«O Meu Bairro em Botafogo» é o espaço de opinião do enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos de 2016. Pode seguir o jornalista Pedro Jorge da Cunha no Twitter.
Conversa de botequim. «Esse Brasil é uma anedota. O Neymar só pode estar de gozação comigo».
O cliente berra, irrita-se, provoca o paciente empregado de balcão. «Ò Silva, até você com essa barriga de gordo fazia melhor».
Duas cadeiras ao lado, procuro o dom de ser invisível. Olhos no jornal, silencioso. Já sei como estas coisas acabam.
«Ei companheiro…» (eu não disse?), «você está a ver isto?»
«Sou português, amigo. Está a correr mal?»
Maldita a hora em que perguntei. Dou o flanco e o homem senta-se logo ao meu lado. Grita, sinto-lhe o bafo do último chopp. «No meu tempo e na minha equipa esses otários nem para o banco iam. Já não há malandragem, é tudo bonzinho, meninos de coro».
Não resisto. Desvio o olhar e pergunto-lhe: «e o senhor foi futebolista?»
«Se eu fui futebolista? Meu irmão, eu sou o Dé, vesti o manto do Vasco da Gama e do Botafogo. Eu peguei em terra do campo e atirei aos olhos do goleiro para marcar um golo. E peguei num pouco de gramado e dei de comer uma vez ao bandeirinha. Fui expulso e rasguei o cartão vermelho!».
Tudo me parece uma caricatura, uma hipérbole. Mas a medo lá sugiro que «o futebol tem regras e sem regras nada funciona». O vulcão entra em erupção.
«Meu chapa, não foram as regras que me deram o título carioca! Que se danem as regras». Não reajo.
O jogo continua, o berreiro é insuportável. Decido sair e pergunto ao empregado se é possível virar na rua da esquerda. O homem hesita, o furioso Dé não, nunca.
«É sentido proibido mas não há problema, vai devagarzinho».
Regras? Que se danem as regras.
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