

Primeiro o FC Porto, no Dragão. Falta de pontaria, azar com a arbitragem e um nulo que fez o Benfica agarrar-se à luta com as pontas dos dedos.

Depois o Sporting, na Luz. Onde um resultado, é preciso dizer, enganador, esteve a minutos de vingar. O Benfica voltou a agarrar-se à tábua.

Por fim, ambos, à vez. O Benfica cede no Restelo, o FC Porto responde na mesma moeda, o Sporting faz ainda pior na semana seguinte.

E chegamos aqui. Com o Benfica fora de tudo, mas bem dentro do campeonato. E com um ponto que pode ser determinante, sobretudo se a diferença for mesmo os dois pontos e não os cinco que o FC Porto pode conseguir: um calendário deveras mais simples. Basta olhar para a classificação da Liga. Quando, este sábado, terminar o jogo com o Portimonense, o Benfica já terá jogado nos estádios de todos os rivais do 1.º ao 12.º classificado da Liga, exceto Alvalade. Parece que o mais difícil já passou, mas nunca fiando.

Ter sobrevivido a uma espiral negativa no início da época, que agora até parece coisa de outra vida, foi decisivo, até porque, além do calendário teoricamente mais simples, há outro dado importante: da teoria à prática, é, de certeza, um calendário mais desafogado. Pelo menos até meio de março.

Deixar o Benfica «vivo» foi um erro que pode custar o resgate a FC Porto e Sporting ainda que esteja capaz de antever que, se, porque vão na frente, os homens de Sérgio Conceição, pela fome imensa que mostram desde o início, terminarem o mês de fevereiro com os tais cinco pontos à maior - e até porque os rivais, encarnados incluídos, não têm feito da regularidade regra -, ficarão na pole-position para festejar em maio.

Qualquer outro cenário deixará a dúvida permanecer mais intensa, sendo que o Benfica já provou, há dois anos, que é bem capaz de uma prova em recuperação até à vitória.

Se chegar lá de novo, é fazer o teste: deve haver sangue felino nas veias da águia.

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.