«O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer» fica o aviso: Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane. Cuidado... 

Depois de uma jornada de Premier League no fim de semana, encheram-me o bar uns americanos que ficaram por cá mais uns dias. Vieram a Londres ver os Dallas Cowboys e os Jaguars, de Jacksonville, Florida, o terceiro estado com mais equipas de ligas profissionais. Começámos a falar de política, das eleições lá, dos aviões russos por cá...e eu a evitar os texanos, republicanos por natureza, e com opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Quando a conversa foi dar aos Bulls, felizmente, fiquei apenas com os floridianos.

Estes tipos de Jacksonville podem estar mais perto de Orlando do que de Miami, mas o currículo dos Heat fazem deles a equipa mais titulada do estado, na NBA. Esclarecido, portanto, a simpatia deles e o olhar de desprezo para este lado do balcão.

 - Pfft, com que então és fã dos Bulls?

Tocaram num dos meus pontos fracos.

Atirei-lhes: « Qualquer adepto de Chicago está esperançado para a temporada e os primeiros jogos confirmam que há razões para isso. Não é só o regresso da grande estrela que é Derrick Rose. Vejam os outros ingredientes…»



Há muita coisa a jogar a favor dos Bulls no Este. Mas comecemos por uma menos óbvia:

« Cleveland…» (só para deixar fãs de Miami em alerta).

Os Cavs são um ponto mais ou menos em comum entre os Bulls, digamos, de Derrick Rose, e aqueles que eram de Michael Jordan. Claro que o que fica são os seis títulos da dinastia de His Airness, mas o caminho para eles foi árduo. Só ao fim de alguns anos Chicago conseguiu passar uma ronda de play-off. Precisamente, frente aos Cavaliers, em 1988 (Jordan, que chegou em 1984, precisou de marcar 50 pontos no jogo 1 e 55 no jogo 2 dessa série para, por fim, Chicago passar uma eliminatória).



Ora, estes Cavs são uma das equipas favoritas no Este, com a adição de Kevin Love à mistura de Kyrie Irving e…LeBron James.

« Nos últimos anos, Chicago não conseguiu lidar com ele. Ninguém duvida que os Bulls vão chegar aos playoffs. Bater LeBron é um dos desafios [para já, 1-0 para a Superstar de Cleveland na temporada], é algo que tem de alimentar a equipa, tal como nos anos 90 os Celtics e os Cavs primeiro, e os Pistons depois, alimentaram Jordan e Pippen. Passar LeBron é estar mais perto do alvo, até porque me parece que os Cavs estão mais próximos da final do que os Heat.
»



Qualquer menção a King James, positiva ou não, é respondida pelos fãs de Miami com má cara. A mesma cara que Tom Thibodeau costuma pôr nos jogos. A liderança do treinador dos Bulls é, porém, um dos aspetos mais relevantes nas previsões de uma boa temporada.

« Ele não facilita e começou logo no jogo inaugural. Thibodeau sabe o que quer e coloca os jogadores no limite. Frente aos Knicks, no quarto período e com a diferença acima dos 30 pontos a favor dos Bulls, irritou-se por causa de uma transição defensiva a passo…Para além da atitude, da liderança, o Head Coach conseguiu levar a equipa aos playoffs em anos anteriores apesar das lesões no grupo. No banco, os Bulls têm um dos melhores da Liga e a prova disso é que, entre os treinadores que nunca foram campeões, Thiboudeau é o que tem a melhor percentagem de vitórias.»

Nem foi preciso sair do banco para continuar a minha argumentação. O novo banco, claro, Mirotic, McDermott, Brooks, e o velho Taj Gibson. « Para se ter uma ideia, nos oito jogos feitos na temporada, o banco de Chicago só por duas vezes ficou abaixo dos 30 pontos: apontou 22 no último encontro, frente aos Pistons; fez 11 frente aos Bucks. Curiosamente, as únicas duas vezes que Derrick Rose jogou mais de 30 minutos. Quanto mais tempo a estrela estiver em campo, menos lá estarão os suplentes…mas já mostraram que respondem na ausência de alguém do cinco inicial.»

O sonho de Chicago alimenta-se também de Gasol. « É discutível se Pau é o melhor dos irmãos atualmente. É indiscutível, porém, que tem mais experiência que Marc, sustentada em anéis de campeão, e agora ao serviço dos Bulls.
»



O espanhol traz pontos e assistências, é mais opção do que o antecessor Boozer. E se o juntarmos a Noah (melhor jogador defensivo da época passada) e a um Derrick Rose sem lesões, os Bulls nunca pareceram ter um cinco inicial tão promissor nos últimos anos, ainda que a luta nas tabelas, no geral, tenha de melhorar: « A estatística não mente, e apesar das 6 vitórias em 8 jogos, Chicago tem perdido quase sempre nesse aspeto. Aliás, os números dos 8 encontros mostram que ganhou 340 ressaltos e permitiu que os adversários ganhassem 363 nas duas tabelas. No entanto, a equipa tem sido conhecida nas últimas épocas pelo modo agressivo como defende e Thibodeau vai arranjar maneira de lidar com os ressaltos. Com Rose a voltar, no último jogo, a uma exibição de grande estrela da NBA, há por onde crescer e crer! Ainda que o fator LeBron seja importante, não vejo ninguém no Este com melhores argumentos do que os Bulls

- Isso é tudo muito bonito, mas espera até encontrarem San Antonio na final…

De facto, bater os Spurs é outra conversa… Porque raio aparece sempre um texano que se mete nos assuntos dos outros?