Sérgio Conceição já tem os adeptos do FC Porto na mão.

Chego a esta conclusão com base nos dois C’s que o treinador portista tem exibido: carisma e competência. Mas, sobretudo, com a forma como saiu do triplo C: o ‘Chamado Caso Casillas’.

Todos os treinadores têm um preciso momento em que agarram definitivamente os adeptos. Se nos centrarmos apenas no universo FC Porto, é fácil chegar à conclusão que José Mourinho o conseguiu logo na primeira conferência de imprensa, André Villas-Boas com os 5-0 ao Benfica e Vítor Pereira aos primeiros resultados negativos de Paulo Fonseca.

Com Sérgio Conceição, a afirmação definitiva pode muito bem ser a gestão do tal triplo C. Para já, insisto, parece-me que Conceição tem os adeptos na mão.

Recentemente assistia às inócuas entrevistas pré-jogo à porta do estádio, antes do duelo com o Paços de Ferreira. Num canal que nada tinha a ver com o FC Porto, sublinhe-se. O tema era a baliza: Casillas ou Sá? Arrisco, de cabeça, que 90 por cento dos inquiridos respondiam José Sá.

Ora, que uma fatia tão grande de adeptos, aparentemente escolhidos ao acaso, prefira José Sá a Iker Casillas indica, claramente, que Sérgio Conceição tem passado bem a sua mensagem. Carisma e competência, lá está. A equipa ganha e os adeptos identificam-se com o discurso do treinador. Nem o guarda-redes que era, por ventura, a maior bandeira da equipa na Europa do futebol está acima disso.

Aqui entra o parêntesis do autor. O discurso de Sérgio Conceição parece, de facto, ter convencido os adeptos. A quem tem por obrigação questionar, porém, não pode convencer. Quando há uma mudança por opção técnica, apenas, é necessário que aconteça uma de duas coisas: ou o substituído tenha feito asneira ou o substituto tenha mostrado qualidades suficientes para contestar o lugar. Não me parece que alguma delas tenha acontecido aqui.

O caso mais parecido que me ocorre, de novo no universo FC Porto, foi protagonizado por José Mourinho, que em 2002 trocou Vítor Baía por Nuno Espírito Santo à 2.ª jornada. Também aí o suplente não parecia estar à altura do titular, exceto aos olhos do treinador. Quando Co Adriaanse substituiu o mesmo Vítor Baía por Helton, a situação já era diferente: era um cenário que se adivinhava numa questão de tempo. Talvez por isso, uma e outra troca tenham tido a sorte que a história nos lembra.

Os próximos jogos serão decisivos para perceber a validade da aposta e atestar a competência e carisma de Conceição para lidar com o tema. A verdade é uma: se, por esta altura da época passada, Nuno fizesse a mesma troca, não seria difícil antever receção diferente.

De qualquer forma, o rendimento de José Sá, que recorde-se não conseguiu tirar o lugar a Salin no Marítimo, será decisivo. Se a marcha portista seguir indiferente ao burburinho causado pela ausência de Iker Casillas entre os postes, será certo que o treinador entrará na galeria dos intocáveis. Se ruir entretanto, será o teste de fogo.

Para já, Conceição vai embalado. Ao ritmo do carisma que faz com que o grosso daquilo que gosta de chamar «mar azul» se reveja na postura do seu líder e da competência de uma equipa de recursos limitados, mas espremidos até à última gota e assente em vários jogadores recuperados e de alma lavada, com Marega à cabeça.

Dois C’s que embalam o treinador e que até permitem o luxo de se retirar da equação o C de Casillas, desde que no final da época haja C de campeão.

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.