«O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer» fica o aviso: Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane. Cuidado...

A seleção inglesa em Portugal e as mentes dos adeptos britânicos nos clubes. O Mundial 2014 ainda está relativamente longe para alimentar as conversas. A não ser para recordar a paródia que é «Mike Bassett: England Manager», de cada vez que algum inglês se lembra de que este Campeonato do Mundo é no Brasil.

Cinema à parte, oiço compilações de listas de reforços e dispensas. E queixas. Desde o adepto do West Ham que espera mesmo que Sam Allardyce tenha um futebol mais atrativo, ou até os do Chelsea. Um deles recorda um problema comum a todo o futebol inglês e em particular dos «blues».

«Da formação, só temos John Terry. O Manchester United lança regularmente jovens na equipa principal. É expectável que o faça de novo com Van Gaal. Mourinho devia olhar para os miúdos que foram campeões sub-21 e envolvê-los de forma mais séria.»

Qualquer adepto português se podia rever nesta conversa. Até nos argumentos contrários.

«E quantos tem o Manchester City? Micah Richards! O que nem é comparável com Terry, convenhamos. Eu quero é vencer, se for com rapazes da formação, melhor. Se não, não me importa. Alguma vez festejaríamos três campeonatos na era Abramovich se não comprássemos jogadores? E uma Liga dos Campeões e uma Liga Europa?»

É verdade que a época do Atl. Madrid põe em causa o peso do dinheiro no sucesso. A do Liverpool também. Pelo menos em relação ao Chelsea. «O problema dos milhões de Abramovich, do
sheik Mansour ou dos catarenses do PSG é que eles criam ídolos ilusórios muitas vezes», responde um adepto do Arsenal, metido na dor dos rivais Chelsea, já depois de lhes ter atirado a FA Cup à cara contra os zero títulos de José Mourinho na temporada.

Ora, qualquer adepto português sabe o que vem a seguir. O «gunner» sublinha que sem jogadores da base não se criam afetos, os futebolistas muitas vezes não se ligam ao clube. Chegam e partem quase indiferentes. Menos em Inglaterra do que em Portugal, é um facto, porque a Liga é mais ponto de passagem, enquanto a Premier um local de chegada.

«É por isso que, mesmo que se tenha escrito mil coisas sobre Ryan Giggs, Paul Scholes ou Steven Gerrard, se devem repetir os nomes até à exaustão», continuou o fã de Wenger.

Ainda que o berço lhe esteja noutro lado, Yaya Touré podia e devia ter um pouco do efeito desses grandes jogadores no Manchester City. Por que é uma grande estrela, um ídolo. Mesmo não sendo formado na casa, foi amado como tal pelos adeptos. A adopção é uma realidade no futebol moderno, como é exemplo disso Javi Garcia pelos benfiquistas ou Hulk entre portistas.

A 13 de maio, Yaya fez 31 anos. O Manchester City deu-lhe os parabéns pelo twitter e pediu aos adeptos para fazerem o mesmo. O clube ofereceu-lhe um bolo. Para Touré, via empresário, foi pouco, o que o terá deixado muito transtornado – o agente, Dimitry Seluk, até lembrou à BBC que o Anzhi ofereceu um Bugatti a Roberto Carlos num aniversário e que o problema foi os dirigentes não terem apertado a mão a Yaya. 


A questão é que a estratégia é semelhante àquela usada na época anterior e que levou a uma melhoria de contrato do costa-marfinense que confirmou: «Tudo o que Dimitry disse é verdade.»

«Chateado por só lhe terem dado um bolo no aniversário e não o terem cumprimentado? A não ser que haja mais qualquer coisa por trás, é a desculpa mais esfarrapada que ouvi», atirou um do Chelsea.

O amor à camisola já não conta para nada, como todos sabem, mas parece que agora, até o pudor se foi.

Preparem-se, está aí o mercado. E haverá desilusões.

O meu pub em Hammersmith» é um espaço fictício e de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.