«O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer» fica o aviso: Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane. Cuidado...

Andrea Pirlo.

O tipo que gosta de produzir vinho pode entrar pela porta sempre que quiser, desde que o faça com os bons modos com que trata a bola e venha para uma bela conversa ao balcão.

As discussões sobre o Inglaterra-Itália, o melhor jogo da primeira jornada do Mundial 2014, acabaram todas nele, por aqui. Porque é impossível não se ficar rendido à classe do italiano das barbas e cabelo meio-comprido.

Um Mundial é mágico dependendo da quantidade de vezes que aparecem aqueles que só são craques de quatro em quatro anos. «Joel Campbell, um deles!», atira um arsenalista, «orgulhoso» por Wenger o ter emprestado ao Olympiakos.

Campbell, 21 anos, tem toda uma carreira pela frente. Pirlo, já o declarou, vai acabar o percurso na seleção no último jogo que a Itália fizer nesta Copa 2014.

E é impossível não sentir saudades do homem que joga como se estivesse a provar o vinho lá da quinta dele.



«Para mim, foi a melhor exibição individual até agora [o agora é o final da Bélgica-Argélia]», digo, enquanto deslizo uma cerveja pelo balcão.

Prontamente, um tipo aqui ao lado respondeu com Thomas Müller, enquanto o gunner sublinhava o costa-riquenho. Certo, certo, mas nenhum deles [o alemão por razões óbvias] me fez soltar interjeições [já agora, e não me lembro onde li isto, porque raio as interjeições ou são religiosas ou…asneira?] de admiração como Andrea.

Porque no fundo, eu olho para Pirlo e gostava de ser como ele. E nem me refiro a ser jogador profissional. Ser como ele num qualquer campo, num jogo de amigos. Ser o tipo mais inteligente, o que raramente falha um passe ou tem uma má decisão. Alguém que entusiasma sem sair do mesmo sítio, que encanta com um só toque.

Enfim, um jogador velho com tudo o que isso tem de bom.

Porque pode ser-se um barrigudo como eu e numa correria de miúdos ditar tempos, ser a peça fundamental, aquele que todos procuram para dar a bola, seja num sete para sete ou five-a-side. E depois sair dali e ir beber um copo. 

Para isso, é preciso ver Pirlo. Aprender com ele. E imitá-lo. À escala, evidentemente. Ser como Joel Campbell é impossível para nós, os barrigudos, devido a toda aquela velocidade. Mas Pirlo não, Pirlo aparenta estar ali, perto de nós, pela simplicidade que tem, pelo ritmo que dá à bola e menos às pernas, a mandar os outros correr. Aliás, ele já faz isso há anos, mesmo quando o Inter o emprestou ao Brescia de onde tinha vindo. Ou seja, Pirlo já tinha coisas de velho mesmo antes de o ser.

Por isso, se um dia Andrea entrar pela porta do bar, vou pedir-lhe com os mesmos modos com que ele trata a bola se o posso tentar imitar, dizer que quero ser velho como ele, seja num qualquer sete para sete ou num cinco para cinco.

E se ele disser que não, lá terei de resignar-me e tentar fazer de Roberto Baggio…


 
«O meu pub em Hammersmith» é um espaço fictício e de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter