Dos nórdicos se diz, com mais ou menos rigor, serem pessoas frias. Racionais, cidadãos conscientes, organizados. Quem os visita sai com essa impressão, de facto, embora também no norte da Europa haja lugar a excepções. O exemplo do AIK Solna (Estocolmo) é interessante. Anos a fio disputou com sucesso o domínio do futebol sueco com o Gotemburgo e o Malmo.

Venceu dez campeonatos, encheu o mítico Rasunda Stadium jogo após jogo e foi premiado com a presença na Liga dos Campeões em 1999/2000. Arsenal, Barcelona e Fiorentina revelaram-se adversários intransponíveis (um empate e cinco derrotas), o sonho durou poucos meses e causou mossa.

O ambiente inigualável das noites da Champions tornaram-se uma obsessão. O AIK quis voltar a provar o sabor do futebol de topo e deitou tudo a perder. «Investimos demasiado», admite ao Maisfutebol o director-desportivo do AIK, Johannes Wiklund.
«Perdemos o rumo durante duas épocas, apenas duas. O clube contraiu empréstimos com juros altíssimos e desequilibrou as suas finanças. Perdemos muitos jogadores e em 2004 aconteceu o impensável.»

O poderoso AIK desceu de divisão. Um dos três maiores clubes da Suécia.

Falência do patrocinador apressa a queda do Parma

Em Itália há uma história diferente, embora possua traços em comum. O Parma é um fenómeno recente. Subiu pela primeira vez à Serie A suportado no investimento ufano da Parmalat. Às custas do segundo lugar obtido em 1996/97 chegou à Liga dos Campeões. Procurou mais, quis chegar onde não podia e desabou.

Os sintomas de crise agudizaram a partir de 2000. Em 2003 a empresa Parmalat abriu falência e fechou as portas. O Parma perdeu o principal patrocinador e o estatuto trabalhado ao longo de uma década. «Foi uma fase negra. Vendemos todos os grandes jogadores que tínhamos. Buffon, Cannavaro, Thuram, Sérgio Conceição e muitos outros. Com esse lucro conseguimos sobreviver», detalha Alessio Paini, director-geral do clube.

O clube agoniza, entra em convulsão e chega a ser vendido em hasta pública no ano de 2006. Desportivamente, os danos são irreversíveis. O Parma volta à Serie B, 18 anos depois. «Ainda assim tivemos sorte. Só estivemos um ano na Serie B. Subimos logo depois à primeira divisão e nesta altura somos um clube equilibrado. Mas, claro, é impossível pensar em algo mais do que a manutenção.»

O Parma AC ocupa o 12º lugar e tem a manutenção praticamente assegurada. A lição do passado foi entendida por todos no Estádio Ennio Tardini.

A ilusão servida em doses maciças

Para final de conversa, perguntámos objectivamente: a Liga dos Campeões foi um passo demasiado grande? As respostas coincidem, apesar dos contextos antagónicos dos clubes.

«Criou-nos a ilusão de que poderíamos ombrear com os maiores da Europa», assume Alessio Paini, do Parma. «A direcção não quis fazer má-figura na Champions. Por isso maquilhou a limitação do clube com a compra de demasiados jogadores.»

Ao contrário de muitos outros, AIK Solna e Parma parecem ter aprendido com os erros. Chegaram ao topo, caíram desamparados e levantaram-se apoiados no realismo.