Texto da autoria do jornalista Paulo Pedrosa, publicado no Maisfutebol por ocasião dos 40 anos

Em criança, José Mourinho viveu rodeado de amigos. Apesar da personalidade vincada, o actual treinador do F.C. Porto respeitava as instruções dos pais cordialmente. Mas na rua não virava a cara à luta, razão pela qual conseguiu partir dois braços em pouco tempo. Gostava de liderar e tinha a mania da organização. Maria Júlia diz que o filho continua a ser no F.C. Porto aquilo que era mais novo.

«Tinha muitos amigos», atira prontamente Maria Júlia. «Ele fazia amigos com a maior das facilidades. Era muito comunicativo e amigo do seu amigo. Gostava de chefiar o grupo, era muito ordenado e arrumado», define a mãe. «Com cinco anos, na escola, ele não saía enquanto não tivesse o estojo arrumado, com os lápis e as borrachas no lugar. Ainda hoje é assim, organizado», conta.

Nada por acaso

Maria Júlia caracteriza José Mourinho como uma pessoa metódica. «Não faz nada ao acaso. Tudo é programado. Ele sabe aquilo que faz. E só se mete numa coisa se sabe que vai sair bem. Desde miúdo era sempre o líder do grupo. Impunha as regras dos jogos e não queria perder», recorda.

Félix Mourinho, o pai, diz que era uma criança naturalmente mimada devido a uma intervenção cirúrgica que realizou com poucos anos de vida. «Foi um pouco mimado», confessa. «Era uma mão por baixo e outra por cima. Até aos 10 anos era um menino pequenino, depois é que começou a desenvolver-se normalmente. Gostava de sair com os amigos, mas o horário que a mãe lhe impunha, ele cumpria. Aconteceu muitas vezes a mão colocar-lhe um horário, ele chegava a casa à hora e a mãe dizia-lhe para ir mais um bocadinho.»

Dois braços partidos

José Mourinho cumpria estritamente os pedidos que Maria Júlia lhe fazia. «O treinador das escolas do Belenenses mandava o Zé para a baliza certas vezes. E parece que ele até tinha jeito, mas não queria. ¿Não posso. A minha mãe está aí e se vê depois não me deixa vir mais.¿, dizia. Não gostava que fosse guarda-redes porque era o lugar onde se magoavam seriamente», explica a mãe do técnico.

Ainda assim, José Mourinho também era rapaz para fazer das suas. Maria Júlia conta ao Maisfutebol uma das vezes em que o técnico do F.C. Porto não conseguiu resistir a uma desafio de futebol: «Ele estava nos juniores do Belenenses. Partiu um braço num jogo. Quando foi para o liceu estavam a jogar à bola e desafiaram-no. O Zé Mário foi jogar outra vez, partiu o outro braço. Ficou engessado, com as duas asas abertas. Foi para o hospital e não me disse nada. Soube tudo por uma amiga. Quando chego lá para ver como estava, já vinha com o médico, as lágrimas nos olhos e os dois braços no ar».