O pobre tem razões para ser desconfiado. É o enteado da vida, o patinho feio num mundo de cisnes altivos. E quando a esmola é grande... Esta máxima da sábia cultura popular encontra eco num exemplo do planeta-futebol, a Liga dos Campeões.
O Maisfutebol fez um levantamento aturado e chegou a uma conclusão curiosa: a esmagadora maioria dos emblemas de pequena/média dimensão a chegar à Champions conhece nos anos seguintes o reverso da medalha.
A crise anunciada em 16 exemplos
Para o leitor agarrar o nosso raciocínio, tomemos o Boavista como ponto de partida. Clube emergente na liga portuguesa, campeão de Portugal em 2001, duas participações na Liga dos Campeões e... uma queda abrupta na bruma dos quadros competitivos nacionais. Falar em numa ligação directa, de causa-efeito, será abusivo, embora seja inequívoco que só uma ultra-rígida gestão financeira pode atenuar os efeitos secundários da euforia.
AIK e Parma aprenderam a lição

E é mesmo dos efeitos secundários que queremos falar. Estes emblemas - Boavista incluído - da amostra recolhida pelo nosso jornal chegaram ao nirvana futebolístico e depois bateram de frente na dureza da realidade. É uma espécie de ressaca, depurada no descontrolo dos investimentos, na ambição avarenta, numa estrutura institucional pouco sólida.

Repetimos: a Liga dos Campeões tem o reverso da medalha e é disso que lhe falamos. Há 17 histórias a suportar a nossa versão.

Descida de divisão: um destino comum aos «invasores»

A elite europeia raramente abre espaço à entrada de caras novas. A fronteira é profunda e cerceada por um arame farpado sustentado em milhões de euros. Os mais endinheirados têm as portas franqueadas, os humildes passam uma vida à espera numa fila interminável.

F.C. Kosice, Lierse, Parma, AIK Estocolmo, Molde, Leeds, Nantes, Newcastle, Lens, Real Sociedad, Celta de Vigo, F.C. Thun, Boavista e Real Betis. Uma lista interminável de emblemas sem nada em comum. Aparentemente, apenas aparentemente. Todas estas instituições participaram na Liga dos Campeões e, poucos anos depois, desceram de divisão.

Num efeito boomerang, a aposta exacerbada caiu-lhes em cima. Entraram em colapso. Alguns recuperaram, outros não. Exemplo a exemplo, mostramos-lhe cada um destes casos e falamos com dirigentes de dois destes clubes. Mas a lista não fica por aqui. Outros houve que escaparam à despromoção desportiva, mas não à depauperação do património e do prestígio.

Resistentes? Há, mas poucos. Hajduk Split, Basileia, Legia Varsóvia e Atl. Bilbao invadiram o terreno sagrado e escaparam praticamente incólumes. São excepções que confirmam esta regra indúctil.

Bem-vindo ao lado mais negro da Liga dos Campeões.