Dívidas e mais dívidas, instabilidade diretiva, um plantel depauperado e péssimos resultados desportivos. É este o cenário atual do Valência, equipa onde atuam os portugueses João Pereira, Ricardo Costa e Hélder Postiga. Décimo classificado na liga espanhola, perdeu os últimos três jogos e está mais perto da zona de descida do que dos lugares europeus. O técnico Mirolsav Djukic está a ser muito contestado e o mais certo é que seja substituído rapidamente.

O sérvio, histórico jogador do clube e até agora figura quase incontestada entre os adeptos, não desiste, diz que ainda se sente «com força», apesar da equipa estar «muito triste» com os recentes resultados, nomeadamente após a derrota com o Almeria, o último classificado do campeonato. Djukic não esconde que a situação do clube é «muito grave», mas deverá voltar a sentar-se no banco no próximo fim-de-semana para enfrentar o Getafe. Será a derradeira oportunidade para dar um pontapé na crise.

Enquanto a equipa se desmorona, o presidente Amadeo Salvo está na China a tentar encontrar investidores para a conclusão da construção do novo estádio Mestalla, um sorvedouro de dinheiro que ameaça levar o clube à falência. Também o diretor desportivo, Braulio Vásquez, tem sido contestado devido à política de contratações (um dos jogadores que entrou este ano foi Hélder Postiga) e poderá estar de saída.

Resultados deploráveis
A equipa só conseguiu somar treze pontos nas primeiras onze jornadas do campeonato, naquele que é o pior arranque dos últimos catorze anos. E se os resultados são maus, as exibições não são melhores, podendo destacar-se apenas alguns jogos realizados em setemebro, nomeadamente a vitória caseira sobre o Sevilha (3-1). As derrotas com a Real Sociedade, Villarreal e Almeria (duas delas em casa), adversários diretos pelos lugares europeus, são evidência da impotência desta equipa.

Essa outra época igualmente má aconteceu em 1999/2000, com Héctor Cúper no banco e um arranque de Liga em que somou onze pontos com o mesmo número de jogos, mas com menos seis golos sofridos do que este ano. Esse péssimo início de campeonato não impediu a equipa de alcançar o terceiro lugar, apurando-se para a Liga dos Campeões, onde acabaria por ser finalista.

É um facto que o fracasso pontual nesta altura da época não é sinónimo automático de fracasso, até porque a Real Sociedad no ano passado encontrava-se na mesma situação e agora está na Liga dos Campeões. A recuperação é possível, mas o Valência ainda só defrontou um dos três candidatos ao título (o Barcelona) e terá de jogar contra Atlético de Madrid e Real Madrid. Por outro lado, jogou com três das equipas que estão na zona de relegação, perdendo com duas delas (Almeria e Bétis) e sofrendo para vencer a outra no Mestalla (Rayo Vallecano, 1-0).

Para além dos números, a equipa ainda não conseguiu encontrar um modelo de jogo, não tem um onze base definido, o plantel apresenta poucas soluções para a defesa e tem demasiados médios. Está muito longe dos anos de glória e cada vez mais perto do abismo.

Intermitências lusas

Os portugueses vão conquistando o seu espaço, num plantel com falta de qualidade. João Pereira é titularissimo, mas agora vai parar duas semanas devido a lesão. Na sua segunda época no clube, o lateral-direito ainda não tinha falhado um jogo no campeonato, embora tenha sido pouco utilizado na Liga Europa. Foi substituído apenas duas vezes e viu três cartões amarelos.

Titularíssimo e «capitão» de equipa, Ricardo Costa está há quatro épocas em Valência. Viveu altos e baixos, mas deu sempre a cara, como neste fim-de-semana, quando disse que se a equipa continuar a jogar assim vai descer de divisão. A nível pessoal as coisas estão a correr-lhe bem, pois já marcou quatro golos, um deles na Liga Europa (Málaga, Bétis, St. Gallen e Villarreal).

Hélder Postiga é a grande surpresa lusa este ano. Depois de duas épocas no Saragoça, a descida de divisão não lhe fechou portas e acabaria por transferir-se para Valência. O titular da Seleção Nacional teve um bom arranque de temporada, com três golos nos primeiros três jogos, mas não marca desde 1 de setembro e nos últimos desafios tem sido muitas vezes suplente.