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«O Meu Bairro em Botafogo» é o espaço de opinião do enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos de 2016. Pode seguir o jornalista Pedro Jorge da Cunha no Twitter.


Dia 1 no Rio de Janeiro. Sonos trocados, buzinas estupidamente nervosas e madrugadoras, mau humor. Inevitável. Café da manhã (sempre adorei ouvir isto nas telenovelas da Globo) excessivo, misturas perigosas, atentado à estabilidade da fauna e flora orgânica.

Mau humor e sensibilidade da flora gastro-intestinal. Perigoso.

Tudo resolvido, porém, ao conhecer Luiz Gabriel. Garçon de sorriso permanente e a expressão «e aí meu velho?» na ponta da língua. E aí, Luiz?

Nasceu na favela do Engenho de Baixo, jogou futebol e sempre se afastou das drogas e da vida do crime. «Vi morrer mais de 20 amigos de infância», diz ao cliente lusitano, já no papel de companheiro de longas batalhas e ainda mais conversas.

Conta aí, Luiz. «Joguei muita bola, fui colega do Zico e da família dele. Somos todos do Mengão». Aqui, não há exagero, as lágrimas escorrem pela cara do sorridente Luiz. O Flamengo é religião. O Flamengo e Zico.

«O cara marcou mais de 800 golos. E não era centro avante. Se fosse, ué, tinha feito dois mil».

Luiz Gabriel garante que era mesmo bom de bola. Jogou na formação do Mengão, afastou-se das más companhias dos verdes anos, mas rendeu-se a outro dos prazeres: a arte do galanteio.

«Eu via os meus amigos de revólver à cinta a perguntava: ‘oh cara, as minina assim não chegam perto de você. Olha eu aqui cheirosinho, elas adoram’. Foi por isso que eu abandonei o futebol».

Por isso o quê, Luiz? «Ué, fui marcar golos para motéis. Apaixonei-me dezenas de vezes, vou no terceiro casamento e tenho três filhos. Sou feliz sem futebol. O meu coração é demasiado grande».