Miguel Relvas, ministro, entregou esta sexta-feira o colar de honra ao mérito desportivo ao empresário de futebol Jorge Mendes.

Um decreto-lei de 27 de Fevereiro de 1986 define o âmbito de atribuição desta condecoração. «O colar de honra ao mérito desportivo destina-se a individualidades e colectividades nacionais ou estrangeiras que se hajam distinguido por valioso e excepcional contributo prestado à causa do desporto e à aproximação desportiva entre os povos».

Tenho dificuldade em descobrir na atividade de Jorge Mendes um «valioso e excepcional» contributo prestado à causa do desporto. E certemanente não ostenta hoje o colar por ter contribuído para a aproximação desportiva entre os povos.

Este são dias em que perigosamente tendemos a olhar para tudo com pressa e leveza, saltando de um tema para outro. Colar para o empresário Jorge Mendes? Porque não? Afinal ninguém faz tanto dinheiro a passar jogadores de um lado para o outro, esse mérito deve ter. Futebolistas, logo desporto, certo?. Nem por isso.

A atividade empresarial de Jorge Mendes é notória, mas não descubro ali mérito desportivo que justifique o colar. Quer dizer, não mais do que na atividade daquele empresário que importa bolas de ténis, na do outro que ganha dinheiro a organizar torneios de golfe ou na daquele que monta relvados sintéticos.

Por outro lado, cada vez invejo mais a coragem dos que se levantam cedo ao fim-de-semana e percorrem quilómetros só para manter em competição rapazes e raparigas, em diferentes desportos. Cada vez com menos meios e com maior dificuldade. E mérito, indiscutível.

Nada tenho contra Jorge Mendes, que sem dúvida possuirá imensos méritos, nem por isso desportivos. Mas cada vez me choca mais a leveza com que estas coisas são feitas. Miguel Relvas é mais um daqueles ministros que passam pelo desporto para ficar bem nas fotografias. Depois deles, se tivermos sorte, tudo terá ficado exatamente igual no desporto. Neste caso, desconfio muito da nossa sorte.